"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

MOMENTO ESTRATÉGICO GLOBAL CRÍTICO E A CARTA BRASIL


 

Para compreendermos adequadamente um cenário é necessário visualizar o quadro geral no tempo e no espaço. Separar causa e efeito. Tomar a linha do tempo mapeando os movimentos, percebendo sua tendência, as opções disponíveis e as que foram efetivadas. Fundamental conhecer profundamente os protagonistas para penetrar-lhes às intenções, antecipando-se. A gravidade, a urgência e a tendência de cada elemento relevante devem ser pesados e medidos.

Vários foram os artigos aqui escritos que alertaram para o rumo que nosso país estava, e ainda está, se encaminhando. Tanto o editor Jorge Serrão como seus articulistas escreveram inúmeros textos. Não faltaram avisos e exortações. Aqueles que acompanham e tem boa memória sabem disto. Ninguém em sã consciência, exceto o desinformado, pode alegar que há surpresa no que está ocorrendo em nossa pátria. E porque nada se fez?

Infelizmente, a maioria tem memória curta. Assim, abaixo farei uma breve recapitulação da parte que me coube.

Comecei a escrever neste espaço virtual há treze meses atrás com uma série de três artigos intitulados “A Atividade de Inteligência Militar, os Governos Civis e o Cenário Atual”. Na primeira parte discorri sobre a gênese da Atividade de Inteligência e o estado da arte no Brasil, mostrando a importância vital desta atividade, a enorme distância que nos separa das melhores práticas do setor, a defasagem tecnológica e metodológica e as surpresas que aguardariam os militares. Na segunda parte discorri sobre o Sisbin, suas fragilidades, as ameaças reais existentes, e a necessidade de reformulação urgente de suas práticas. Na terceira e última parte desta série escrevi sobre o “desmonte” do poder nacional, dos avisos dados a um general atuante na AI (Atividade de Inteligência) sobre o perigo dos planos de Lula (e a visão distorcida do general onde subestimava o potencial destrutivo deles), e da responsabilidade intrínseca das FFAA pela situação atual devido sua omissão em agir adequadamente.

No artigo subsequente datado de outubro de 2013, após esta série de três, intitulado “Quem decide o resultado das urnas no Brasil?” detalhei a fragilidade do sistema eletrônico e as vulnerabilidades propositais do mesmo, deixando antever o que aconteceria nas eleições do ano seguinte.

Em fevereiro de 2014 retornei as questões estratégicas com o artigo “Movimentos estratégicos para 2014” demonstrando que os EUA estavam se mobilizando para aumentar seu aparato militar na América Latina, o que mostrava que eles percebiam os problemas se aproximando e estavam agindo, ao contrário dos brasileiros.

No artigo seguinte “Limitações de visão estratégica” mostrei que dos BRIC (não inclui a Africa do Sul que, pelos critérios iniciais nem poderia fazer parte deste grupo) o Brasil era o único que estava ficando para trás, principalmente na questão tecnológica e de poderio militar, o que implica necessariamente em comprometimento da soberania nacional. Dos quatro é a única colônia subserviente. A desculpa da situação externa que limitou nosso desenvolvimento foi confrontada com a realidade destes países que ultrapassaram o Brasil, mesmo submetidos ao mesmo cenário adverso.

Na sequencia escrevi um artigo intitulado “Por uma Estratégia de Estado” onde apresentei a metodologia que permeia o raciocínio base de um grupo de trabalho e fiz uma previsão, ao final, do que aconteceria com o EB, o que parece se confirmar com a criação do exército da Unasul. No último artigo chamado “Passos Estratégicos Globais e a carta Brasil” comecei a apresentação dos maiores protagonistas mundiais que terão papel destacado nos próximos anos, suas estratégias, a polarização aparente do poder, os preparativos para o confronto inevitável, alguns cenários e o papel reservado ao Brasil e a América Latina.

Nas projeções de cenário para os próximos anos, algumas reveladas no meu último artigo citado acima, fica bastante clara a alta probabilidade da eclosão de uma grave crise financeira, pior que a de 2008, e de um conflito bélico em escala considerável. O que virá primeiro, ou qual dará origem ao outro, é um entendimento ainda não pacificado; entretanto está pacificado que não existe mais o “se” vai acontecer, a questão agora é apenas “quando”. Penso que a crise, artificialmente projetada, detonará o conflito já esperado.

Como já exposto no artigo precedente a China e a Rússia vem se preparando para esta crise financeira aumentando sensivelmente suas reservas de ouro. Na verdade esperam poder usá-las para destronar o dólar de sua posição de moeda de troca mundial e reserva; quebrando financeiramente os EUA. A resposta estadunidense, num acordo com os seus aliados árabes, veio na forma de uma redução rápida do preço do barril de petróleo.

O preço do petróleo em queda, hoje já abaixo de US$ 66.00 o barril tem impacto direto sobre três países inimigos dos EUA: a Venezuela, o Irã e Rússia. Estes dependem significativamente do petróleo para obter divisas fortes, e terão suas economias fragilizadas com graves consequências. Entretanto, esta estratégia afetará também a economia estadunidense, uma vez que poderá colocar a indústria do petróleo de xisto em dificuldades.

As empresas de energia respondem hoje por aproximadamente 20% de todo o mercado de títulos de alto risco (os Junk Bonds). No momento em que essas empresas começarem a apresentar dificuldades, esses títulos começarão a perder valor rapidamente, e certamente haverá sérias consequências nos maiores bancos. Doravante, se você quiser acompanhar esta situação, procure observar atentamente o preço do petróleo, o mercado de títulos junk bonds e os grandes bancos.

Entretanto, a avaliação das agências é que, mesmo pagando um preço alto, a economia dos EUA pode suportar esta crise, exceto se o dólar ficar sem credibilidade, como é o plano russo-chinês. Por outro lado, os rivais dos EUA citados sofrerão consequências devastadoras. Quanto aos árabes da OPEP, aliados neste esquema, o estrago será pequeno porque produzem com baixos custos, podendo lucrar mesmo com preços reduzidos, e possuem grandes reservas financeiras para esperar com paciência.

A lógica é esperar para ver quem vai à lona primeiro, e a aposta estadunidense é que serão seus rivais. Alguns analistas acreditam que os EUA e seus aliados estão preparados para reduzir o preço do petróleo até US$ 35.00 por barril. Neste cenário a crise financeira será severa e pode inviabilizar o pré-sal brasileiro. A Venezuela irá a pique e o Irã terá de conter gastos. A resposta da Rússia a esta situação ainda não está clara.

Uma pista da futura resposta russa poderá ser sentida num discurso de Vladimir Putin, na reunião plenária final da sessão da XI Valdai International Discussion Club em Sochi, em 24 de outubro de 2014, onde muitos analistas interpretaram uma parte de seu discurso da seguinte forma: “A Rússia não deseja que o caos se espalhe, não quer a guerra, e não tem nenhuma intenção de começar uma. No entanto, hoje a Rússia vê o início de uma guerra global como quase inevitável, está preparada para isso, e continua a se preparar para o confronto. A Rússia não quer a guerra, mas também não a teme.”. Ao falar desta forma, abertamente, é porque ele já tomou as precauções necessárias. Como se sabe Putin é um homem egresso da KGB, logo discreto e precavido.

Os preparativos e o pensamento da China sobre estas questões foram expostas no artigo anterior. Certamente a China representa hoje uma ameaça aos interesses anglo-saxões-judeus tão poderosa, ou mais, do que a Rússia.

Os marcianos esperam resolver tudo na espada, defendendo suas possessões ao velho estilo. Os venusianos acreditam que a colheita está muito próxima e tudo está indo como o esperado a 95%. Os do vinho Maldek esperam ressuscitar em breve. Os príncipes laboram seus reais segredos, tendo pouquíssimos ido em algum lugar abaixo da linha, logo os restantes se iludem pensando que detêm o verdadeiro poder nos acampamentos. A Águia, o Urso e o Dragão se movimentam, mas a Serpente continua a controlar o jogo de dentro de sua toca.

E como fica o Brasil neste cenário? Os tupiniquins não parecem ver, e agem como néscios. Não tem muitos representantes na elite que joga o jogo. Seus estrategistas são intelectualmente acanhados e desprovidos de informação de qualidade. O país nunca foi capitaneado por uma elite moral ou intelectualmente avançada, como já identificou o Jorge Serrão. Aliás, as pessoas que estiveram a frente deste país, salvo raríssimas exceções, sequer merecem um adjetivo elogioso. Foi uma sucessão de atropelos desde o fim do Império. Em raros momentos formou-se um grupo para planejar o futuro que tivesse condições objetivas de implementar seus planos.

As FFAA são um capitulo à parte neste cipoal. Encontram-se numa situação digna da UTI, e não mostram sinais vitais de melhora. Os três velhinhos que as comandam transparecem, em suas tristes figuras, toda a esqualidez e anemia que se abate sobre elas. Atualmente todos chamam estes comandantes raquíticos de covardes, omissos, traidores, etc.... mas pergunto: quando foi que eles demonstraram ser sequer a sombra dos grandes generais do passado? Será que os oficiais da reserva perderam a capacidade de elaborar, coordenar e por em ação planos de emergência? Não tem mais eles interlocutores na ativa? Vão ficar na dependência dos três velhinhos? Apenas escrever textos não resolverá esta demanda.

Nem sequer fazer cumprir a lei as FFAA conseguem mais, tendo ficado emblemático a questão da não aposentadoria dos comandantes aos 70 anos, e da não cassação da medalha do José Genoino. A situação está moralmente, eticamente e psicologicamente insustentável. Os equipamentos antiquados já dão sinal de falência, como foi o caso do acidente com um Hércules C-130 na Antártica que fez uma aterrisagem de emergência com risco de explosão, e o vazamento de óleo no navio da marinha brasileira que foi socorrer, e tinha risco de incêndio.

Quem insiste em dizer que a imagem das FFAA continua intacta não deve ter lido a VEJA do inicio deste mês, onde um gerente do tráfico no Complexo da Maré, mesmo lugar onde haviam matado cinco dias antes o cabo Mikami do EB, orgulhosamente declarou: “Se a gente quisesse, matava um soldado por dia”. Pelo jeito o EB não põe mais medo nem na pequena criminalidade. Falar em confronto ou contenção dos grandes predadores militares internacionais é até risível, as FFAA estão incapazes hoje de enfrentarem exércitos bem menores, e pelo jeito, até organizações criminosas.

A decisão do Poder de deixar a Presidente Dilma ganhar mostrou-se acertada. Se o Aécio tivesse ganho teria agora um imenso desgaste que talvez o enfraqueceria de forma contundente e vital, uma vez que a ele seriam imputadas todas as decisões impopulares que este governo já tomou e ainda terá de tomar. Que o desgaste fique com a criatura que pariu o problema.

Assim, o ano de 2015 promete fortes emoções. Externamente tudo aponta para uma crise financeira séria com risco de confronto bélico de proporções imprevisíveis. Internamente o PT se preparou para o pior. Tem seu próprio exército com efetivo considerável (seus guerrilheiros já treinam desde 2005 no interior do país com fuzis AK-47 e uniforme de combate feito na China, trazidos para o Brasil como importações de tecido em containers de empresa insuspeita. Seus adestradores são cubanos, venezuelanos, colombianos das FARCs e outros). Possuem ainda vastos recursos financeiros (fruto dos esquemas cuja pontinha agora foram descobertos) e um plano bem organizado para cumprir.

Pergunta-se: Quem se oporá? Ou melhor, com que meios? Sim, há como fazer e não é difícil. Mas para isso muitas coisas precisam mudar, a começar por reconhecer o problema e as limitações inerentes com humildade, sendo que este último elemento nunca foi um ingrediente comum na caserna.

A Águia percebe o movimento e se prepara, tanto para confrontar como para cooptar. Eles certamente precisam anular a influência da Venezuela e Cuba, e de uma forma mais extensa do Foro de São Paulo. Certamente continuarão a fazer movimentos ritmos de bater por baixo e assoprar por cima. Estender a mão de um lado e manter o porrete na outra.

Se ocorrer desordem social em função da crise os EUA tem pronto, já há muitos anos, planos detalhados com a FEMA (Federal Emergency Management Agency), que dispõe de armamento, efetivo e campos de detenção para lidar com isso. Se acontecer em terras tupiniquins quem vai botar ordem na casa?

Este é o nono artigo que publico aqui neste espaço virtual, escrito 400 dias após o primeiro, e como o nove não soma nem subtrai, mas conduz a uma nova dezena, a uma oitava superior, pelos costumes e regras escrevi este nono artigo enfeixando os anteriores.

23 de dezembro de 2014
Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.

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