Não foi à toa que a Petrobras ocupou boa parte do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff. É preciso construir uma narrativa oficial para manter o Palácio do Planalto à distância segura da Operação Lava-Jato. A saída adotada foi defender a empresa “de predadores internos e de seus inimigos externos”.
“Devemos saber apurar sem enfraquecer a Petrobras”, disse Dilma, que opera numa faixa muito estreita para não jogar a responsabilidade política sobre o que aconteceu no colo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi o que já fez com o ex-presidente da estatal José Roberto Gabrielli, no caso da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Como diria o falecido Mané Garrincha, é preciso combinar com os beques para que a estratégia dê certo. Delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público Federal já têm provas suficientes para permitir ao juiz federal Sérgio Moro, que examina as denúncias, condenações muito mais duras do que a da ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabelo, sentenciada a 16 anos e 8 meses de prisão.
UM GRANDE ICEBERG
Esse é o ponto fraco da estratégia de Dilma. O mensalão, descoberto a partir da CPI dos Correios, era apenas a ponta de um grande iceberg de financiamento ilegal dos partidos da base do governo. A diferença é que já não há petistas com disposição para “matar no peito” as acusações, estoicamente, como fizeram o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, todos condenados pelo STF na Ação Penal 470.
Os supostos operadores do esquema de corrupção dentro da Petrobras, como Paulo Roberto Costa e Renato Duque; e fora da empresa, como o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Sete Brasil Pedro Barusco, não têm os mesmos compromissos e lealdades políticas. Dos quatro, apenas Duque não aderiu à delação premiada.
Está solto, em razão de um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski, relator do processo, mas a delação premiada de Barusco — ex-subordinado de Costa na Petrobras, que topou devolver quase 100 milhões de dólares de propinas — pode mudar completamente a situação e criar mais dores de cabeça para o Palácio do Planalto.
INIMIGOS EXTERNOS
E os inimigos externos? Não são as Sete Irmãs e os países árabes, porque essa concorrência é do jogo, não importa a retórica nacionalista da presidente Dilma e do PT. Nem os investidores e fundos de pensão que estão processando a Petrobras e exigem indenizações pela má gestão da empresa. São as investigações em curso nos Estados Unidos, na Holanda e na Suíça que podem levar às contas dos envolvidos no exterior e fechar o cerco aos caciques políticos envolvidos no escândalo.
(artigo enviado por Celso Serra)
7 de janeiro de 2015
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
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