Tudo indica que observamos mais um “voo de galinha” na história brasileira. O termo, cunhado por economistas, descreve o fenômeno do crescimento que não consegue se sustentar ao longo do tempo, minguando-se em poucos anos. Alguns “voos de galinha” foram observados no país: no fim dos anos 50 (Plano de Metas), durante os anos do “milagre econômico”, e aquele que se iniciou nos anos 2000.
Quais evidências nos fazem crer que este será um “voo de galinha” e não um voo de águia – que é constante, estável e longo? Primeiro, a evolução do PIB: desde 2004, com exceção de 2009 (crise dosubprime nos EUA), o Brasil crescia anualmente a taxas maiores do que 3%. Depois de atingir o pico em 2010, com uma taxa de 7,5%, houve uma mudança na tendência: nos três anos seguintes, as taxas foram de 2,7%, 0,9% e 2,3%, respectivamente. Neste ano, a economia entrou em recessão técnica, que é um conceito objetivo para medir a situação da economia quando passa dois trimestres em decrescimento: no primeiro trimestre, -0,2%; no segundo, -0,6%. As estimativas mais recentes indicam que o PIB de 2014 terá um minguado crescimento de cerca de 0,33%. Vale lembrar que as estimativas vêm sendo sucessivamente ajustadas para baixo desde o começo do ano, quando se estimava que se cresceria de 1,5% a 2%.
Um segundo sinal de que o voo será de galinha é o recente dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE: a tão celebrada queda no desemprego parece ter chegado ao fim. Existem sinais de que voltará a aumentar. Somado a isso, ainda há um rol de dados negativos: a inflação em 12 meses acabou de estourar o teto da meta de 6,5%; o déficit na balança comercial atinge os piores níveis desde 1998, a dívida pública também baterá o recorde este ano etc.
Sem mais delongas com análises das possíveis causas desses resultados negativos, vamos nos perguntar: por que não temos mais resultados positivos? Ou resultados positivos que se sustentem por dez, 20, 30 anos? Por que não conseguimos ser uma Coreia do Sul? Ou por que a economia brasileira não consegue alcançar um voo de águia?
Tentar descobrir a receita para a prosperidade das nações é uma tarefa que tem ocupado os estudiosos desde a fundação da economia, com Adam Smith, em 1776. Não é verdade que ainda não se sabe nada a respeito. Muito já se sabe das variáveis que levam um país ao crescimento sustentável, e há inclusive fartas comprovações históricas disso. Vejamos:
Um fator é o investimento em capital físico, mais precisamente terra e capital: o Brasil é um país “abençoado por Deus”; poucos têm a disponibilidade de terras férteis e ocupáveis que se tem por aqui. Mas a quantidade de investimento em capital, bens de produção, tecnologia que propulsiona crescimento é um grande problema. Falta inovação e faltam investimentos de todos os tipos. E, para se ter investimentos, é preciso que haja poupança (os recursos economizados pelos poupadores que serão canalizados para os investidores). E sabemos, por diversas razões, que se poupa muito pouco no Brasil.
Também há a questão do aumento da produtividade: nenhum país do mundo acredita ser possível manter o crescimento baseado somente no aumento da quantidade de mão de obra, como aconteceu em vários séculos da história mundial. Hoje, para crescer, é preciso aumentar a quantidade produzida por trabalhador, ou seja, aumentar a produtividade. Parece simples, mas envolve pesquisa e desenvolvimento científico, assim como melhorar o capital humano, a educação e o treinamento dos trabalhadores. Não basta apenas colocar crianças nas escolas, é preciso ter certeza de que as escolas são realmente boas.
Por fim, instituições que propiciam o crescimento: garantir direitos de propriedade, respeitar contratos, garantir estabilidade política, combater todos os níveis de corrupção etc. não são apenas questões “políticas”. Trata-se da manutenção do ambiente propício ao investimento, crescimento e trabalho produtivo.
Se as lições já estão postas, por que o Brasil continua com seus voos de galinha? Acemoglu e Robinson, em seu fenomenal livro Why Nations Fail?, dão a resposta: muitas vezes, a receita para a prosperidade é bem conhecida, mas o crescimento econômico é um processo que gera “destruição criativa”: claramente haverá grupos de interesses que perderão seus benefícios ao longo do caminho.
O que será escolhido: a manutenção do voo de galinha ou um voo mais longo e estável, com a visão de longa distância que a águia tem? Isso não pode ser explicado pela economia.
Quais evidências nos fazem crer que este será um “voo de galinha” e não um voo de águia – que é constante, estável e longo? Primeiro, a evolução do PIB: desde 2004, com exceção de 2009 (crise dosubprime nos EUA), o Brasil crescia anualmente a taxas maiores do que 3%. Depois de atingir o pico em 2010, com uma taxa de 7,5%, houve uma mudança na tendência: nos três anos seguintes, as taxas foram de 2,7%, 0,9% e 2,3%, respectivamente. Neste ano, a economia entrou em recessão técnica, que é um conceito objetivo para medir a situação da economia quando passa dois trimestres em decrescimento: no primeiro trimestre, -0,2%; no segundo, -0,6%. As estimativas mais recentes indicam que o PIB de 2014 terá um minguado crescimento de cerca de 0,33%. Vale lembrar que as estimativas vêm sendo sucessivamente ajustadas para baixo desde o começo do ano, quando se estimava que se cresceria de 1,5% a 2%.
Um segundo sinal de que o voo será de galinha é o recente dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE: a tão celebrada queda no desemprego parece ter chegado ao fim. Existem sinais de que voltará a aumentar. Somado a isso, ainda há um rol de dados negativos: a inflação em 12 meses acabou de estourar o teto da meta de 6,5%; o déficit na balança comercial atinge os piores níveis desde 1998, a dívida pública também baterá o recorde este ano etc.
Sem mais delongas com análises das possíveis causas desses resultados negativos, vamos nos perguntar: por que não temos mais resultados positivos? Ou resultados positivos que se sustentem por dez, 20, 30 anos? Por que não conseguimos ser uma Coreia do Sul? Ou por que a economia brasileira não consegue alcançar um voo de águia?
Tentar descobrir a receita para a prosperidade das nações é uma tarefa que tem ocupado os estudiosos desde a fundação da economia, com Adam Smith, em 1776. Não é verdade que ainda não se sabe nada a respeito. Muito já se sabe das variáveis que levam um país ao crescimento sustentável, e há inclusive fartas comprovações históricas disso. Vejamos:
Um fator é o investimento em capital físico, mais precisamente terra e capital: o Brasil é um país “abençoado por Deus”; poucos têm a disponibilidade de terras férteis e ocupáveis que se tem por aqui. Mas a quantidade de investimento em capital, bens de produção, tecnologia que propulsiona crescimento é um grande problema. Falta inovação e faltam investimentos de todos os tipos. E, para se ter investimentos, é preciso que haja poupança (os recursos economizados pelos poupadores que serão canalizados para os investidores). E sabemos, por diversas razões, que se poupa muito pouco no Brasil.
Também há a questão do aumento da produtividade: nenhum país do mundo acredita ser possível manter o crescimento baseado somente no aumento da quantidade de mão de obra, como aconteceu em vários séculos da história mundial. Hoje, para crescer, é preciso aumentar a quantidade produzida por trabalhador, ou seja, aumentar a produtividade. Parece simples, mas envolve pesquisa e desenvolvimento científico, assim como melhorar o capital humano, a educação e o treinamento dos trabalhadores. Não basta apenas colocar crianças nas escolas, é preciso ter certeza de que as escolas são realmente boas.
Por fim, instituições que propiciam o crescimento: garantir direitos de propriedade, respeitar contratos, garantir estabilidade política, combater todos os níveis de corrupção etc. não são apenas questões “políticas”. Trata-se da manutenção do ambiente propício ao investimento, crescimento e trabalho produtivo.
Se as lições já estão postas, por que o Brasil continua com seus voos de galinha? Acemoglu e Robinson, em seu fenomenal livro Why Nations Fail?, dão a resposta: muitas vezes, a receita para a prosperidade é bem conhecida, mas o crescimento econômico é um processo que gera “destruição criativa”: claramente haverá grupos de interesses que perderão seus benefícios ao longo do caminho.
O que será escolhido: a manutenção do voo de galinha ou um voo mais longo e estável, com a visão de longa distância que a águia tem? Isso não pode ser explicado pela economia.
11 de outubro de 2014
Luciana Yeung, Gazeta do Povo, PR
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