Lula é muito mais esperto do que se pensa e tem um grupo de assessores de excelente nível. Todos eles já perceberam que a derrocada do governo e do PT é inexorável. A cada dia surgem mais denúncias de corrupção, a presidente Dilma Rousseff já começa a ser envolvida e as possibilidades de impeachment são cada vez maiores, depois que o Tribunal de Contas da União, com base em parecer de sua equipe técnica, por unanimidade decidiu enquadrá-la por crime de responsabilidade.
Em entrevista no sábado, o ministro do TCU Augusto Nardes já adiantou que a presidente Dilma poderá ser responsabilizada.
Ou seja, pode ser enquadrada em crime de responsabilidade, que é mais um motivo de afastamento, além de já estar sujeita a cassação por infringir a Lei Eleitoral, ao usar recursos ilícitos na campanha política (tese do jurista Jorge Béja, que prevê cassação sem nem precisar de impeachment) e também por infringir a Lei de Improbidade
Administrativa, ao se omitir diante do esquema de corrupção montado na Petrobras e no governo praticamente todo (tese do jurista Ives Gandra Martins).
A esperança dos assessores do Instituto Lula (Luiz Dulci, Clara Ant, Paulo Okamotto, Paulo de Tarso Vanucchi e Celso Marcondes) é o fato de que Lula ainda não foi diretamente atingido e pode tentar permanecer na política montando um esquema que recicle o que restar do PT e do PCdoB, reforçando-o com uma participação maior dos movimentos sociais (centrais, sindicatos e organizações como MST, UNE, OAB e outras mais, que já estão dominadas, como se diz no linguajar das ruas).
ESTRATÉGIA HÁBIL
Não há dúvidas de que é um plano extremamente hábil e pode garantir uma sobrevida política a Lula, que acredita em vitória na eleição de 2018, porque a crise atual é tão grave que não será solucionada até lá e ele poderá novamente se apresentar como salvador da pátria.
Para colocar em prática o esquema político da “participação social” (que recentemente o governo tentou até transformar em lei, mas a Câmara rejeitou), o Instituto Lula quer fortalecer esta estratégia, usando como ponto de partida o dispositivo constitucional que prevê a preparação do Plano Prurianual, e os movimentos sociais foram convocados para participarem.
Desta vez tudo acontece totalmente na surdina, para não despertar reação, e na semana passada o governo instalou o novo Fórum Interconselhos, que reúne mais de 30 conselhos e comissões setoriais, nos quais há grande participação do movimento sindical e de organizações da sociedade civil.
Embora teoricamente seja organizado pelo Ministério do Planejamento, na prática o macroencontro é realizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, leia-se ministro Miguel Rossetto.
TÁBUA DE SALVAÇÃO
Segundo os assessores de Lula, esta estratégia de mobilizar os movimentos sociais para ressuscitar o PT ou até mesmo criar outro partido foi a única saída encontrada para evitar que a crescente crise venha a destruir o que resta da popularidade de Lula, que não terá dúvidas de repetir as desculpas usadas no mensalão, na base do “eu não sabia de nada” e “não contavam com a minha confiança”.
Sonhar não é proibido, todos sabem. O esquema realmente é forte e viável. Mas somente será bem-sucedido se Lula não for denunciado como principal responsável pela corrupção que hoje atinge o governo, o PT, os partidos da base aliada e até mesmo alguns partidos de oposição. Tudo vai depender do silêncio de personagens como João Vaccari e André Vargas, os dois homens-bomba do momento. Vamos aguardar.
20 de abril de 2015
Carlos Newton
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