Hoje a ombudsman da Folha de São Paulo, Vera Guimarães, confirma o post que fizemos no último dia 19, cuja reprodução está acima e o link está aqui. O nosso blog dizia:
A Folha de São Paulo dilmou de vez. No dia em que começa a propaganda eleitoral, a manchete de capa é esta aí que vocês estão vendo. Agora respondam: o que Lula tem a ver com a campanha eleitoral? De novo, é o jornal querendo assumir um protagonismo que não é seu. E trazendo Lula para a campanha até antes do PT. Mas não é só isso.
Vejam o que escreve Vera Guimarães:
É furo: Lula vai apoiar Dilma na TV
Manchete da capa de terça (19): "Na TV, Lula prometerá um 2º governo Dilma melhor'". Na linha abaixo do título: "Petista pedirá voto sem medo' na presidente, em estreia de programa eleitoral".
Que outro enunciado poderia o PT pedir aos céus senão algo assim, estampado em quatro colunas na "Primeira Página" da Folha, exatamente no dia da estreia do horário eleitoral gratuito?
Não por acaso, a reportagem foi replicada em site alinhado ao partido, que postou link para o conteúdo integral do texto no jornal. Certos estão os aliados em tirar proveito da generosidade inusual.
Adiantar o conteúdo de um programa cuja divulgação era de grande interesse do partido não chega a ser furo relevante, mas o relato, inédito, tinha seu valor jornalístico.
O problema foi o destaque conferido a uma notícia do tipo que os jornalistas definimos como "o cachorro mordeu o homem". Traduzindo, um fato corriqueiro, esperado, que segue a ordem natural das coisas. A rigor, a manchete só deveria contemplar o inverso, o fato de "o homem morder o cachorro" --o que seria o caso, se Lula não fosse trabalhar para eleger sua candidata. "A manchete de hoje é falta de assunto?", perguntou um leitor. Era.
A Secretaria de Redação justificou o destaque afirmando que se tratava de uma apuração exclusiva da Sucursal em Brasília. "Conseguimos antecipar dois pontos [do programa de TV]: o uso do ex-presidente Lula mais uma vez como principal cabo eleitoral de Dilma, assim como ocorreu em 2010, e o mea-culpa petista de que as coisas não andaram muito bem neste atual mandato."
Vamos combinar que nenhum dos dois valia o peso dado. O primeiro ponto é uma obviedade e o segundo, uma ilação. É preciso grande dose de boa vontade ou ingenuidade para crer que Lula estivesse criticando o governo da pupila ao dizer que um eventual segundo mandato dela será melhor que o primeiro.
Mas a questão principal é que faltou equilíbrio na "Primeira Página". Se a maior novidade (!) do horário eleitoral vinha dos petistas, a edição poderia ter contrabalançado a exposição maior do partido dando destaque, na linha abaixo do título, aos outros candidatos. Não deu. PSDB e PSB só apareceram no último parágrafo da chamada.
Para evitar equívocos e acusações fáceis, enfatizo que meu ponto não é quem foi o beneficiado, mas o desequilíbrio noticioso. Na dúvida, sugiro o exercício inverso: e se a manchete fosse Fernando Henrique Cardoso prometendo que Aécio Neves fará um governo melhor?
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