Com base na posição agora assumida pelo deputado Eduardo Cunha, reportagem de Débora Alves e Ranier Bragon, Folha de São Paulo de quinta-feira, o vento político levou para longe quaisquer perspectiva de impeachment da presidente Dilma Rousseff, pois Eduardo Cunha sustentou que o tema ficou para 2016, o que, em linguagem brasileira, pode significar o infinito. Basta levar em conta, por analogia, o tempo que demora a tramitação definitiva das ações judiciais. Há processo cujas ações originais forma ajuizadas há vinte anos.
Mas a questão não é somente esta. É que a atmosfera em torno do impedimento evaporou-se. Perdeu o vigor e a sua projeção nas redes sociais não tem o impacto do que é publicado diariamente nos jornais. Não tem o mesmo impacto porque – um debate adicional importante – os jornais abrem para os leitores espaços e conteúdos convergentes em suas edições. Visão lateral simultânea. As telas dos computadores não possuem a mesma dimensão. Não apresentam páginas duplas, como acontece na imprensa. Mas esta é outra questão.
O essencial é que o movimento no sentido do impeachment perdeu o vigor e a oportunidade. Para tal desfecho, pelo menos na fase que o Brasil atravessa, foi importante a recente declaração do ministro Ricardo Lewandowski, publicada na FSP e por mim comentada neste site, que, felizmente, apresenta a cada dia número maior de leitores.
Perdeu a velocidade porque, em política, além dos fatos, tem que se medir a sua intensidade e veracidade. Se os fatos não recebem a adição de outros impulsos em sequência, os movimentos em torno deles tem sua intensidade reduzida. Como a expressão que atravessa o tempo, começam a ser colocados algodões entre os cristais. Porque, também sob este ângulo, os fatos necessitam atmosferas que ampliem ou reduzam sua dimensão.
CONTRADIÇÕES
As contradições que envolvem as perspectivas de impedimento são múltiplas: o que interessa ao PMDB não interessa ao PSDB. As posições contra o atual governo são divergentes. O próprio PMDB encontra-se fracionado. Essa realidade anula qualquer voo no sentido de uma ruptura institucional. Anula ainda mais a tese da intervenção militar levantada por uma minoria de setores radicais. Minoria que parece não levar em consideração os 21 anos de ditadura que marcam para sempre na história os governos que dominaram o país de 64 a 85. Rejeitados pela opinião pública, como ficou demonstrado no monumental comício pelas edições diretas na avenida Presidente Vargas, em 1984: reuniu um milhão de pessoas.
E – aí é que está – um milhão de pessoas arrebatadas pela emoção de irem em busca da democracia e da liberdade. Exemplo fundamental quanto ao poder do clima e da intensidade da emoção. Não ocorrem o mesmo entusiasmo e a mesma emoção pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. E a perspectiva desperta dúvidas naturais e legítimas sobre qual poderia ser o final da ópera. A reportagem de Débora Álvares e Ranier Bragon refletiu nitidamente o esfriamento do tema e sua não aceitação pela sociedade, pela população.
E sem respaldo da opinião pública nenhum impacto político alcança êxito. Portanto, em matéria de impeachment, o vento levou. Para longe. A grande maioria condena maciçamente o governo. Mas teme a queda de Dilma Rousseff.
21 de novembro de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário