“Eu honrarei o Natal em meu coração e tentarei guardá-lo ali o ano inteiro.” Charles Dickens
As coisas andam de tal modo que a palavra Natal, afastando-se do sentido original, passou a significar, principalmente, um dia festivo, uma pausa especial do calendário.
Por isso adotei, no título deste artigo, a palavra Nascimento. Ela retira o Natal da autonomia que a pós-modernidade lhe concedeu.
Não duvido de que, em breve, as crianças começarão a crer que o Natal e o que em torno dele se narra seja apenas uma história clássica, concebida por autores de contos de fada, e a merecer, ao lado da “A Branca de Neve” ou de “João e o Pé de Feijão”, um filme dos estúdios Disney.
A crítica ao que está acontecendo com o Natal não deve começar pelo consumismo natalino, que raramente é de consumo pessoal. Aliás, quem é contra o consumo precisa reconhecer que é, também, contra o emprego, contra o salário e contra a sobrevivência do trabalhador e do empreendedor.
O crescimento da demanda é o primeiro sintoma de que uma economia sai da estagnação. Por outro lado, as comemorações natalinas são acompanhadas de gestos mais largos de generosidade, com aumento de doações aos materialmente carentes.
O problema sobre o qual me detenho, à luz da fé cristã, supostamente ainda majoritária no Ocidente, é o desaparecimento do mistério da Encarnação e, com ele, o desapreço à intervenção de Deus na história humana. Ora, se o cristão vê o Menino do presépio apenas como um bebê que nasceu em circunstâncias incomuns, ele deixa de lado algo essencial à própria existência.
A interrogação de Pietro Petrolini – “Somos apenas um pacote que a parteira entrega ao coveiro?” – não é respondida pelo burrico do presépio, mas pelo Menino que se tornará a figura central da História, aquela da qual mais se fala, sobre a qual mais se escreveram livros e pela qual tantos, passados dois mil anos, ainda dão a própria vida.
É claro que, o profundo respeito de Deus à nossa liberdade, nos deixa em perfeitas condições para dar-Lhe de ombros, considerar que o acaso seja o senhor da História ou confiar nossas inteiras existências ao pensar deste ou daquele filósofo.
Cada vez que reflito sobre tal possibilidade eu firmo a convicção de que esse é um muito mau negócio. Ficar sem Deus, podendo ficar com Ele, é isso mesmo – mau negócio.
A você que me lê e a todos os seus, desejo um Natal muito feliz. E que o ano de 2015 seja bem melhor do que as condições atuais parecem sugerir. Acho que isso já estaria mais do que bom, não é mesmo?
23 de dezembro de 2014
Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor
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