"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 5 de abril de 2015

"NUNCA VI UM GOVERNO TÃO DESGASTADO" - DIZ CHICO ALENCAR

http://s0.ejesa.ig.com.br/img/be/articles/foto_pagina/15012014_chico_alencar_andre_luiz_mello.jpg
Chico votou em Dilma e está decepcionado
Há dez anos, o deputado federal Chico Alencar anunciava, em meio a um conturbado processo eleitoral para a presidência do PT, sua desfiliação do partido. 
Ele seguiu o rumo tomado por outros colegas fundadores da legenda, como Plínio de Arruda Sampaio e Ivan Valente, e embarcou de cabeça no PSOL.
O Partido Socialismo e Liberdade havia sido fundado três meses antes, também por ex-petistas, como Luciana Genro e Heloísa Helena – expulsos do partido por votarem contra projetos de interesse do governo Lula. 

De lá para cá, Chico foi reeleito três vezes para o cargo de deputado federal e se tornou a principal referência da legenda. Em 2014, foi o segundo candidato mais bem votado do Rio de Janeiro, com 240 mil votos em uma campanha baseada em doações do partido e pessoas físicas. O PSOL é contra o financiamento empresarial e recusa doações de pessoa jurídica nas eleições e fora delas.
Chico Alencar participa de quatro comissões na Câmara dos Deputados, incluindo a de Constituição e Justiça e a que discute a reforma política. Compareceu a todas as 24 sessões ordinárias e extraordinárias da Câmara.
Qual a posição do PSOL sobre a reforma política?
Defendemos a proposta liderada pela OAB e a CNBB e mais de cem entidades. O projeto defende o sistema proporcional. Primeiro, o eleitor vota no partido da sua preferência, e, de acordo com a votação, o partido tem um determinado número de vagas. Depois, o próprio eleitor vota em uma lista fechada nos nomes que vão ocupar essas cadeiras. Pela proposta, é provável que o modelo aceito seja o “distritão”, em que os mais votados ocupam as cadeiras. Nossa proposta vai na contramão do “distritão”, que eu prefiro chamar de “detritão”, que personaliza a eleição, a torna mais individualista, mata a ideia de partido. O eleitor vai votar nas pessoas individualmente e em cada uma. É um baita retrocesso.
E por que o PMDB está capitaneando essa proposta?
O PMDB é o partido do senso comum. Hoje o senso comum é o do “voto em pessoas, odeio partidos”. O PMDB é um partido anódino, cujo programa de governo é estar no governo, independentemente de qual. Provavelmente o PMDB imagina que possa ter uma boa votação com o “distritão”, já que é um partido de caciques regionais muito enraizados no Brasil.
Qual sua avaliação sobre esses três primeiros meses do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff?
Deplorável. Eu nunca vi um governo eleito tão envelhecido, desgastado, desnorteado, sem sustentação parlamentar, chantageado e que não consegue impor sua pauta e que gera muito desencanto mesmo para seus eleitores. Isso é ruim para o país, um governo com três anos e meio pela frente e tão enfraquecido. Que está meio prisioneiro de um certo parlamentarismo de pressão.
No segundo turno das eleições, o PSOL recomendou voto branco, nulo ou em Dilma. Há algum arrependimento?
Não. Até porque todos nós que votamos na Dilma no segundo turno, eu me incluo, tínhamos uma visão crítica e sem expectativa. Só não sabia que ela teria adotado, tão rapidamente, o programa econômico do Aécio. Falar uma coisa na campanha e, imediatamente, fazer outra soa como estelionato eleitoral. E ninguém gosta de estelionato.
O senhor falou dos eleitores do PT descontentes. Como o PSOL pode se beneficiar dessa parcela do eleitorado?
A gente não parte de uma lógica de “capturar os descontentes”. O PSOL quer crescer e se consolidar como partido alternativo à forma de fazer política, com boa atuação de seus parlamentares, de forma independente, com uma conduta ética irretocável e de contestação a esse sistema. Há uma juventude muito simpática ao PSOL. Nossa tarefa é reencantar a todos os desiludidos com a política.
O partido discute se vai ou não expulsar o deputado Cabo Daciolo, que propôs incluir na Constituição a frase “todo poder emana de Deus” e que vai totalmente contra a laicidade do Estado defendida pelo partido. O PSOL erra ao filiar pessoas que não são identificadas com as bandeiras?
Sempre nesses casos, a gente percebe que é menos rigoroso do que deveria ser em relação a conhecer efetivamente o filiado. Mas é vivendo e aprendendo também, e não dá para controlar tudo. “A opinião pública é muito volátil. E isso interfere diretamente no comportamento dos parlamentares, até mesmo dos mais conservadores. Temos os próximos meses para reverter esse suposto apoio da opinião pública ao projeto que reduz a maioridade penal.”

05 de abril de 2015
Lucas Pavanelli
O Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário