Na terceira manifestação, este ano, contra a presidente Dilma e PT, o governo demonstrou ter melhorado pelo menos na comunicação. Ao contrário da desastrosa entrevista concedida na noite do domingo 15 de março, pelos ministros Miguel Rosseto e José Eduardo Cardozo, logo depois de, segundo dados das PMs, 2,4 milhões de pessoas terem ido às ruas pelo país afora, o comentário oficial, desta vez, foi em tom adequado.
Em entrevista coletiva concedida ontem, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, repetiu a linha do curto comentário que distribuira no domingo, no início da noite, por rede social: tudo é parte da “normalidade democrática”. É certo, mesmo que haja nessas manifestações frações que se coloquem contra ela — assim como também acontece em mobilizações a favor de Dilma e PT.
Entre governistas, foi possível notar algum alívio com a constatação de que o 16 de agosto e seus estimados quase 880 mil manifestantes ficaram aquém do 15 de março, embora tenha atraído mais gente que em 12 de abril.
Mas passou a ser inócuo este tipo de avaliação estatística das mobilizações antigoverno e PT. A grande impopularidade da presidente é um dado da crise política, e não seria o número de pessoas nas ruas e avenidas de domingo que iria alterá-lo. Poderia agravá-lo, caso a mobilização ultrapassasse os quase 2,5 milhões de março. E não é sempre, por motivação político-partidária, que multidões como a de domingo decidem se expressar.
A questão política ultrapassou a importância do confronto numérico entre passeatas. Muito mais que isso, chama atenção que a terceira manifestação contra o governo e PT tenha ajustado o foco. Além de Dilma e do partido, o ex-presidente Lula entrou na zona de tiro dos protestos, tudo indica como reflexo do fato de ele começar a ser citado na esteira das investigações da Operação Lava-Jato e suas inúmeras etapas — as quais, pelo jeito, ainda não se esgotaram.
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É como se o ex-presidente fosse retirado do altar de “líder popular”, do qual pôde observar de altura segura todo o desenrolar do escândalo do mensalão, até o julgamento e condenação de petistas ilustres e próximos a ele. Isso mudou com a Lava-Jato e as evidências de sua extrema proximidade de empreiteiras envolvidas no petrolão, junto às quais abiscoitou alguns milhões em alegadas palestras.
O forte símbolo dessa dessacralização de Lula apareceu no domingo, em Brasília, na forma de um enorme boneco inflável do ex-presidente caracterizado de prisioneiro, com sugestivos números numa placa ao peito: 13, do PT, e 171, artigo do Código Penal que qualifica o estelionatário.
Coerente com tudo isso, o outro personagem deste domingo, oposto a Lula, foi o juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato, símbolo do combate à corrupção. Se o PT for analisar o domingo por este ângulo, concordará que nada significa que menos pessoas tenham se mobilizado em relação a março.
18 de agosto de 2015
O Globo
Em entrevista coletiva concedida ontem, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, repetiu a linha do curto comentário que distribuira no domingo, no início da noite, por rede social: tudo é parte da “normalidade democrática”. É certo, mesmo que haja nessas manifestações frações que se coloquem contra ela — assim como também acontece em mobilizações a favor de Dilma e PT.
Entre governistas, foi possível notar algum alívio com a constatação de que o 16 de agosto e seus estimados quase 880 mil manifestantes ficaram aquém do 15 de março, embora tenha atraído mais gente que em 12 de abril.
Mas passou a ser inócuo este tipo de avaliação estatística das mobilizações antigoverno e PT. A grande impopularidade da presidente é um dado da crise política, e não seria o número de pessoas nas ruas e avenidas de domingo que iria alterá-lo. Poderia agravá-lo, caso a mobilização ultrapassasse os quase 2,5 milhões de março. E não é sempre, por motivação político-partidária, que multidões como a de domingo decidem se expressar.
A questão política ultrapassou a importância do confronto numérico entre passeatas. Muito mais que isso, chama atenção que a terceira manifestação contra o governo e PT tenha ajustado o foco. Além de Dilma e do partido, o ex-presidente Lula entrou na zona de tiro dos protestos, tudo indica como reflexo do fato de ele começar a ser citado na esteira das investigações da Operação Lava-Jato e suas inúmeras etapas — as quais, pelo jeito, ainda não se esgotaram.
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É como se o ex-presidente fosse retirado do altar de “líder popular”, do qual pôde observar de altura segura todo o desenrolar do escândalo do mensalão, até o julgamento e condenação de petistas ilustres e próximos a ele. Isso mudou com a Lava-Jato e as evidências de sua extrema proximidade de empreiteiras envolvidas no petrolão, junto às quais abiscoitou alguns milhões em alegadas palestras.
O forte símbolo dessa dessacralização de Lula apareceu no domingo, em Brasília, na forma de um enorme boneco inflável do ex-presidente caracterizado de prisioneiro, com sugestivos números numa placa ao peito: 13, do PT, e 171, artigo do Código Penal que qualifica o estelionatário.
Coerente com tudo isso, o outro personagem deste domingo, oposto a Lula, foi o juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato, símbolo do combate à corrupção. Se o PT for analisar o domingo por este ângulo, concordará que nada significa que menos pessoas tenham se mobilizado em relação a março.
18 de agosto de 2015
O Globo
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