A corrida está apenas começando, o que mudou foi o grid de largada. Com essa imagem, um assessor do tucano Aécio Neves define o ambiente no PSDB a partir da nova realidade eleitoral que presumivelmente surgirá das próximas pesquisas, fortemente influenciadas pela comoção provocada pela morte do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos.
Definida como a candidata substituta do PSB, Marina Silva deve aparecer no novo grid de largada à frente de onde estava Campos, talvez até à frente de Aécio Neves, que era o segundo colocado. Sondagens telefônicas nos últimos dias sugerem que Marina estaria empatada tecnicamente com o tucano, mas à frente numericamente. Se, mesmo assim, Aécio mantiver seu índice, é sinal de que tem votos cristalizados.
Todo o ambiente político está impregnado da tragédia, que hoje terá seu ápice no enterro em Recife, com a viúva Renata ao lado de Marina, protagonistas da nova cena eleitoral. Mesmo que não venha a ser a candidata a vice, o mais provável, Renata terá papel fundamental na campanha que recomeçará já amanhã.
Marina já deu o seu tom, ao afirmar que foi a providência divina que a tirou do avião, e que tem compromisso com a perda que Eduardo nos impõe . Na verdade, a razão de não estar no avião fatídico é bem mais prosaica e humana: ela não queria encontrar o deputado Márcio França (PSB), candidato a vice do governador tucano Geraldo Alckmin (coligação a que ela se opunha em SP) e que esperava o grupo em Santos.
Mas sem dúvida esse ar místico que envolve a ex-senadora dará à campanha o tom de escolhida pelo destino para presidir o país. Se se confirmarem as informações preliminares, Marina ganha força política para comandar uma campanha que será em tudo diferente da de 2010. Ela terá a apoiá-la partido mais bem estruturado do que era o PV, mas em compensação não terá unidade partidária no comando da campanha.
O presidente do PSB, Roberto Amaral, que foi obrigado a ungi-la candidata, terá o mesmo papel secundário do presidente do PV, José Luiz Penna, na campanha anterior, mas outros interesses partidários ao longo da campanha podem afastar os aliados de hoje, que engolem as diferenças devido à expectativa de poder que ela exibe nessa largada.
Se, porém, os caminhos da campanha a levarem a discordâncias programáticas com o que chama de velha política , ou com o agronegócio, corre o risco de ser cristianizada, ficando sem a estrutura hoje já precária. Num primeiro momento, ela representa a grande novidade, do mesmo modo que quando se uniu a Campos.
Com o tempo, o encanto do eleitorado foi se desvanecendo, e ela, que marcara 27% em uma pesquisa do Datafolha, acabou se transformando em uma possibilidade de transferência de votos para Campos que até agora não tinha se realizado.
A situação atual muda a perspectiva de Dilma, que contava ainda poder se eleger no 1º turno e agora tem pela frente um 2º turno praticamente certo. Já Aécio, que precisava de pouco para chegar ao 2º turno, terá que recomeçar a campanha dentro de uma nova dimensão. Antes, disputava com um candidato que tinha a metade de seus votos e a metade de seu tempo de propaganda eleitoral. Agora enfrentará uma candidata que, tudo indica, começa com o mesmo tamanho eleitoral e metade da propaganda, mas que é o dobro do que teve em 2010, quando fez 20% dos votos.
Aécio tem a tradição de oposição do PSDB e uma máquina partidária que até agora tem feito a diferença. Vai disputar contra duas mulheres e na condição de ser o mais desconhecido. Mas tem a vantagem de ser diferente de Dilma e Marina e ser mais próximo da figura política de Eduardo Campos, conciliador e negociador. Se Marina tirar mais votos de Dilma do que dele, há até mesmo a possibilidade, remota embora, de que o 2º turno seja contra Marina, e não contra Dilma.
Mas entrou na pista de corrida possibilidade que era quase inexistente antes, a de Marina ir ao 2º turno contra Dilma, deixando ao PSDB o papel de grande eleitor. Nas pesquisas anteriores, tanto Campos quanto Aécio cresciam muito num 2º turno contra Dilma, sendo que o tucano chegou a empatar tecnicamente com ela.
Se Marina surge na primeira pesquisa como capaz de vencer Dilma no 2º turno, torna-se automaticamente a candidata a ser vencida, condição que já foi de Aécio. A consistência dessa situação, só o desenrolar da campanha dirá.
27 de agosto de 2014
Merval Pereira, O Globo
Definida como a candidata substituta do PSB, Marina Silva deve aparecer no novo grid de largada à frente de onde estava Campos, talvez até à frente de Aécio Neves, que era o segundo colocado. Sondagens telefônicas nos últimos dias sugerem que Marina estaria empatada tecnicamente com o tucano, mas à frente numericamente. Se, mesmo assim, Aécio mantiver seu índice, é sinal de que tem votos cristalizados.
Todo o ambiente político está impregnado da tragédia, que hoje terá seu ápice no enterro em Recife, com a viúva Renata ao lado de Marina, protagonistas da nova cena eleitoral. Mesmo que não venha a ser a candidata a vice, o mais provável, Renata terá papel fundamental na campanha que recomeçará já amanhã.
Marina já deu o seu tom, ao afirmar que foi a providência divina que a tirou do avião, e que tem compromisso com a perda que Eduardo nos impõe . Na verdade, a razão de não estar no avião fatídico é bem mais prosaica e humana: ela não queria encontrar o deputado Márcio França (PSB), candidato a vice do governador tucano Geraldo Alckmin (coligação a que ela se opunha em SP) e que esperava o grupo em Santos.
Mas sem dúvida esse ar místico que envolve a ex-senadora dará à campanha o tom de escolhida pelo destino para presidir o país. Se se confirmarem as informações preliminares, Marina ganha força política para comandar uma campanha que será em tudo diferente da de 2010. Ela terá a apoiá-la partido mais bem estruturado do que era o PV, mas em compensação não terá unidade partidária no comando da campanha.
O presidente do PSB, Roberto Amaral, que foi obrigado a ungi-la candidata, terá o mesmo papel secundário do presidente do PV, José Luiz Penna, na campanha anterior, mas outros interesses partidários ao longo da campanha podem afastar os aliados de hoje, que engolem as diferenças devido à expectativa de poder que ela exibe nessa largada.
Se, porém, os caminhos da campanha a levarem a discordâncias programáticas com o que chama de velha política , ou com o agronegócio, corre o risco de ser cristianizada, ficando sem a estrutura hoje já precária. Num primeiro momento, ela representa a grande novidade, do mesmo modo que quando se uniu a Campos.
Com o tempo, o encanto do eleitorado foi se desvanecendo, e ela, que marcara 27% em uma pesquisa do Datafolha, acabou se transformando em uma possibilidade de transferência de votos para Campos que até agora não tinha se realizado.
A situação atual muda a perspectiva de Dilma, que contava ainda poder se eleger no 1º turno e agora tem pela frente um 2º turno praticamente certo. Já Aécio, que precisava de pouco para chegar ao 2º turno, terá que recomeçar a campanha dentro de uma nova dimensão. Antes, disputava com um candidato que tinha a metade de seus votos e a metade de seu tempo de propaganda eleitoral. Agora enfrentará uma candidata que, tudo indica, começa com o mesmo tamanho eleitoral e metade da propaganda, mas que é o dobro do que teve em 2010, quando fez 20% dos votos.
Aécio tem a tradição de oposição do PSDB e uma máquina partidária que até agora tem feito a diferença. Vai disputar contra duas mulheres e na condição de ser o mais desconhecido. Mas tem a vantagem de ser diferente de Dilma e Marina e ser mais próximo da figura política de Eduardo Campos, conciliador e negociador. Se Marina tirar mais votos de Dilma do que dele, há até mesmo a possibilidade, remota embora, de que o 2º turno seja contra Marina, e não contra Dilma.
Mas entrou na pista de corrida possibilidade que era quase inexistente antes, a de Marina ir ao 2º turno contra Dilma, deixando ao PSDB o papel de grande eleitor. Nas pesquisas anteriores, tanto Campos quanto Aécio cresciam muito num 2º turno contra Dilma, sendo que o tucano chegou a empatar tecnicamente com ela.
Se Marina surge na primeira pesquisa como capaz de vencer Dilma no 2º turno, torna-se automaticamente a candidata a ser vencida, condição que já foi de Aécio. A consistência dessa situação, só o desenrolar da campanha dirá.
27 de agosto de 2014
Merval Pereira, O Globo
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