A analista de velório ainda não sabe que a mais devastadora forma de orfandade é a vivida pelos pais que perdem um filho
Decidida a transformar cadáveres em instrumentos de caça ao voto, a política profissional Luciana Genro também exerce desde sexta-feira o ofício de analista de velório e obituário. No serviço de estreia, amparou-se na repercussão de uma tragédia ocorrida no Rio e outra em São Paulo para reprovar enfaticamente o comportamento dos brasileiros em geral e da imprensa em particular. O palavrório de Luciana deu uma ideia de como funciona essa espécie de necrofilia eleitoreira.
Justificadamente, emissoras de TV, jornais, revistas, e sites noticiaram com igual destaque tanto o assassinato de Eduardo de Jesus Ferreira, o menino de 10 anos baleado na cabeça por um policial no Morro do Alemão, quanto a morte de Thomaz Rodrigues Alckmin, 32, vítima da queda de um helicóptero em Carapicuíba. A especialista em assuntos fúnebres conseguiu enxergar no noticiário outra prova de que a burguesia pouco se importa com dramas protagonizados por gente pobre.
Num dos debates da campanha presidencial, a candidata do PSOL desandou no chilique ao ser qualificada por Aécio Neves de “leviana”. O senador foi excessivamente brando. É muito mais que leviana uma figura que, frente a dores idênticas, gasta o estoque inteiro de lágrimas de esguicho com o menino do morro enquanto contempla sem compaixão o corpo do caçula de um adversário político.
Luciana Genro se tornou mãe aos 15 anos. Aos 44, acaba de deixar claro que não sabe direito o que é isso. E ainda não aprendeu que nenhuma forma de orfandade é mais devastadora que a vivida por quem perde um filho.
05 de abril de 2015
Augusto Nunes, Veja
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