"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de novembro de 2015

NO PAÍS DAS MENTIRAS E DAS PROMESSAS




O Brasil se transformou no país das promessas — todas não cumpridas, ressalte-se. Do governo ao Congresso, não há economia quando o assunto é ludibriar a população. Promete-se qualquer coisa, pois se sabe que, na hora da prestação de contas, basta apresentar uma desculpa esfarrapada para justificar o fracasso e tudo estará resolvido. Os brasileiros já se acostumaram em ser enganados. Virou rotina. Não há por que se rebelar diante de tanto descaramento.
Temos sido pródigos em promessas. No Banco Central, por exemplo, segundo o diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, a instituição levará a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2017. Justificativas não faltam para sustentar o compromisso: o desemprego maior derrubará os preços dos serviços, não haverá tanto aumento de tarifas públicas, o dólar tenderá a se acomodar e, claro, o governo fará um ajuste fiscal consistente.
Acontece que desde o início do primeiro governo Dilma o BC vem prometendo entregar a inflação na meta. Nunca conseguiu. O compromisso mais recente era de chegar aos 4,5% no fim de 2016. Mas, como das vezes anteriores, foi obrigado a adiar o prazo. Infelizmente, segundo a diretoria da autoridade monetária, o dever de casa foi feito, com os juros chegando a 14,25% ao ano, os maiores desde 2006, mas fatores externos inviabilizaram a promessa. Agora, porém, não haverá falhas.
BELAS PALAVRAS…
Não se pode negar que o discurso do BC soa bonito. Pena que entre as palavras e a realidade haja uma distância enorme. É por isso que a instituição já não consegue mais controlar as expectativas do mercado. Todas as projeções para o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) até 2017 mostram índices bem distantes do centro da meta. Como o BC não consegue dizer o que será amanhã, fica difícil prever como estará o Brasil daqui a dois anos.
O deputado Acir Gurgacz (PDT-RO) é outro exemplo. Assegura que entregará um Orçamento sem ficção para 2016. Basta, porém, ouvir as primeiras declarações do parlamentar para constatar que ele vive no mundo da lua e está jogando para a plateia, ou melhor, jogando para o governo, que entregou o Ministério das Comunicações ao partido dele em troca de votos.
Gurgacz conseguiu a proeza de ampliar em R$ 39 bilhões as receitas previstas no projeto encaminhado ao Congresso pelo Planalto. A promessa, disse ele, é de o governo embolsar R$ 12,5 bilhões com concessões, R$ 11 bilhões com a repatriação de recursos enviados ilegalmente ao exterior, R$ 2,3 bilhões com a venda de ações da Caixa Seguridade e outros tantos bilhões de reais com projetos que não mostram qualquer consistência. A fartura de recursos será tanta, deixou claro o parlamentar, que o governo poderá abrir mão da ressurreição da CPMF e de elevar tributos como a Cide, que incide sobre os combustíveis.
LEVY DELIRA
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, resolveu entrar no jogo. Justo ele, que não entregou nada do que prometeu desde que chegou ao governo. Segundo Levy, bastará o ajuste fiscal ser aprovado para o Brasil sair rapidamente da recessão. O chefe da equipe econômica repete o mesmo discurso da sua posse, quando prometeu uma arrumação rápida e profunda das contas públicas. A meta era entregar superavit primário (economia para pagamento de juros da dívida) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), com crescimento econômico já no segundo semestre de 2015.
A realidade, contudo, é cruel. O superavit se transformou em rombo de 2% do PIB e o país encerrará o ano com retração de 3%. A recuperação não virá nem em 2016. O PIB deverá cair mais 2%. E não será por causa do arrocho, caso venha a acontecer, como dizem alguns economistas. A atividade tombará porque ninguém confia no governo. Nem os empresários nem os consumidores.

21 de novembro de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense

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