"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de outubro de 2014

REACIONÁRIOS SEM PÃNICO

O PT está desesperado. É crescente o número de pessoas que não querem mais salvadores da pátria

Li dia desses o texto de um sujeito isento como um táxi, segundo quem só mesmo o "preconceito anti-PT" poderia explicar a surra histórica que o partido levou em São Paulo. Para registro: o tucano Geraldo Alckmin venceu a eleição em 644 das 645 cidades do Estado e, na capital, ficou em primeiro lugar em 54 das 58 zonas eleitorais. Aécio Neves superou seus adversários em 88% dos municípios paulistas. José Serra, depois de sepultado por setores da imprensa paulistana, bateu Eduardo Suplicy na disputa pelo Senado por quase o dobro dos votos. Marilena Chaui, uma petista filósofa, jamais uma filósofa petista, diria que isso é culpa da classe média, que ela odeia. Entendo. Há miseráveis de menos em São Paulo para os anseios revolucionários de tal senhora. Toc, toc, toc.

Preconceito por quê? O PT, por acaso, advoga alguma causa excepcional, que vá contra, sei lá, o obscurantismo do senso comum, ou se coloca na vanguarda de lutas civilistas que desorganizam o status quo? Se há um partido que encarna os piores vícios da ordem no que esta tem de mais nefasta, de mais reacionária e de mais autoritária, este partido, hoje, é o PT.

Prestem atenção! Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef mal começaram a falar. A depender do rumo que as coisas tomem e do resultado das urnas, o país voltará a flertar, no próximo quadriênio, com o impeachment, somando, então, a crise política a uma economia combalida. Pergunto: o fedor que emana da Petrobras deriva dos anseios reformistas que o PT chegou a alimentar um dia? Ora...

É preciso assaltar os cofres públicos para conceder Bolsa Família? É preciso usar de forma escancaradamente ilegal os Correios para implementar o ProUni? É preciso transformar a gestão pública na casa-da-mãe-Dilma (como Lula, o pai, já a chamou) para financiar o Minha Casa, Minha Vida? Pouco importa o juízo que se faça sobre esses programas, a resposta, obviamente, é "não". A matemática elementar nos diz que, com menos roubalheira, sobraria mais dinheiro para os pobres.

O PT nunca foi revolucionário e, por óbvio, nem mais reformista chega a ser. Conserva, no entanto, o modo da esquerda autoritária, que é distinto, sim, do da direita autoritária. Para esta, povo é mesmo o vulgo e deve ser mantido longe dos assuntos relevantes da República porque não passa de um amontoado de ignorâncias e paixões destruidoras --no "Júlio César", de Shakespeare, sua versão primitiva é Cássio. A outra se organiza para pôr a seu favor o ódio, o rancor e o ressentimento, tornando o povo refém das migalhas que distribui. É César. Sim, leitores, como pulsões originais, os dois autoritarismos já estavam no drama de Shakespeare. Estão inscritos na nossa memória. No Brasil de 1950, o dramaturgo escreveria a mesma peça com Carlos Lacerda e Getúlio Vargas. Haveria um pouco mais de chanchada, é claro!

O PT está desesperado. Milhões de pessoas são, sim, ainda cativas de seu assistencialismo chantagista e do arranca-rabo de classes que promove. Mas é crescente o número de pessoas que já não aceitam --como é mesmo, Getúlio?-- ser escravas de ninguém. Também não querem mais salvadores da pátria. Só exigem que governantes sejam escravos da lei. E Marilena odeia isso.

 
11 de outubro de 2014
Reinaldo Azevedo, Folha de SP

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