Fica cada vez mais clara a manobra entre a presidente Dilma Rousseff, o procurador-geral da República Rodrigo Janot e o presidente do Senado Renan Calheiros, que tem o propósito de assegurar a governabilidade, mas na verdade nada garante e apenas demonstra que o nível da política nacional já atingiu o chamado volume morto e se aproxima do volume putrefato.
Os principais personagens da encenação não fazem nem questão de manter as aparências. Pelo contrário, fingem que está tudo certo, que não há nenhuma negociata de bastidores. É como se o senador Renan, que rompera com a presidente desde a inclusão de seu nome na lista dos envolvidos na corrupção da Petrobras e que passara a recusar os convites de reuniões com a presidente e até a humilhava, deixando de atender aos telefonemas dela, de repente tivesse mudado de ideia e reconhecido ter sido injusto com a governante. Quem é que pode acreditar numa farsa desse nível?
ADMIRADOR DE JANOT?
Ao mesmo tempo, Renan passou a ser admirador de Janot e o recebeu amistosamente nesta segunda-feira para um amistoso encontro no Senado, quando conversaram sobre amenidades e deram boas gargalhadas, como se o procurador-geral da República, em 6 de março, não tivesse imputado a Renan a prática de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Na época, o presidente do Senado respondeu com duríssimas críticas ao chefe do Ministério Público, mas agora subitamente se reconciliaram, ficaram amigos de novo. Quem pode acreditar nesse tipo de encenação?
SIGILO DE JUSTIÇA
E tudo acontece antes de se saber se Renan foi inocentado ou não no inquérito do Supremo, que corre em sigilo de Justiça. Ou seja, se houve o conluio Dilma/Janot/Renan, que está flagrante, à vista de todos, o conchavo também teria a participação do ministro Teori Zavascki, ou de algum membro de sua equipe, que antecipadamente se encarregou de revelar ao Planalto o teor do voto do relator. E quem pode acreditar em autoridades que não respeitam o sigilo de Justiça?
RELATOR SOB MEDIDA
Renan respondeu ao acordo rápido no gatilho. Designou como relator da recondução de Janot o prestativo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que decidiu acelerar o processo de escolha. No dia seguinte à indicação, já invadia as redes sociais para se dizer entusiasticamente favorável à recondução do procurador-geral. Quer dizer, antes mesmo de ter estudado o caso, o diligente relator já era a favor de Janot e dois dias depois anunciava que seu parecer está pronto para a próxima reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na quarta-feira. E quem pode acreditar nesse surto de eficiência desinteressada, numa manobra nauseabunda, que fede a quilômetros?
É triste constatar a que nível a política deste país foi relegada, por culpa única e exclusiva dos eleitores, que só sabem votar em pilantras. Já houve tempos em que a maioria dos políticos era formada de pessoas honestas, que eram de classe média e tinham problemas financeiros. Hoje, a grande maioria dos políticos é de membros da elite, enriquecidos ilicitamente, pois os fatos são públicos e notórios.
18 de agosto de 2015
Carlos Newton
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