A legião dos mais idosos, onde me incluo, se lembrará de um comercial de cigarros, exibido há algumas décadas, no qual o jogador Gerson reafirmava as virtudes e o baixo preço da marca, incentivando os telespectadores, com a garantia de que, ao adotá-la, levariam vantagem.
"Leve vantagem você também", era o mote que fechava a mensagem.
A sociedade, surpresa, não aprovou o fato de que um excelente atleta, exemplo para a juventude, se dispusesse a promover um produto, à época, já identificado como prejudicial ao desempenho físico e, pior ainda, interpretasse seu uso como um grande trunfo.
A resposta veio através da criação de uma expressão estigmatizante que ficou incorporada ao jargão popular, "a lei de Gerson", denotando o aproveitamento a qualquer custo de uma situação aparentemente favorável, o vale-tudo.
De lá para cá, a sociedade mudou, os meios de comunicação se transformaram em verdadeiros conglomerados empresariais e, na televisão, surgiram núcleos especializados em produzir eventos interativos e novelas retratando histórias saídas das cabeças dos autores, praticamente os mesmos de hoje, que veladamente se julgavam e ainda se julgam, moldadores de novos comportamentos, alguns chocantes para significativos segmentos.
A prática do vale-tudo se intensificou e hoje a sociedade assiste, por exemplo, a um apresentador, Pedro Bial, antes visto como intelectual exemplar, excelente poeta, declamador de mensagens edificantes, fazer o papel de animador de um show degradante que bestializa o alienado telespectador mas rende milhões, um excelente negócio.
Ou, que tal o beijo explícito, na boca, de duas personagens interpretadas por excelentes atrizes, ambas octogenárias, buscando provar não se sabe o que, e, ainda, o comercial de um frigorífico encenado pelo maior cantor popular do país, que se diz vegetariano.
O fato é que o vale-tudo se propaga, transformando, segundo a visão de seus protagonistas, a resistência a ações desse tipo, às vezes legais porém imorais, em preconceitos.
Justificam suas atitudes com uma relativação revoltante, ao argumentar que o país está tão repleto de imoralidades que pouco adianta perder tempo com as deles.
Mas... que tal, aproveitando o carisma popular, promoverem a mudança?
Afinal, alguém tem que começar.
05 de abril de 2015
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
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