Ruim para a China, ruim para o Brasil, uma economia dependente em excesso da prosperidade chinesa. Mais uma vez a bolsa brasileira foi abalada pela turbulência no mercado chinês. O choque espalhou-se por todos os continentes, em mais uma segunda-feira negra. Esta expressão foi usada pelo Diário do Povo, de Pequim, ao noticiar a queda de 8,49%, a maior desde 2007, do Índice Xangai Composto. Uma queda de 8,48% havia ocorrido em 27 de julho, também uma segunda-feira. Enquanto especialistas, em todo o mundo, discutem a situação da China e especulam sobre a gravidade real da crise, pelo menos uma certeza já é possível: países emergentes e em desenvolvimento, exportadores principalmente de commodities – produtos básicos e semimanufaturados –, são os principais perdedores.
Ninguém pode dizer com segurança, hoje, se a economia da China se acomodará num crescimento próximo de 6%, num patamar um pouco inferior ou mesmo se afundará numa crise mais grave, hipótese por enquanto muito improvável. Mas o Brasil e outros fornecedores de commodities para o mercado chinês já foram afetados pela baixa das cotações internacionais.
Esse movimento acompanhou a desaceleração do crescimento da China, com efeitos mais sensíveis na receita cambial desses países de um ano para cá. Para ficar só no desempenho do agronegócio: nos 12 meses até julho, a receita de exportação do setor, US$ 99,81 bilhões, foi 9,4% menor que a do período imediatamente anterior principalmente por causa da redução dos preços. Nesse intervalo, a cotação da soja em grãos caiu 21,2%; a de farelo de soja, 18,6%; a de óleo de soja, 16,3%; a de açúcar, 10,5%; a de papel e celulose, 8,7%; e as de carnes, 5,2% Os preços do minério também caíram. A queda dos preços médios foi a causa principal da redução de 21,7% da receita proporcionada pelas vendas de básicos e de 5,9% da obtida com a exportação de semimanufaturados, na comparação dos números de janeiro a julho deste ano com os de igual período do ano passado. Outros fatores também contribuíram para a baixa das cotações, mas a desaceleração chinesa foi com certeza um dos mais importantes, talvez mesmo o mais importante.
Todos os países muito dependentes da venda de minérios e de produtos agrícolas foram prejudicados pela mudança das condições do mercado e, de modo especial, pelo menor dinamismo da economia chinesa. As vendas do Brasil para a China ficaram em US$ 22,68 bilhões de janeiro a junho deste ano. Esse valor foi 19,4% menor que o dos mesmos meses de 2014.
A composição das vendas para o mercado chinês é esclarecedora. No ano passado, o Brasil faturou US$ 40,62 bilhões no comércio com a China e os produtos básicos proporcionaram 84,42% desse valor. Somando-se a isso a receita dos semimanufaturados, as vendas de commodities garantiram 95,92% do valor exportado. Sobraram, portanto, apenas 4,08% da conta de manufaturados: apenas US$ 1,62 bilhão.
Neste ano, o padrão se repete, mas com um volume de comércio menor. De janeiro a julho, as vendas de básicos corresponderam a 85,11% da receita e a de commodities (incluídos os semimanufaturados), a 96,69% do total faturado.
Pelo menos um analista estrangeiro, o economista Oleg Melentyev, do Deutsche Bank, chamou a atenção, na segunda-feira, para o problema dos emergentes afetados pela desaceleração chinesa e pela depreciação das commodities.
Governantes mais atentos perceberam a urgência de mudanças na composição das exportações e, de modo especial, na relação de dependência com a China. O governo brasileiro, no entanto, continua dando prioridade, oficialmente, ao chamado comércio Sul-Sul e dando pouca importância, na prática, aos problemas de produtividade e de competitividade da indústria.
A presidente Dilma Rousseff, tudo indica, permanece fiel às escolhas da diplomacia petista, incluída a relação semicolonial com a China.
04 de setembro de 2015
Editorial d'O Estadão
Ninguém pode dizer com segurança, hoje, se a economia da China se acomodará num crescimento próximo de 6%, num patamar um pouco inferior ou mesmo se afundará numa crise mais grave, hipótese por enquanto muito improvável. Mas o Brasil e outros fornecedores de commodities para o mercado chinês já foram afetados pela baixa das cotações internacionais.
Esse movimento acompanhou a desaceleração do crescimento da China, com efeitos mais sensíveis na receita cambial desses países de um ano para cá. Para ficar só no desempenho do agronegócio: nos 12 meses até julho, a receita de exportação do setor, US$ 99,81 bilhões, foi 9,4% menor que a do período imediatamente anterior principalmente por causa da redução dos preços. Nesse intervalo, a cotação da soja em grãos caiu 21,2%; a de farelo de soja, 18,6%; a de óleo de soja, 16,3%; a de açúcar, 10,5%; a de papel e celulose, 8,7%; e as de carnes, 5,2% Os preços do minério também caíram. A queda dos preços médios foi a causa principal da redução de 21,7% da receita proporcionada pelas vendas de básicos e de 5,9% da obtida com a exportação de semimanufaturados, na comparação dos números de janeiro a julho deste ano com os de igual período do ano passado. Outros fatores também contribuíram para a baixa das cotações, mas a desaceleração chinesa foi com certeza um dos mais importantes, talvez mesmo o mais importante.
Todos os países muito dependentes da venda de minérios e de produtos agrícolas foram prejudicados pela mudança das condições do mercado e, de modo especial, pelo menor dinamismo da economia chinesa. As vendas do Brasil para a China ficaram em US$ 22,68 bilhões de janeiro a junho deste ano. Esse valor foi 19,4% menor que o dos mesmos meses de 2014.
A composição das vendas para o mercado chinês é esclarecedora. No ano passado, o Brasil faturou US$ 40,62 bilhões no comércio com a China e os produtos básicos proporcionaram 84,42% desse valor. Somando-se a isso a receita dos semimanufaturados, as vendas de commodities garantiram 95,92% do valor exportado. Sobraram, portanto, apenas 4,08% da conta de manufaturados: apenas US$ 1,62 bilhão.
Neste ano, o padrão se repete, mas com um volume de comércio menor. De janeiro a julho, as vendas de básicos corresponderam a 85,11% da receita e a de commodities (incluídos os semimanufaturados), a 96,69% do total faturado.
Pelo menos um analista estrangeiro, o economista Oleg Melentyev, do Deutsche Bank, chamou a atenção, na segunda-feira, para o problema dos emergentes afetados pela desaceleração chinesa e pela depreciação das commodities.
Governantes mais atentos perceberam a urgência de mudanças na composição das exportações e, de modo especial, na relação de dependência com a China. O governo brasileiro, no entanto, continua dando prioridade, oficialmente, ao chamado comércio Sul-Sul e dando pouca importância, na prática, aos problemas de produtividade e de competitividade da indústria.
A presidente Dilma Rousseff, tudo indica, permanece fiel às escolhas da diplomacia petista, incluída a relação semicolonial com a China.
04 de setembro de 2015
Editorial d'O Estadão
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