"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de agosto de 2014

KGB, O BRAÇO ARMADO DA DITADURA DO PROLETARIADO



Quando ainda se encontrava no poder, Gorbachev afirmou que o mercado não era apenas uma invenção capitalista e sim “uma conquista permanente da civilização moderna”. E que, além do mercado, a propriedade privada e o princípio do lucro eram também “aquisições do mundo moderno”. No campo político, Gorbachev reconheceu como incontestáveis a democracia parlamentar e as liberdades individuais. Era, então, o tempo da perestroika e da glasnost. 
Alguém já se teria preocupado em analisar as conseqüências desses pronunciamentos do ex-Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e ex-presidente da ex-URSS?
Se o mercado é uma conquista permanente da civilização moderna, então o socialismo real, que o aboliu, cometeu um ato de barbárie e, por vir exigindo a supressão do mercado desde o Manifesto Comunista, ou seja, há mais de 150 anos, o ideal socialista é, ele próprio, uma ameaça à civilização, em vez de ser um corretivo para as mazelas do capitalismo selvagem.
No campo político, o socialismo antepôs a ditadura do proletariado à democracia. Já em 1918, essa ditadura fechou sumariamente a Assembléia Nacional Constituinte e instituiu os Gulags (mais de 4 milhões de vítimas reconhecidas, com dezenas de milhares de mortos, segundo estimativas), as fomes genocidas (7 milhões de mortos somente na Ucrânia), massacres (desde Kronstadt, em 1921, até Vilna, em 1991), sindicalismos de pelegos, hospitais psiquiátricos para os dissidentes e casas de repouso para os membros da nomenklatura e para os dirigentes dos partidos-irmãos.

A partir de tais pressupostos político-econômicos, o socialismo real asfixiou a vida social. O controle estatal da produção científica impôs à URSS e aos países satélites um calamitoso atraso tecnológico. Foram destruídas, quase por completo, as emergentes ciências humanas; a filosofia foi reduzida a serva da propaganda; a religião voltou às catacumbas e áreas inteiras da cultura ocidental foram totalmente censuradas.

As artes, no entanto, sofreram o pior. Os suicídios de Yessenin e de Maiakovski, o assassinato de Meyerhold, a deportação de Soljesnitsyn, a rejeição de Stravinski, são apenas alguns indícios dos assombrosos crimes culturais que deixaram desterradas, ou nos porões, as artes na ex-União Soviética, embora essa história ainda não tenha sido contada por inteiro.

Igualmente, em nome da revolução internacional e da vitória final do socialismo, as nações vizinhas da ex-União Soviética foram sistematicamente agredidas - recordemos as invasões dos países bálticos em 1918 e, posteriormente da Hungria, Checoslováquia, Polônia e Afeganistão -, e o mundo inteiro levado à beira do conflito nuclear.

Conclui-se, portanto, que o chamado socialismo real cometeu uma agressão sem precedentes à civilização, agressão que só pode ser comparada à desfechada, por outro tipo de socialismo, o nacional-socialismo.
Mas, além das fortes semelhanças, conforme Adolf Hitler afirmou em fevereiro de 1941 - “basicamente, o nacional-socialismo e o marxismo são a mesma coisa” -, existem entre o nazismo e o bolchevismo notáveis diferenças.
Uma delas é que o nacional-socialismo permaneceu 12 anos no poder, enquanto o Leviatã do socialismo real governou (governou?) por 70 anos.

Outra diferença é que o Nuremberg dos bolcheviques não aconteceu e, provavelmente, jamais ocorrerá, pois as instituições jurídicas criadas pelo socialismo real que, em parte, ainda permanecem vigentes, foram de tal forma corrompidas a ponto de não permitirem iniciativas nesse sentido.
Como não existe um vencedor oficial do socialismo real, não haverá julgamento formal de seus crimes contra a humanidade e, nesse sentido, cabe duvidar que o famoso julgamento da História, consolo vão dos acusadores impotentes faça, algum dia, justiça aos milhões de sacrificados nos arquipélagos Gulag.

Nesse sentido, segundo o jornalista inglês Paul Johnson, da revista “The Spectator” (jornal O Estado de São Paulo de 11 de janeiro de 1998), “O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão”, de autoria de um grupo de ex-marxistas, com 846 páginas, lançado em Paris em 1997, pode ser considerado o primeiro livro de consulta sobre o que autor chama de “tragédia planetária”.

O livro, logo transformado em um best-seller, mostra com riqueza de detalhes que os crimes do comunismo não apenas superaram de longe os do nazismo em termos de quantidade, mas que os dois sistemas, em todos os pontos básicos morais, foram similares.

Os nazistas foram responsáveis por 25 milhões de mortes, ao passo que os mortos nos vários Estados do socialismo real não ficaram aquém de 100 milhões, dentre os quais 20 milhões na Rússia e 65 milhões na China.

O mais importante, talvez, é que o “Livro Negro do Comunismo” submete esses crimes de Estado aos mesmos critérios judiciais iniciados com o Tribunal de Nuremberg, em 1945, e recentemente aplicados na Bósnia, na Sérvia e demais Estados que se desprenderam da ex-Iugoslávia.

Pelo artigo 6º dos Estatutos de Nuremberg, crimes de Estado se enquadram em três grandes categorias: crimes contra a paz, crimes de guerra, e crimes contra a humanidade.

Os autores do Livro Negro mostram com detalhes que os Estados comunistas e seus líderes, individualmente, foram culpados desses três crimes repetidas vezes e em escala colossal. A lista dos crimes de Stalin contra a humanidade é especialmente longa e horripilante, envolvendo mais de 10 milhões de pessoas.

Ele cometeu o crime de genocídio, conforme definido pelos tribunais internacionais, em diversas ocasiões: contra os kulaks russos, em que um genocídio de classe substituiu o genocídio de raça, em 1930-1932; contra os ucranianos, em 1932-1933; contra os poloneses, bálticos, moldavos e bessarábios, em 1939-1941, e de novo, em 1944-1945, contra os poloneses; contra os alemães do Volga em 1941; os tártaros da Criméia em 1943; os chechenos em 1944 e os inguches também em 1944.
Grande parte desses crimes foi cometida pela KGB, braço-armado da ditadura do proletariado.

10 de agosto de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário