"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 23 de agosto de 2014

CÍRCULO VICIOSO DO TERROR


A escalada da violência no Oriente Médio há muito deixou de ser fenômeno regional. É ingenuidade imaginar que a motivação que rouba vidas na Palestina, na Síria, no Paquistão, na Líbia ou em Israel tem nacionalidade conhecida e certidão de nascimento registrada em cartório. Não tem. A decapitação do jornalista James Foley transmitida mundo afora pela internet serve de assustador exemplo.

Não se deve ao acaso a escolha do carrasco encapuzado que matou o repórter americano. Especialistas em fonética identificaram que o algoz não só falava um inglês perfeito mas denunciava sotaque multicultural londrino. Trata-se de um entre tantos jovens dos cinco continentes que engrossam as fileiras jihadistas internacionais atraídos por apelos de ódio que se espalha como rastilho de pólvora. 

Além de britânicos, australianos, chineses e indonésios aparecem nas peças do terror divulgadas pelo grupo Estado Islâmico (EI). Formado por extremistas sunitas apeados do poder com a queda de Saddam Hussein, o EI espalha pânico no Iraque e no norte da Síria. Persegue minorias com crueldade que desconhece a compaixão. Dezenas de milhares de curdos se refugiaram em cavernas de montanhas e se tornaram reféns dos radicais, que os sitiaram e os impediram de sair. Na prática, condenaram-nos à morte - por falta de água, alimentos e remédios. 

Os Estados Unidos - principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre a antiga Mesopotâmia - mandaram ajuda humanitária aos refugiados e bombardearam os jihadistas para evitar o massacre de xiitas, curdos e cristãos. A resposta veio com a decapitação de James Foley e o recado de que, se os ataques continuarem, outro refém será sacrificado. Trata-se do jornalista Steven Sottof, ex-colaborador do Time, Foreign Policy e Christian Science Monitor.

A escalada do terror preocupa o mundo. O envolvimento de jovens de diferentes nacionalidades no Estado Islâmico permite imaginar que dificilmente a violência se restringirá ao Oriente Médio. É questão de tempo. Nada impede que a demonstração de força e poder chegue aos demais continentes. A reação será violenta e espalhará mais ódio que levará a mais violência.

Impõe-se cortar o círculo vicioso. Sem atacar a causa - o desamparo, a pobreza, a discriminação - abater os sintomas é secar gelo. Como as cabeças da hidra, novos grupos surgirão. A Al-Qaeda - que se notabilizou por espalhar o pânico com homens-bomba -, além de se multiplicar em células espalhadas mundo afora, convive agora com o Estado Islâmico, que, em vez de explodir as vítimas, corta-lhes a cabeça. É mais uma cabeça da hidra.
24 de agosto de 2014
Editorial Correio Braziliense
   

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