Na madrugada de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca ardia de febre em sua casinha de três quartos e sala, numa transversal do Campo de Santana, depois Praça da República. Dias antes havia recebido uma comissão de ilustres republicanos empenhados em aliciá-lo para a causa, mas opinara que a mudança do regime só deveria acontecer após a morte do Imperador. Era amigo pessoal de D. Pedro II.
Na noite anterior dois regimentos e um batalhão aquartelados em São Cristóvão tinham-se rebelado, ocupando o Campo de Santana, bem defronte ao prédio do ministério da Guerra. Seus oficiais queriam a destituição do primeiro-ministro, Visconde de Ouro Preto, acusado de pretender dissolver o Exército, força cada vez mais influente depois da Guerra do Paraguai.
Os insurgentes, com seus canhões apontados para o ministério, onde estavam reunidos os ministros, ressentiam-se da presença de um chefe de prestígio. Alguém lembrou que quadras adiante morava Deodoro, posto em desgraça e mandado para a reserva por desavenças com Ouro Preto.
Conta a lenda que a mulher do marechal recebeu os emissários com um cabo de vassoura na mão, tentando impedir que perturbassem o marido.
Deodoro os recebeu e ouviu os boatos da hora: a ordem de sua prisão estava assinada, além da dissolução do Exército, que a Guarda Nacional substituiria. Irritado, com a febre aumentada, fardou-se, disposto a chefiar o motim.
Estava fraco, não conseguiu montar o cavalo posto á sua disposição, embarcando numa charrete que, passando pela avenida do Mangue, seguiria para os quartéis em São Cristóvão. No meio do caminho é surpreendido por tropa armada, até com banda de música, que iria aderir aos sediciosos. Faz meia volta e dirige-se ao prédio do ministério da Guerra.
Conta a lenda que a mulher do marechal recebeu os emissários com um cabo de vassoura na mão, tentando impedir que perturbassem o marido.
Deodoro os recebeu e ouviu os boatos da hora: a ordem de sua prisão estava assinada, além da dissolução do Exército, que a Guarda Nacional substituiria. Irritado, com a febre aumentada, fardou-se, disposto a chefiar o motim.
Estava fraco, não conseguiu montar o cavalo posto á sua disposição, embarcando numa charrete que, passando pela avenida do Mangue, seguiria para os quartéis em São Cristóvão. No meio do caminho é surpreendido por tropa armada, até com banda de música, que iria aderir aos sediciosos. Faz meia volta e dirige-se ao prédio do ministério da Guerra.
Ouro Preto e seus ministros olhavam pela janela a movimentação dos canhões rebelados, tendo o primeiro-ministro convocado o Secretário-Geral do Exercito, marechal Floriano Peixoto, comandante das forças legalistas, por sinal acantonadas na parte de trás do ministério.
Apontando para os canhões, ordenou que fossem tomados a baioneta pela tropa a seu dispor. Diante das ponderações sobre dificuldades, afirmou que no Paraguai, em condições mais adversas, “as peças inimigas haviam sido conquistadas com arma branca.
Apontando para os canhões, ordenou que fossem tomados a baioneta pela tropa a seu dispor. Diante das ponderações sobre dificuldades, afirmou que no Paraguai, em condições mais adversas, “as peças inimigas haviam sido conquistadas com arma branca.
Floriano, fleumático, sentenciou o que aconteceria minutos depois: “É, mas lá nós lutávamos contra paraguaios…”
Deodoro chegou aos portões do ministério, exigiu que fossem abertos e já montado num cavalo baio, irrompeu pelo pátio e as escadarias, cercado pela tropa rebelada que gritava “Viva Deodoro! Viva Deodoro!”
O movimento, no entender do velho militar, visava a deposição de Ouro Preto. No gesto característico de seu comando no Paraguai, ele tirou várias vezes o boné, saudando os companheiros, e gritando “Viva o Imperador! Viva o Imperador!”
Subiram ao andar onde estava reunido o ministério, misturado com os republicanos históricos, alertados para a oportunidade. Ouro Preto não se levanta e escuta as queixas de Deodoro sobre a perseguição ao Exército. A febre aumentara e o marechal repetia diversas vezes o argumento de que “nós que nos sacrificamos nos pântanos do Paraguai não merecermos isso”.
Arrogante, pretensioso e elitista, Ouro Preto o interrompe para dizer: “olha aqui, marechal, maior sacrifício do que fizeram nos pântanos do Paraguai estou fazendo eu aqui ao ouvir as baboseiras de Vossa Excelência!”
Passaram-se poucos segundos antes que Deodoro repetisse tradicional frase castrense: “esteja todo mundo preso!”
De Benjamim Constant a Quintino Bocauiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa e outros republicanos que caberiam numa kombi, se kombis já existissem, veio a tentação para que Deodoro aproveitasse o episódio e proclamasse a República. O militar hesitou mas cedeu ao argumento de Benjamin Constant: “e mais, marechal, a República terá que ser governada por um ditador, e o ditador é o senhor!”
Dizem que a febre passou e os olhos de Deodoro se arregalaram. A tropa vitoriosa empreendeu um desfile pela rua Larga e adjacências. Deodoro voltou para casa, caiu em sono profundo e os republicanos trataram de redigir os primeiros decretos da recém nascida República. À tarde, foram à casa do marechal, que pretendeu dar o dito pelo não dito, ou o proclamado pelo não proclamado, mas cedeu aos apelos da multidão organizada por José do Patrocínio na porta de sua casa.
A República estava nascendo. O Imperador, que naquela manhã havia descido de Petrópolis, de trem, permaneceu na Quinta da Boa Vista, onde recebeu ordens para exilar-se, com a família. Militares mais exaltados haviam proposto que fossem todos fuzilados, mas Deodoro reagiu com vigor, ainda mandando que fosse votada uma verba para família real sustentar-se lá fora. D. Pedro II declinou…
15 de novembro de 2014
Carlos Chagas
15 de novembro de 2014
Carlos Chagas
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