Desde a noite de domingo Marina Silva e seus aliados vêm dando sinais de que desta vez não haverá neutralidade. Ela vai se posicionar e o fará em nome de movimento tático que dê consistência ao seu capital político na representação do desejo de mudança expresso pela maioria no resultado do primeiro turno em que ela e Aécio Neves tiveram 57% dos votos.
A aliança não tem o caráter de adesão ao PSDB. Esse acordo por ora não se estende à coalizão de governo em caso de vitória da oposição. Marca a transição de Marina de uma condição passiva para uma posição ativa na direção da "nova política" defendida por ela e a uma nova forma de fazer política exigida pela sociedade. Aos gritos desde junho de 2013.
Ficasse parada, dogmática, imperial, estaria refém de uma contradição: prega a mudança, mas não se alia aos que tentam mudar apenas porque ela perdeu o mando do campo adversário. Esse entendimento já estava claramente desenhado quando da decisão de Marina de se aliar a Eduardo Campos para não ficar fora do jogo eleitoral.
Seguisse ela ainda mesma linha de raciocínio de 2010, teria tido outro comportamento. No discurso de domingo, Marina lembrou o fato ao responder sobre a possibilidade de ficar neutra: "Minha postura quando não foi feito o registro da Rede, de não me recolher numa anticandidatura, pode ser uma tendência". Ou seja, entrou na chuva desta vez entendendo que é impossível não se molhar.
Mas faz a coisa ao seu jeito. Com uma razão de ser. Explicando também qual a razão de não ser a decisão para o lado oposto. O apoio ao PT depois de tudo o que foi dito de parte a parte na campanha do primeiro turno imprimiria a Marina a marca do cinismo. Se aceitasse se juntar a quem a acusa de pretender entregar o País aos banqueiros para que eles tirem a comida do povo teria dificuldade em se justificar.
O acerto passa longe do gasto e nefasto termo "governabilidade", hoje sinônimo de fisiologismo. Marina alega que quatro anos atrás mandou aos candidatos Dilma Rousseff e José Serra uma lista de dez itens de seu programa, mas não obteve resposta. Agora, ao apresentar a Aécio Neves um acordo com alguns pontos de compromisso mais que depressa obteve a concordância. Inclusive porque nenhum deles implica alterações de fundo no programa do tucano e apresentam mais semelhanças que diferenças.
Acertado o apoio a ser anunciado até quinta-feira, ficam em aberto as questões do "day after". As posições dos respectivos partidos aliados a Marina é a menor delas. Tanto faz se o PSB ou os representantes da Rede irão unidos ou divididos para essa empreitada.
O peso desse apoio é pessoal. Em Pernambuco, da família de Eduardo Campos e no âmbito nacional, a voz de Marina. Não se sabe, porém, qual é grau de influência que ela terá sobre o voto do eleitorado. Tampouco está claro se aos olhos do público ela hoje é a mesma que era antes de passar pelo crivo da "desconstrução". Pode ser que seu prestígio tenha sido abalado.
Mas, ainda assim, o PT que tanto a massacrou adoraria tê-la a seu lado.
Picado indigesto. Os defeitos do sistema político não se resumem, não começam nem terminam no grande número de partidos. Mas a fragmentação passa a ser um problema quando ultrapassa o direito de pessoas com ideias em comum criarem uma legenda e invade o terreno do oportunismo.
Nos últimos 20 anos a quantidade de agremiações com representação no Congresso quase que dobrou. Eram 16 em 1994, serão 28 em 2015. Significa que terão acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão.
Se cada um desses partidos resolver lançar candidato a presidente da República em 2018, a lei lhes confere o direito de participar dos debates de televisão, o que tornaria os programas inviáveis.
A aliança não tem o caráter de adesão ao PSDB. Esse acordo por ora não se estende à coalizão de governo em caso de vitória da oposição. Marca a transição de Marina de uma condição passiva para uma posição ativa na direção da "nova política" defendida por ela e a uma nova forma de fazer política exigida pela sociedade. Aos gritos desde junho de 2013.
Ficasse parada, dogmática, imperial, estaria refém de uma contradição: prega a mudança, mas não se alia aos que tentam mudar apenas porque ela perdeu o mando do campo adversário. Esse entendimento já estava claramente desenhado quando da decisão de Marina de se aliar a Eduardo Campos para não ficar fora do jogo eleitoral.
Seguisse ela ainda mesma linha de raciocínio de 2010, teria tido outro comportamento. No discurso de domingo, Marina lembrou o fato ao responder sobre a possibilidade de ficar neutra: "Minha postura quando não foi feito o registro da Rede, de não me recolher numa anticandidatura, pode ser uma tendência". Ou seja, entrou na chuva desta vez entendendo que é impossível não se molhar.
Mas faz a coisa ao seu jeito. Com uma razão de ser. Explicando também qual a razão de não ser a decisão para o lado oposto. O apoio ao PT depois de tudo o que foi dito de parte a parte na campanha do primeiro turno imprimiria a Marina a marca do cinismo. Se aceitasse se juntar a quem a acusa de pretender entregar o País aos banqueiros para que eles tirem a comida do povo teria dificuldade em se justificar.
O acerto passa longe do gasto e nefasto termo "governabilidade", hoje sinônimo de fisiologismo. Marina alega que quatro anos atrás mandou aos candidatos Dilma Rousseff e José Serra uma lista de dez itens de seu programa, mas não obteve resposta. Agora, ao apresentar a Aécio Neves um acordo com alguns pontos de compromisso mais que depressa obteve a concordância. Inclusive porque nenhum deles implica alterações de fundo no programa do tucano e apresentam mais semelhanças que diferenças.
Acertado o apoio a ser anunciado até quinta-feira, ficam em aberto as questões do "day after". As posições dos respectivos partidos aliados a Marina é a menor delas. Tanto faz se o PSB ou os representantes da Rede irão unidos ou divididos para essa empreitada.
O peso desse apoio é pessoal. Em Pernambuco, da família de Eduardo Campos e no âmbito nacional, a voz de Marina. Não se sabe, porém, qual é grau de influência que ela terá sobre o voto do eleitorado. Tampouco está claro se aos olhos do público ela hoje é a mesma que era antes de passar pelo crivo da "desconstrução". Pode ser que seu prestígio tenha sido abalado.
Mas, ainda assim, o PT que tanto a massacrou adoraria tê-la a seu lado.
Picado indigesto. Os defeitos do sistema político não se resumem, não começam nem terminam no grande número de partidos. Mas a fragmentação passa a ser um problema quando ultrapassa o direito de pessoas com ideias em comum criarem uma legenda e invade o terreno do oportunismo.
Nos últimos 20 anos a quantidade de agremiações com representação no Congresso quase que dobrou. Eram 16 em 1994, serão 28 em 2015. Significa que terão acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão.
Se cada um desses partidos resolver lançar candidato a presidente da República em 2018, a lei lhes confere o direito de participar dos debates de televisão, o que tornaria os programas inviáveis.
11 de outubro de 2014
Dora Kramer, O Estadão
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