“Os idiotas são muito perigosos, e não tanto porque são obrigatoriamente maus, mas porque é-lhes estranho qualquer tipo de considerações e entram de chancas, como se lhes pertencesse o caminho onde se encontram”. Mikhail Saltykov-Schedrin
Recordei-me das palavras deste clássico da literatura russa do séc. XIX a propósito da “coluna humanitária” russa que entrou no território da Ucrânia sem qualquer tipo de autorização. Vladimir Putin achou que a coluna de quase 200 camiões devia entrar no território do país vizinho sem a autorização dos poderes competentes e sem a coordenação com a Cruz Vermelha Internacional, e assim aconteceu não obstante os protestos internacionais.
Quando o Presidente russo, em Agosto de 2008, decidiu anexar a Ossétia do Sul e Abkhásia, repúblicas separatistas da Geórgia, o chamado Ocidente, depois de fracos protestos, engoliu essa violação do Direito Internacional. Seis anos depois, o mesmo Ocidente parecia estar disposto a esquecer a anexação da Crimeia pela Rússia na esperança de que o Kremlin se acalmasse. Mas a história repete-se e o apetite aumenta cada vez mais.
Andrey Lissenko, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, acusou a Rússia de utilizar os camiões vazios para trazer para território russo aparelhagem e maquinaria de uma fábrica que produz radares e de outra que fabrica munições para armas ligeiras.
Visto que importantes peças e equipamentos para o complexo militar-industrial russo são fabricados no sudeste da Ucrânia, é de esperar que os camiões semi-vazios russos continuem a atravessar cada vez mais frequentemente a fronteira com o país vizinho sob o pretexto da ajuda humanitária.
Ontem, 23 de Agosto, no dia em que se assinala o 50º aniversário do Pacto Molotov-Ribbentropp, a chanceler alemã foi a Kiev dizer que não permitirá uma nova divisão da Europa e propôs dois pontos para a solução do conflito no sudeste da Ucrânia: a iniciativa de cessar de fogo deve ser apoiada pela Rússia e a fronteira russo-ucraniana deverá ficar sob rigoroso controlo internacional. O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, deposita esperanças no encontro com o homólogo russo, marcado para 26 de Agosto em Minsk. Porém, não há motivos para optimismo, pois Moscovo diz não violar as fronteiras da Ucrânia, nem apoiar, com armas e homens, os separatistas do sudeste ucraniano.
P.S. Os dirigentes separatistas da auto-proclamada República Popular de Donetsk apelam à Rússia o envio de ajuda humanitária, pois a que chegou, ficou emn Lugansk. Ou seja, a telenovela continua.
24 de agosto de 2014
in Da Rússia
Jose Milhazes
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