O divisor de águas, afinal, é "social" ou é ético? Ha duas maneiras de ler o resultado do primeiro turno.
O que nos disse esse PT que dispensa a contribuição dos fatos para compor sua versão da realidade com o bombardeio de "reclames" do gênero daqueles em que os pratos de comida de uns se esvaziavam na proporção em que os dos outros se enchiam é que não apenas faz sentido que a "Bélgica" vote maciçamente em Aécio e a "Índia" vote maciçamente em Dilma - tanto mais quanto mais para baixo estiver o eleitor no IDH -, como que não há outro caminho nesta nossa "Belíndia", onde, por definição, o bolo não cresce e cada um só pode aumentar seu quinhão à custa do dos demais, senão uma submeter a outra, pela força se houver resistência.
A mesma receita que o partido reconfirma com sua política de alinhamento automático com todas as ditaduras que cavalgam essa mesma falácia na arena internacional.
Mas esta eleição provou que, se existe um país manipulável porque vive na insegurança econômica extrema e tem prioridades mais urgentes que distinguir a verdade da mentira ou pensar além da sobrevivência até amanhã, convive com ele outro que, por cima dos matizes ideológicos em que se divide internamente, pode olhar para mais adiante e responde com avalanches de indignação às que lhe têm sido atiradas desaforadamente à cara, como confirma o contingente antipetista que chegou às urnas maior do que partiu.
Por que a relação desse Brasil com o PT que sobrou (depois da debandada da esquerda honesta) se vai tornando tão radicalmente insuperável? Porque, sendo esse PT essencialmente um produto desse mesmo Brasil com mais capacidade de discernimento, não poderá jamais convencê-lo de que não está mentindo a cada vez que mentir.
Para atrair o Brasil que vive da assistência à miséria, à margem da economia real, e continuar acenando-lhe com "uma melhora geral da economia" e uma "redução da desigualdade" que o IBGE não confirma o PT que sobrou terá de continuar mentindo, e cada vez mais à medida que suas mentiras forem piorando o ambiente econômico e empurrando os indicadores mais para baixo. E quanto mais mentir, maior será a indignação que colherá no Brasil que não só não engole suas mentiras, como, principalmente, se sente cada vez mais ameaçado pela temerária realimentação do ódio de classes para os quais elas inevitavelmente nos empurram.
O resultado que as urnas de domingo colheram reflete um movimento de autopreservação desse Brasil que, tudo indica, ainda não se completou. Pois, ao assumir a mentira como linha mestra de sua campanha, o PT que sobrou não está apenas confessando falido o "projeto" com que tenta vender-se ao outro, está declarando guerra ao Brasil com discernimento, posto que esse caminho não tem volta: ou o País inteiro regride ao estágio de que ainda não conseguiram sair os grotões - como foi feito nas ditaduras que o PT nos aponta como exemplos e se trata de fazer nos rebentos "bolivarianos" que nos cercam, calando a imprensa (e até o IBGE) e substituindo os debates legislativos dos representantes eleitos pelo povo pelos decretos das Organizações Não Governamentais Organizadas pelo Governo (ONGOGs), ditas "movimentos sociais", conforme prescrito no Decreto 8.243, baixado pela "presidenta" - ou confina esse PT ao nicho reservado aos dinossauros políticos que, em todo o resto do planeta, foram à extinção no ano 89 do século passado.
É isso que tem mantido unidas a esquerda e a não esquerda honestas e democráticas que, somadas, ainda são maioria na sociedade brasileira.
É normal e saudável que haja divergências a respeito do que se deseja para o País e que isso mude, na visão dos mesmos grupos, em diferentes momentos da conjuntura nacional e internacional. Mas até para que isso possa continuar sendo assim tem de haver uma concordância de todos a respeito do que não se deseja para o País, qualquer que seja a circunstância. E esse limite é o da preservação da democracia representativa (de todos os brasileiros, não só de alguns).
É sobre esse ponto que mostram estar de acordo os brasileiros todos que votaram sob o signo do antipetismo e, felizmente, tanto Aécio Neves quanto Marina Silva parecem ter entendido perfeitamente que é disso que se trata.
A "polarização entre PT e PSDB" em que insistia Marina é um falso problema. Ela existe no mundo inteiro, sob siglas variadas, com a diferença de que, quanto mais alto o IDH, os extremos entre as partes em disputa se vão aproximando do centro e a alternância no poder entre elas se vai tornando menos turbulenta. Aqui mesmo já estiveram muito menos afastados um do outro do que a distância para a qual voltaram a ser empurrados pelo sistemático processo de subversão de significados que o PT que sobrou conseguiu instalar nas escolas e universidades brasileiras, estas que vão despencando em queda livre pelos rankings internacionais de qualidade em função dessa violência.
O próprio Lula entendeu em 2002 que para eleger-se teria de comprometer-se com a democracia e com o modelo econômico civilizado, por acaso implantado no Brasil pós-Sarney pelo PSDB. A grande "novidade" que Marina Silva prometia, para além do repúdio moral à mentira generalizada como modelo político, era recolocá-lo no lugar de onde foi expulso pelo voluntarismo arrogante e mal articulado de Dilma Vana Rousseff.
Tudo o mais - as dosagens de assistência aos necessitados, desde que com os indispensáveis dispositivos de saída obrigatórios como provas de boa-fé para diferenciá-los das execráveis operações de compra de votos e exploração da miséria dessa "política" de fato "velha" aliada ao PT que sobrou -, como tem dito Aécio e como tem dito Marina, se mantém ou até se expande, se for o caso. O Brasil pode tranquilamente arcar com isso. Com o que não pode mais arcar, por um minuto que seja, é com o resto do pacote de aparelhamento do Estado e compra de poder à custa do futuro do Brasil do PT que sobrou e da legião dos indecorosos bilionários vendedores de "governabilidade" abraçado à qual ele tem a caradura de nos falar em "mudança".
O que nos disse esse PT que dispensa a contribuição dos fatos para compor sua versão da realidade com o bombardeio de "reclames" do gênero daqueles em que os pratos de comida de uns se esvaziavam na proporção em que os dos outros se enchiam é que não apenas faz sentido que a "Bélgica" vote maciçamente em Aécio e a "Índia" vote maciçamente em Dilma - tanto mais quanto mais para baixo estiver o eleitor no IDH -, como que não há outro caminho nesta nossa "Belíndia", onde, por definição, o bolo não cresce e cada um só pode aumentar seu quinhão à custa do dos demais, senão uma submeter a outra, pela força se houver resistência.
A mesma receita que o partido reconfirma com sua política de alinhamento automático com todas as ditaduras que cavalgam essa mesma falácia na arena internacional.
Mas esta eleição provou que, se existe um país manipulável porque vive na insegurança econômica extrema e tem prioridades mais urgentes que distinguir a verdade da mentira ou pensar além da sobrevivência até amanhã, convive com ele outro que, por cima dos matizes ideológicos em que se divide internamente, pode olhar para mais adiante e responde com avalanches de indignação às que lhe têm sido atiradas desaforadamente à cara, como confirma o contingente antipetista que chegou às urnas maior do que partiu.
Por que a relação desse Brasil com o PT que sobrou (depois da debandada da esquerda honesta) se vai tornando tão radicalmente insuperável? Porque, sendo esse PT essencialmente um produto desse mesmo Brasil com mais capacidade de discernimento, não poderá jamais convencê-lo de que não está mentindo a cada vez que mentir.
Para atrair o Brasil que vive da assistência à miséria, à margem da economia real, e continuar acenando-lhe com "uma melhora geral da economia" e uma "redução da desigualdade" que o IBGE não confirma o PT que sobrou terá de continuar mentindo, e cada vez mais à medida que suas mentiras forem piorando o ambiente econômico e empurrando os indicadores mais para baixo. E quanto mais mentir, maior será a indignação que colherá no Brasil que não só não engole suas mentiras, como, principalmente, se sente cada vez mais ameaçado pela temerária realimentação do ódio de classes para os quais elas inevitavelmente nos empurram.
O resultado que as urnas de domingo colheram reflete um movimento de autopreservação desse Brasil que, tudo indica, ainda não se completou. Pois, ao assumir a mentira como linha mestra de sua campanha, o PT que sobrou não está apenas confessando falido o "projeto" com que tenta vender-se ao outro, está declarando guerra ao Brasil com discernimento, posto que esse caminho não tem volta: ou o País inteiro regride ao estágio de que ainda não conseguiram sair os grotões - como foi feito nas ditaduras que o PT nos aponta como exemplos e se trata de fazer nos rebentos "bolivarianos" que nos cercam, calando a imprensa (e até o IBGE) e substituindo os debates legislativos dos representantes eleitos pelo povo pelos decretos das Organizações Não Governamentais Organizadas pelo Governo (ONGOGs), ditas "movimentos sociais", conforme prescrito no Decreto 8.243, baixado pela "presidenta" - ou confina esse PT ao nicho reservado aos dinossauros políticos que, em todo o resto do planeta, foram à extinção no ano 89 do século passado.
É isso que tem mantido unidas a esquerda e a não esquerda honestas e democráticas que, somadas, ainda são maioria na sociedade brasileira.
É normal e saudável que haja divergências a respeito do que se deseja para o País e que isso mude, na visão dos mesmos grupos, em diferentes momentos da conjuntura nacional e internacional. Mas até para que isso possa continuar sendo assim tem de haver uma concordância de todos a respeito do que não se deseja para o País, qualquer que seja a circunstância. E esse limite é o da preservação da democracia representativa (de todos os brasileiros, não só de alguns).
É sobre esse ponto que mostram estar de acordo os brasileiros todos que votaram sob o signo do antipetismo e, felizmente, tanto Aécio Neves quanto Marina Silva parecem ter entendido perfeitamente que é disso que se trata.
A "polarização entre PT e PSDB" em que insistia Marina é um falso problema. Ela existe no mundo inteiro, sob siglas variadas, com a diferença de que, quanto mais alto o IDH, os extremos entre as partes em disputa se vão aproximando do centro e a alternância no poder entre elas se vai tornando menos turbulenta. Aqui mesmo já estiveram muito menos afastados um do outro do que a distância para a qual voltaram a ser empurrados pelo sistemático processo de subversão de significados que o PT que sobrou conseguiu instalar nas escolas e universidades brasileiras, estas que vão despencando em queda livre pelos rankings internacionais de qualidade em função dessa violência.
O próprio Lula entendeu em 2002 que para eleger-se teria de comprometer-se com a democracia e com o modelo econômico civilizado, por acaso implantado no Brasil pós-Sarney pelo PSDB. A grande "novidade" que Marina Silva prometia, para além do repúdio moral à mentira generalizada como modelo político, era recolocá-lo no lugar de onde foi expulso pelo voluntarismo arrogante e mal articulado de Dilma Vana Rousseff.
Tudo o mais - as dosagens de assistência aos necessitados, desde que com os indispensáveis dispositivos de saída obrigatórios como provas de boa-fé para diferenciá-los das execráveis operações de compra de votos e exploração da miséria dessa "política" de fato "velha" aliada ao PT que sobrou -, como tem dito Aécio e como tem dito Marina, se mantém ou até se expande, se for o caso. O Brasil pode tranquilamente arcar com isso. Com o que não pode mais arcar, por um minuto que seja, é com o resto do pacote de aparelhamento do Estado e compra de poder à custa do futuro do Brasil do PT que sobrou e da legião dos indecorosos bilionários vendedores de "governabilidade" abraçado à qual ele tem a caradura de nos falar em "mudança".
11 de outubro de 2014
Fernão Lara Mesquita, O Estado de S.Paulo
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