"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

DR.ULYSSES: REFLEXÕES VADIAS...

NOTA AO PÉ DO VÍDEO-ENTREVISTA DO DR.ULYSSES

Se vivo estivesse hoje o Dr. Ulysses Guimarães, seu discurso, sem tirar nem por uma vírgula, seria o mesmo...
Mas o inacreditável é ouvir o deputado Ulysses 23 anos depois, tratar o passado como se estivesse se reportando aos dias de  hoje!
E nunca ouvi dizer que o deputado tivesse uma bolinha de cristal...
Entre outras coisas, o Dr. Ulysses fala do parlamentarismo, e claro, da cidadania.
Sempre me pergunto: afinal, quem é o cidadão brasileiro? Qual a sua cara? Que papel tem representado na História do Brasil?
O cidadão brasileiro é um enigma, capaz de surpreender qualquer analista que se aventure a definir o seu perfil. 
De memória, sei que foi capaz de eleger Fernando Collor, Lula, Dilma... Figuras recentes do cenário político, e que representantes de mandatos desastrados, ou desastrosos, que se podem afirmar danosos, lá chegaram com a força democrática desse enigma que é o cidadão brasileiro.
Agora, nessa gigantesca manifestação do 16 de agosto, que gosto de chamar "dia da cidadania", não consegui enxergar o que costumeiramente se chamava de povão (hoje politicamente incorreto...), batizada de classe C emergente. 
O que vi foi a classe média, já não sei mais que letra do alfabeto classificá-la, mas facilmente identificada pelas camisas e bermudas de griffe, com seus filhos bem vestidos e coisa e tal, com bandeirolas e outros apetrechos críticos...
Mas não consegui distinguir na multidão, o cidadão pobre (sejamos realistas), que mais do que a tal classe média sem classificação alfabética, lá deveria estar para reclamar do seu quinhão, pois já que a farinha é pouca, meu pirão primeiro...
Entre majestosas faixas e bandeiras sumiu o pobre.
Daí porque, sempre me interrogo, quando ouço falar no tal cidadão. Já foi chamado de homem cordial, de multidão, de povão, mas nada que realmente me diga quem é esse tal cidadão...
Ouvindo o Dr. Ulysses falar de cidadania, tenho a estranha sensação de que no país em que vivo, muitas e tantas vezes chamado de Banânia, ou Pindorama, tenho medo de que esse tal cidadão seja mais uma das utopias, das tantas que sempre nos ameaçam.
Novamente, temos o ilustre Senador Collor, que retornou a política nos braços do tal cidadão, novamente pescado pela operação Lava Jato. Lula também retornou para o seu segundo mandato e enriquecimento pessoal.
Quando penso na vastidão desse território, com culturas tão diversificadas, da culinária ao regionalismo linguageiro. Nordestinos e gaúchos, cidadãos antípodas, habitantes de planetas diferentes, herdeiros de colonizações tão desiguais, desenhados etnicamente opostos, pólos culturais diametralmente colocados. E sobretudo, histórias diferentes... Aí está a Guerra de Canudos, aí esta Ariano Suassuna com o seu romance A Pedra do Reino... Os Sertões... A Guerra do fim do mundo (de Mario Vargas Lhosa).
Como traçar o perfil político desse cidadão?
Preocupações, necessidades ambientais, clima, quantas diferenças!
Imagino o trabalho hercúleo de algum político ou sociólogo que se aventurasse a tal empreitada. Coisa de Estadista...
Unidade física, geográfica, a grande herança portuguesa; mas unidade cultural... 
E assim, se vai escrevendo a nossa história, ou as nossas histórias, sem que alguma celebridade se interesse de fato em dar educação, saúde, dignidade a esse tal cidadão que está sempre a um passo de adquirir a verdadeira cidadania, através de políticas públicas, que verdadeiramente representassem distribuição de renda, e não manipulação de eleitores.
Buscar uma unidade política que culturalmente desenhasse o perfil do cidadão brasileiro, é uma utopia, uma impropriedade pelo próprio processo político e econômico que organizou socialmente as diversas regiões desse continente.
Mas se tal acontecesse, o tão falado cidadão brasileiro ganharia relativa transparência e então poderíamos ter a pretensão de conhecer o que pensa, sente e de que modo age e reage o enigmático cidadão.

Bem, sorria, você está sendo filmado...

m.americo

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