Enquanto a vara de marmelo verga sobre o lombo de corruptos e corruptores, na Polícia Federal e no Ministério Público Federal, e enquanto no PT e arredores desejam transformar Joaquim Levy em bode expiatório (se não der certo o ajuste, a culpa é de Levy…), ocupo-me de outro assunto.
Já me referi aqui a alguns ensinamentos que recebi do meu pai, que foi meu primeiro professor. Meu pai dedicou sua vida ao ensino e à educação e, claro, fez votos de pobreza. Comecei com ele, embora nem sempre lhe tenha sido fiel, a exercitar-me no que se chama “senso ético”. Sem este, a erudição ou a cultura valem pouco.
Já me referi aqui a alguns ensinamentos que recebi do meu pai, que foi meu primeiro professor. Meu pai dedicou sua vida ao ensino e à educação e, claro, fez votos de pobreza. Comecei com ele, embora nem sempre lhe tenha sido fiel, a exercitar-me no que se chama “senso ético”. Sem este, a erudição ou a cultura valem pouco.
A propósito, quando prestei vestibular para a Faculdade de Direito da UFMG, deparei-me, na prova de redação, com o difícil tema “A alma de toda a cultura é a cultura da alma”, que nunca soube a quem creditar – se ao professor responsável pela prova, de cujo nome não me lembro, ou se a um dos nossos clássicos. Afinal, já se foi mais de meio século, numa velocidade vertiginosa, e da qual só agora me dou conta…
O tema (ou enunciado) foi um óbice a boa parte dos colegas vestibulandos. Saí-me relativamente bem na prova graças aos ensinamentos que recebi quando criança, ensinamentos que nem sempre – devo confessar – me proporcionavam alegria ou prazer. Ao contrário, ainda adolescente, sentia-me pressionado a absorvê-los. Anos depois, quando a maturidade já batia às portas, mudei o enfoque…
PERDERAM O PUDOR
Agora, diante do que acontece a boa parte dos nossos representantes, no município, no Estado e na Federação, que, pelo que se constata diariamente, perderam total e definitivamente o pudor, vem-me o desejo de me referir à fragilidade humana ou, para ser mais preciso, à instigante atração que o ser humano demonstra pela transgressão. Esse desejo se tornou mais concreto depois que li o artigo “Antes de ir para rua protestar”, do médico cardiologista e professor Cid Velloso, que foi reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, no período de 1986 a 1990.
“Cada cidadão brasileiro”, diz Cid Velloso, “necessita fazer uma autocrítica de suas ações, modificando atitudes indevidas e introduzindo processos educacionais nas escolas, na educação familiar, em seu espaço de trabalho, em sua roda de amigos e, enfim, em todas as suas atividades”. Depois dessa importante sugestão, Cid Velloso repete algumas das ações condenáveis e consideradas, por ele (e por quase todos nós), ainda hoje comuns e toleradas: a sonegação de impostos; as infrações diárias no trânsito, como a ultrapassagem do sinal vermelho, o estacionamento em local proibido e a fila dupla; os “gatos” (ligações irregulares) feitos em redes de TV, água, luz e telefone; a aceitação de pagamento menor a médico, livrando-o do Imposto de Renda; a não exigência de nota fiscal nas compras usuais; a compra de recibos falsos a profissionais da saúde; a aquisição de DVDs e CDs piratas; as manobras, em viagens, para enganar fiscais da alfândega; a declaração de valores menores na escritura de compra de imóveis etc.
A lista dessas pequenas falcatruas é de fato infindável, leitor, mas, se começarmos por nós a transformação, o país, com certeza, não submergirá. Para fortalecer a tese, lembro-o de uma das crônicas do memorável João Ubaldo Ribeiro, que, ao se decidir pela procura do responsável por todos os males deste nosso pobre país, para lhe exigir melhor comportamento, olhou-se no espelho e, enfim, o encontrou…
05 de abril de 2015
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