Do festival de baixarias encenado na Câmara esta semana, em especial quinta-feira, sobressai o comportamento da bancada do PT. Negativamente, é claro. Como entender que depois de um mês guerreando Eduardo Cunha, os companheiros se tenham transformado em linha auxiliar do presidente dos deputados? Com raras exceções, faltaram à sessão iniciada pela manhã, visando não dar número no Conselho de Ética, ajudando a protelar o início do processo contra o parlamentar fluminense. Um desabafo proveniente de diversas gargantas oposicionistas fazia-se ouvir de quando em quando: “Onde anda o PT?”
O gato comeu. Melhor dizendo, cumprindo ordens do palácio do Planalto, o partido integrou-se na missão impossível de salvar Eduardo Cunha. Por quê? Por ser verdadeiro o abominável acordo da presidente Dilma com o singular personagem hoje empenhado em evitar sua condenação por quebra de decoro. O governo tenta garantir o mandato dele, Madame, de seu turno, vê engavetado o pedido de impeachment apresentado por antigo fundador do Partido dos Trabalhadores. Um acordo digno da quadrilha de Al Capone.
SEM DEFESA
Nem Cunha nem Dilma admitem a hipótese de defender-se das acusações, coisa que seria normal no caso de inocência. Como uma quebrou a Lei da Responsabilidade Fiscal e o outro mentiu negando possuir dinheiro no exterior, empenham-se em sepultar os julgamentos antes de iniciados. Querem chegar incólumes ao fim do ano, adquirindo o oxigênio necessário para apagar a memória nacional.
A gente pergunta como foi possível essa transfiguração da legenda que um dia imaginou-se dona da ética e da moral. A resposta surge clara: com raras exceções, venderam-se os companheiros. Trocaram o ideal de mudar o país pelas mesmas concepções e interesses que combatiam. Pior do que esquecer ou não lembrar de seus antigos propósitos é a desfaçatez com que obedecem as novas instruções. Parecem zumbis. Por certo que compensados com as benesses do poder.
UM ANUNCIANTE PERDIDO
De vez em quando é bom lembrar episódios do folclore político. O saudoso mestre Arnaldo Nogueira, pioneiro dos programas de entrevista na televisão, com o inesquecível “Falando Francamente”, nos anos cinquenta, recebia o marechal Cândido Rondon. Velhinho, quase totalmente surdo, o entrevistado mantinha a sagacidade que pautou toda sua vida. Naqueles idos o vídeo-tape não havia sido inventado, todos os programas eram ao vivo.
Como norma, no meio da entrevista, Arnaldo Nogueira fazia um intervalo, informando o convidado de que tomariam “um delicioso guaraná champagne da Antártica”, patrocinadora do programa. Nessa hora entrava no estúdio uma sestrosa mocinha de mini-saia, com taças numa bandeja de prata. Se o entrevistado queria agradar o jornalista, tomava um gole, exclamavam “que delícia” e o programa continuava.
O marechal Rondon custou a entender o intervalo,que só percebeu quando diante de uma taça de guaraná e aí surpreendeu: “Guaraná champagne da Antártica? Eu não bebo essa porcaria”. A tempo em que derramava o líquido no tapete, completou: “Só bebo guaraná ralado na língua do pirarucu!”
Desnecessário dizer que Arnaldo perdeu o patrocinador, mas essa historinha se conta a propósito da recente entrevista que o ex-presidente Lula concedeu ao competente Roberto D’Ávila. Tantas agressões fez o primeiro companheiro aos fatos que o jornalista corre o risco de perder seu patrocinador. No caso, o público admirador de sua capacidade…
21 de novembro de 2015
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário