O PR-AFA de Eduardo Campos acertou Dilma
Se Aécio também foi atingido, é uma dúvida, mas o dano causado à campanha do PT é uma certeza
A conta é simples: em agosto do ano passado, antes de ter o registro de seu Rede negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, Marina Silva tinha 26% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha. Tendo-se abrigado no PSB, acabou numa chapa que era encabeçada por Eduardo Campos. Há um mês, tinham 8%.
Os números de uma nova pesquisa do Datafolha estarão nas ruas nos próximos dias. Partindo-se dos 8%, somando-se o efeito da comoção provocada pelo acidente do jatinho PR-AFA, ela poderá surpreender. Para que Dilma saia incólume, qualquer ponto percentual que vá para Marina precisará sair do acervo de Aécio Neves, e essa hipótese é absurda. Dilma certamente perde quando fortalece-se a possibilidade de um segundo turno. Se Aécio Neves perde algo com a nova situação, é uma dúvida.
Manejando-se apenas percentagens vai-se a lugar nenhum. Falta saber o que Marina proporá para transformar preferências em votos. No primeiro turno de 2010 ela teve cerca de 20 milhões de votos (19,33%). Até agora, o programa de sua chapa foi ralo e confuso. Fala em "eixos programáticos", "brasileiros socialistas e sustentabilistas", "borda de desfavorecidos", "democracia de alta intensidade", em "ampliar a dimensão dos controles ex post frente à primazia dos controles ex ante". Propõe plebiscitos e "um novo Estado". Isso pode dar em qualquer coisa.
Com dois minutos no programa eleitoral gratuito contra 11 de Dilma e quatro de Aécio Neves, só as redes sociais e a internet poderão socorrê-la. Tomara que isso aconteça e que ela ponha carne no feijão. A ideia de uma candidata a líder espiritual reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura.
TIRO NA DOUTORA
Na quinta-feira o presidente do PSB, Roberto Amaral, anunciou que o partido só decidiria a substituição de Eduardo Campos depois do seu sepultamento.
O PSB é soberano, mas, se alguém no Palácio do Planalto acreditou que, derrubando-se Marina Silva dentro da grande área ajuda-se a doutora Dilma, enganou-se.
O efeito da jogada seria um pênalti contra a meta de Dilma. Quem derruba jogador sempre espera que o juiz não veja o lance. No caso, os juízes serão os eleitores, sobretudo os indecisos ou parte daqueles que pensavam em anular o voto.
DILMÊS
Levando um texto escrito e falando da tribuna do Palácio do Planalto, a doutora Dilma tratou do desaparecimento de Eduardo Campos e disse o seguinte:
"Uma morte tirou a vida de um jovem político promissor".
JOSÉ DIRCEU
Pelas suas contas, o comissário José Dirceu acredita que em outubro deixará o regime semiaberto, dormindo em casa.
Felizmente, tanto ele como José Genoino abandonaram o comportamento teatral que exibiram no dia em que se apresentaram à prisão. Ambos de punho cerrado, e Genoino envolto numa cortina que servia-lhe de manto para sabe-se lá o quê.
FRITURA DE OBAMA
Outro dia Hillary Clinton deu uma entrevista atirando na testa do companheiro Barack Obama.
O casal Clinton mostrou que pretende esfolá-lo. Se Hillary acerta nas testas, Bill corta jugulares. Em novembro realizam-se eleições parlamentares e tudo indica que os republicanos mantêm a maioria na Câmara e arriscam levar também o Senado.
Os Clinton querem distância desse legado.
BOMBAS ATÔMICAS
Começou a contagem regressiva para os 70 anos das manhãs em que os Estados Unidos jogaram duas bombas atômicas sobre duas cidades japonesas, em agosto de 1945.
É uma grande história diplomática, industrial, tecnológica e militar. Está na rede o livro "Hiroshima Nagasaki - The Real Story of the Atomic Bombings" ("A História Real dos Bombardeios Atômicos"), do jornalista australiano Paul Ham. Sai por US$ 16,99. Cada aspecto da carnificina vale um livro, mas Ham conseguiu juntar todos num só. Era um tempo em que o presidente da Dupont relutava em participar da produção da bomba. Tendo aceitado construir a usina que produziria o plutônio que explodiu em Nagasaki, estabeleceu que a empresa não ganharia um tostão com isso.
Narrativa emocionante, sustenta que o uso das bombas em cima de duas cidades foi uma demasia. Coisas da vida. Passados 70 anos, muita gente pensa assim. Em 1945 ocorria o contrário, e a tardia rendição do Japão foi festejada em todo o mundo.
RECORDAR É VIVER
Rompimentos e alianças políticas são coisas fugazes, mas Eduardo Campos, falando da sala em que seu avô recebeu os militares que o prenderam no dia 1º de abril de 1964, informou a Lula que não pretendia mais ter relações políticas com ele.
ESPIRAL
O ministro Ricardo Lewandowski assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal e imediatamente vestiu o manto de presidente do sindicato dos magistrados.
Defendeu um aumento salarial para os juízes usando uma expressão capaz de assombrar Lula e a doutora Dilma. Segundo ele, há no Brasil uma "espiral inflacionária".
VIERALVES, O VANDERBILT DA UERJ
Em plena campanha eleitoral, caiu em cima da candidata a deputada federal Benedita da Silva a denúncia de que em 2010 dois de seus filhos, funcionários da Câmara Municipal desde 1987, foram pendurados na folha de pagamento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Faturaram R$ 143 mil.
À primeira vista, isso faz parte do tiroteio da campanha. Olhando-se bem, há meses a comissária Benedita, seus dois filhos e mais o reitor da Uerj, companheiro Ricardo Vieiralves de Castro, sabiam que estavam encrencados. O caso estourou agora porque não foi esclarecido direito enquanto era investigado pelo Ministério Público. Os dois filhos da deputada ficaram lotados no gabinete de Vieiralves. Diligências revelaram que eles lá não iam e em seus depoimentos deram explicações contraditórias a respeito de serviço que faziam. Os dois, mais Vieralves, tornaram-se réus na 1ª Vara da Fazenda Pública, acusados de improbidade administrativa. Benedita, não.
Filhos de maganos pendurando-se em Câmaras Municipais e transferindo-se para outras paragens são costumes antigos. Quando esse abrigo é uma universidade, dá pena. Quando nela é o gabinete do reitor, dá raiva. Desde que o processo foi aberto a Uerj manteve solene silêncio. Em busca da posição da universidade, no dia 12 os repórteres Cassio Bruno e Fábio Vasconcelos enviaram-lhe uma mensagem com perguntas. Passados dois dias depois, Vieiralves não se dignara a responder. O doutor pegou a linha de Alice Vanderbilt, a milionária americana que entrou no carro, disse o nome da dona da casa onde ia jantar, percebeu que o motorista tomou um caminho errado, mas ficou calada. Ela não falava com criados. Com uma diferença, madame Vanderbilt cuidava do dinheiro dela. Vieralves mexeu com dinheiro da Viúva.
Se Aécio também foi atingido, é uma dúvida, mas o dano causado à campanha do PT é uma certeza
A conta é simples: em agosto do ano passado, antes de ter o registro de seu Rede negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, Marina Silva tinha 26% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha. Tendo-se abrigado no PSB, acabou numa chapa que era encabeçada por Eduardo Campos. Há um mês, tinham 8%.
Os números de uma nova pesquisa do Datafolha estarão nas ruas nos próximos dias. Partindo-se dos 8%, somando-se o efeito da comoção provocada pelo acidente do jatinho PR-AFA, ela poderá surpreender. Para que Dilma saia incólume, qualquer ponto percentual que vá para Marina precisará sair do acervo de Aécio Neves, e essa hipótese é absurda. Dilma certamente perde quando fortalece-se a possibilidade de um segundo turno. Se Aécio Neves perde algo com a nova situação, é uma dúvida.
Manejando-se apenas percentagens vai-se a lugar nenhum. Falta saber o que Marina proporá para transformar preferências em votos. No primeiro turno de 2010 ela teve cerca de 20 milhões de votos (19,33%). Até agora, o programa de sua chapa foi ralo e confuso. Fala em "eixos programáticos", "brasileiros socialistas e sustentabilistas", "borda de desfavorecidos", "democracia de alta intensidade", em "ampliar a dimensão dos controles ex post frente à primazia dos controles ex ante". Propõe plebiscitos e "um novo Estado". Isso pode dar em qualquer coisa.
Com dois minutos no programa eleitoral gratuito contra 11 de Dilma e quatro de Aécio Neves, só as redes sociais e a internet poderão socorrê-la. Tomara que isso aconteça e que ela ponha carne no feijão. A ideia de uma candidata a líder espiritual reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura.
TIRO NA DOUTORA
Na quinta-feira o presidente do PSB, Roberto Amaral, anunciou que o partido só decidiria a substituição de Eduardo Campos depois do seu sepultamento.
O PSB é soberano, mas, se alguém no Palácio do Planalto acreditou que, derrubando-se Marina Silva dentro da grande área ajuda-se a doutora Dilma, enganou-se.
O efeito da jogada seria um pênalti contra a meta de Dilma. Quem derruba jogador sempre espera que o juiz não veja o lance. No caso, os juízes serão os eleitores, sobretudo os indecisos ou parte daqueles que pensavam em anular o voto.
DILMÊS
Levando um texto escrito e falando da tribuna do Palácio do Planalto, a doutora Dilma tratou do desaparecimento de Eduardo Campos e disse o seguinte:
"Uma morte tirou a vida de um jovem político promissor".
JOSÉ DIRCEU
Pelas suas contas, o comissário José Dirceu acredita que em outubro deixará o regime semiaberto, dormindo em casa.
Felizmente, tanto ele como José Genoino abandonaram o comportamento teatral que exibiram no dia em que se apresentaram à prisão. Ambos de punho cerrado, e Genoino envolto numa cortina que servia-lhe de manto para sabe-se lá o quê.
FRITURA DE OBAMA
Outro dia Hillary Clinton deu uma entrevista atirando na testa do companheiro Barack Obama.
O casal Clinton mostrou que pretende esfolá-lo. Se Hillary acerta nas testas, Bill corta jugulares. Em novembro realizam-se eleições parlamentares e tudo indica que os republicanos mantêm a maioria na Câmara e arriscam levar também o Senado.
Os Clinton querem distância desse legado.
BOMBAS ATÔMICAS
Começou a contagem regressiva para os 70 anos das manhãs em que os Estados Unidos jogaram duas bombas atômicas sobre duas cidades japonesas, em agosto de 1945.
É uma grande história diplomática, industrial, tecnológica e militar. Está na rede o livro "Hiroshima Nagasaki - The Real Story of the Atomic Bombings" ("A História Real dos Bombardeios Atômicos"), do jornalista australiano Paul Ham. Sai por US$ 16,99. Cada aspecto da carnificina vale um livro, mas Ham conseguiu juntar todos num só. Era um tempo em que o presidente da Dupont relutava em participar da produção da bomba. Tendo aceitado construir a usina que produziria o plutônio que explodiu em Nagasaki, estabeleceu que a empresa não ganharia um tostão com isso.
Narrativa emocionante, sustenta que o uso das bombas em cima de duas cidades foi uma demasia. Coisas da vida. Passados 70 anos, muita gente pensa assim. Em 1945 ocorria o contrário, e a tardia rendição do Japão foi festejada em todo o mundo.
RECORDAR É VIVER
Rompimentos e alianças políticas são coisas fugazes, mas Eduardo Campos, falando da sala em que seu avô recebeu os militares que o prenderam no dia 1º de abril de 1964, informou a Lula que não pretendia mais ter relações políticas com ele.
ESPIRAL
O ministro Ricardo Lewandowski assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal e imediatamente vestiu o manto de presidente do sindicato dos magistrados.
Defendeu um aumento salarial para os juízes usando uma expressão capaz de assombrar Lula e a doutora Dilma. Segundo ele, há no Brasil uma "espiral inflacionária".
VIERALVES, O VANDERBILT DA UERJ
Em plena campanha eleitoral, caiu em cima da candidata a deputada federal Benedita da Silva a denúncia de que em 2010 dois de seus filhos, funcionários da Câmara Municipal desde 1987, foram pendurados na folha de pagamento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Faturaram R$ 143 mil.
À primeira vista, isso faz parte do tiroteio da campanha. Olhando-se bem, há meses a comissária Benedita, seus dois filhos e mais o reitor da Uerj, companheiro Ricardo Vieiralves de Castro, sabiam que estavam encrencados. O caso estourou agora porque não foi esclarecido direito enquanto era investigado pelo Ministério Público. Os dois filhos da deputada ficaram lotados no gabinete de Vieiralves. Diligências revelaram que eles lá não iam e em seus depoimentos deram explicações contraditórias a respeito de serviço que faziam. Os dois, mais Vieralves, tornaram-se réus na 1ª Vara da Fazenda Pública, acusados de improbidade administrativa. Benedita, não.
Filhos de maganos pendurando-se em Câmaras Municipais e transferindo-se para outras paragens são costumes antigos. Quando esse abrigo é uma universidade, dá pena. Quando nela é o gabinete do reitor, dá raiva. Desde que o processo foi aberto a Uerj manteve solene silêncio. Em busca da posição da universidade, no dia 12 os repórteres Cassio Bruno e Fábio Vasconcelos enviaram-lhe uma mensagem com perguntas. Passados dois dias depois, Vieiralves não se dignara a responder. O doutor pegou a linha de Alice Vanderbilt, a milionária americana que entrou no carro, disse o nome da dona da casa onde ia jantar, percebeu que o motorista tomou um caminho errado, mas ficou calada. Ela não falava com criados. Com uma diferença, madame Vanderbilt cuidava do dinheiro dela. Vieralves mexeu com dinheiro da Viúva.
23 de agosto de 2014
Elio Gaspari, Folha de SP
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