Depois de Gilberto Carvalho, foi a vez de Marta Suplicy, um de saída do governo, a outra já em casa. Em comum, dois ministros que fazem a mesma crítica à presidente da República, cobram diálogo e, sobretudo, a retomada da economia.
Marta foi mais explícita ao bater a porta desejando que a ex-chefe monte uma nova equipe econômica que resgate a confiança e a credibilidade do governo. Carvalho pediu mais diálogo com o Congresso e os movimentos sociais.
Os dois são identificados como integrantes da corrente que defendeu a substituição da candidatura de Dilma pela do seu antecessor, no movimento que ficou conhecido por “Volta, Lula”. Conviveram, pois, com Dilma, sem jamais estabelecer uma sintonia com a presidente.
Como Lula, que não voltou, defende publicamente a nomeação de Henrique Meirelles para o ministério da Fazenda, é dado entender que Carvalho e Marta vocalizam a tese do ex-presidente e materializam uma pressão pela sua prevalência, dificilmente não combinada previamente.
RECADO DE MARTA SUPLICY
De onde se conclui que a parcela do PT que queria Lula em 2014, mas só pode ter esperança de tê-lo em 2018, adota o mantra da volta, agora para o ex-presidente do Banco Central. É o “Volta Meirelles”, adotado por Lula diante da gravidade do quadro econômico.
Pode se depreender isso do trecho da carta de Marta Suplicy, uma ministra da Cultura, que deixa o posto falando de economia. Diz ela que espera da presidente uma “equipe econômica independente, experiente e comprovada”, criticando de uma só vez a atual equipe e o perfil centralizador da presidente.
É um voto de desconfiança de quem possivelmente alimenta ceticismo em relação ao segundo mandato de Dilma, o que fica claro na mensagem por uma equipe econômica autonôma.
Marta pretende disputar o governo de São Paulo e melhor será se o governo de seu partido for bem, mas em caso contrário, sua saída caracterizada como oposição a Dilma, já a preserva em relação ao segundo mandato, que tem um desafio gigantesco pela frente.
DEMISSÃO COLETIVA
Além disso, a saída da ministra da Cultura levou o governo a coordenar uma demissão coletiva com prazo até o retorno da presidente Dilma do exterior, na próxima terça-feira, para minimizar i impacto da crítica. Marta sai, nessa versão, porque a equipe toda sai.
O efeito pode ser o de precipitar a formação do novo ministério, algo que a presidente deixou transparecer que fará no ritmo necessário a escolhas bem refletidas.
E negociadas, como terá de ser no caso da economia. O cenário ganha contornos de uma conspiração para reduzir o prazo que Dilma se dera para a formação da nova equipe. O que guarda sintonia com o pensamento de Lula, defensor claro de um aceno urgente ao mercado para sustar a deterioração do processo econômico.
DESCRÉDITO NO EXTERIOR
De fato, a cada dia um novo número desgasta o governo e soma ao descrédito fora e dentro do país. Não há humilhações na história recente de revezes como o da Petrobras, investigada no exterior, e de um governo que precisa do Congresso para revisar sua conta de superávit – o que se traduz pelo fim da responsabilidade fiscal.
Nesse contexto é surpreendente a falta de pressa demonstrada pela presidente, que vai acumulando manchetes negativas, enquanto a bolsa de apostas no país é quanto à sua capacidade de reverter o quadro econômico.
Pode ser que Dilma esteja esticando a corda para esperar as revelações judiciais sobre a Petrobras, o que lhe pouparia o tempo de rever decisões e escolhas que envolvam personagens passíveis de aparecerem nas investigações que levaram á delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa.
15 de novembro de 2015, DIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
João Bosco Rabello
Estadão
15 de novembro de 2015, DIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
João Bosco Rabello
Estadão
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