"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de outubro de 2014

PT - ARENA

RIO DE JANEIRO - Aos 93 anos, o inesquecível Francelino Pereira, ex-deputado, ex-"governador" de Minas Gerais e ex-presidente da Arena, está não apenas vivo como deve ter tido uma sensação de "déjà vu" diante dos resultados das eleições de domingo. Ao ver o PT disparando no sertão, certamente se lembrou da citada Arena, que, nos anos 70, passou da condição de "maior partido do Ocidente" à mais modesta, de maior partido do Nordeste.

A Arena --Aliança Renovadora Nacional-- foi uma invenção dos militares, em 1965, para ratificar no Congresso o que eles quisessem impor. Era o partido majoritário, tendo como adversário o então tíbio MDB --Movimento Democrático Brasileiro--, de oposição tolerada, formado pelos políticos que sobreviveram às primeiras cassações. A Arena abrigava os mais notórios adesistas, oligarcas, coronéis, oportunistas, corruptos e o que havia de mais atrasado nos grotões rurais e urbanos. Tinha gente boa também.

Com isso, nas poucas eleições com voto direto, dominando 90% dos governos estaduais e 100% das prefeituras, não era surpresa que o partido do governo esmagasse a oposição. Francelino, empolgado com a performance de seus pares, fez os cálculos e decretou que a Arena era o maior partido do Ocidente.

Mas, um dia, as coisas começaram a mudar. Nas eleições de 1974 para o Senado, o povo, já farto, surrou a Arena. Elegeu os candidatos do MDB nos principais Estados e alterou de tal forma a balança do poder que Geisel teve de nomear senadores e governadores nos Estados em que não conseguia ganhar --Francelino, aliás, foi um deles. À Arena sobrou apenas a fidelidade do Nordeste, sempre sensível aos afagos oficiais. Até dissolver-se em 1979.

Parece estar havendo uma certa arenização do PT. E não apenas porque sua força hoje se concentra no maciço apoio nordestino.

 
11 de outubro de 2014
Ruy Castro, Folha de SP

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