Movimento Revolucionário
Wotan, o incansável errante, o agitador, que ora aqui ora ali provoca a disputa ou exerce efeitos mágicos, foi transformado pelo cristianismo no demônio, só aparecendo como fogo fátuo em noites de tormenta ou como caçador fantasmagórico acompanhado de sua comitiva nas tradições locais cuja tendência era o desaparecimento. Sem dúvida alguma, o papel do errante sem trégua foi desempenhado, na Idade Média, pela figura então surgida de Ahasverus que não constitui uma lenda judaica e sim cristã, ou seja, o motivo do errante não incorporado por Cristo precisou ser projetado para os judeus, da mesma maneira que encontramos, nos outros, conteúdos que se tornaram inconscientes para nós. Em todo caso, a coincidência entre o anti-semitismo e o redespertar de Wotan é uma jinesse psicológica que deve ser mencionada...Carl Jung, “Wotan” em Aspectos do drama contemporâneo
Desde a Segunda Guerra Mundial, o nome de Hitler tem sido um sinônimo de mal no Ocidente. Por ventura, ele acabou por ter o mesmo destino de Wotan conforme descrito por Jung acima. Com efeito, ele foi transformado em um demônio político durante uma era secular em que todos os conceitos religiosos foram suprimidos para darem lugar aos seculares. E Hitler foi o líder do movimento Nacional Socialista na Alemanha. E como Hitler foi um nacionalista, a partir de então passou a ser obsceno ser nacionalista.
Simultaneamente, as referências ao socialismo de Hitler foram tipicamente silenciadas, isto é, a menos que um socialista queira dizer que a política econômica de Hitler (o próprio socialismo) salvou a economia alemã (que é o elogio que nos é permitido fazer a Hitler).
Desde a Segunda Guerra Mundial, o nome de Hitler tem sido um sinônimo de mal no Ocidente. Por ventura, ele acabou por ter o mesmo destino de Wotan conforme descrito por Jung acima. Com efeito, ele foi transformado em um demônio político durante uma era secular em que todos os conceitos religiosos foram suprimidos para darem lugar aos seculares. E Hitler foi o líder do movimento Nacional Socialista na Alemanha. E como Hitler foi um nacionalista, a partir de então passou a ser obsceno ser nacionalista.
Simultaneamente, as referências ao socialismo de Hitler foram tipicamente silenciadas, isto é, a menos que um socialista queira dizer que a política econômica de Hitler (o próprio socialismo) salvou a economia alemã (que é o elogio que nos é permitido fazer a Hitler).
Ao usar a imagem de Hitler nos últimos 70 anos, fizemos um joguete com nós mesmos.
Na educação de todos os cidadãos, inculcamos a seguinte visão acerca do genocídio: os genocídios organizados pelos comunistas devem ser mencionados na mídia com menos frequência do que os de Hitler. Embora os ditadores comunistas tenham matado dezenas de milhões a mais que Hitler, devemos pensar apenas em Hitler quando o assunto em discussão for assassinatos em massa. Quando Mao matou entre 50 e 60 milhões de chineses, ou quando Stálin matou 11 milhões de ucranianos, nós comumente evitamos o termo “genocídio” ou holocausto para descrever os crimes comunistas.
Não queremos colocar em circulação palavras-chave que possam associar na mente das pessoas o marxismo ao assassinato em massa. Reservamos para Hitler os assassinatos em massa, para que a perversidade dele possa ser mais bem lembrada. Um exemplo disso: quantas pessoas chegaram a conhecer o termo “holodomor”? Essa é uma palavra ucraniana que significa o assassinato em massa que usa como arma a fome; essa ‘arma’ foi usada pelo governo de Stálin no começo dos anos 1930 e matou mais ucranianos do que Hitler matou judeus.
Em muitas das universidades hoje, aqueles que favorecem o comunismo tentam retratar Hitler como um mero copiador dos colonizadores que mataram índios e escravizaram africanos no século XIX. Do ponto de vista socialista, é importante que a palavra-chave ‘atrocidade’ associada a Hitler seja aplicada ainda mais fortemente aos países ocidentais do que aos países comunistas. Assim, nos textos dos livros de história atuais, as chamadas Guerras Indígenas nos Estados Unidos são descritas como “holocausto” ou “genocídio”.
(Veja American Holocaust ou Sexual Violence and American Indian Genocide de David E. Stannard.) É muito importante que os crimes dos Estados Unidos pesem muito mais do que os outros crimes na história, até mais do que os crimes de Hitler. Um site marxista-leninista, o EspressoStalinist.com, diz que entre 95 e 114 milhões de americanos nativos foram assassinados por europeus desde os tempos de Colombo. Nos últimos tempos esses valores têm sido mais frequentemente repetidos, e é bem mais provável que eles sejam ensinados do que as velhas estimativas. O site supracitado também cita o biógrafo de Hitler, John Toland:
O conceito de campos de concentração, assim como a viabilização do genocídio, devem muito, diz ele, aos estudos da história inglesa e americana. Ele admirava os campos de prisioneiros bôeres na África do Sul e de índios no faroeste. Frequentemente ele louvava perante seus amigos próximos a eficiência que os americanos tinham no extermínio [...] dos selvagens de pele vermelha que não podiam ser domesticados pela prisão.
Sendo assim, ao cometer o holocausto, Hitler estava apenas mimetizando a política governamental americana que fora usada contra os índios. Nesse revisionismo histórico, o genocídio torna-se uma mácula especial na sociedade capitalista branca e na cristandade. Neste caso, passa-se um julgamento moral que condena a civilização ocidental, pois se a Alemanha nazista teve de ser destruída por suas atrocidades genocidas, então a América também tem de pagar o derradeiro preço.
Se uma nação se convence da sua própria e especial perversidade, como ela se defenderá? As pessoas normalmente não lutam e morrem por aquilo que acreditam ser errado. E se a perversidade americana é como a de Hitler, que direito tem a América de existir? Quanto a fronteira de um país assim, dificilmente pode se usar o nome ‘fronteira’ para ela. Certamente, tal fronteira é uma injustiça que deve cessar de existir. A ideia de um Estados Unidos como um país de origem europeia que se inspirou nos modelos políticos da Grécia e de Roma serve antes de qualquer coisa para culpar todos de racismo endêmico e indignidade.
Se o pano de fundo europeu da América é repreensível e racista, então o país deve lutar para se tornar “marrom”. Ele deve rejeitar a Europa e adotar incondicionalmente qualquer outra coisa. Todas as tribos, religiões e etnias precisam ser convidadas a viver na América, pois apenas assim a perversidade do colonialismo europeu pode ser expurgada. Apenas assim a mácula do racismo pode ser eliminada. Essa é a lógica de hoje que busca trocar a América por uma entidade multicultural. Aqui o socialismo está destinado a substituir o capitalismo. De agora em diante, não pode haver qualquer “cultura americana” ou qualquer identidade “americana”. De agora em diante, há apenas as tribos da Terra vivendo sob o jugo igualitarista.
A respeito da imagem de Hitler na desintegração do Ocidente, vemos o mesmo processo acontecer na Europa. Lá o muçulmano entra na Europa e ao europeu não é permitido uma palavra para se defender. A Europa deve se curvar a Alá e à sua religião. A Europa tem de se curvar à África e à Ásia. Não se discute se a Europa é para os europeus, pois isso sugeriria hitlerismo.
Agora é a vez da Europa ser colonizada. Se Hitler foi um perverso racista, então as forças coloniais são más e racistas. Se Hitler não tinha direito de existir, então a própria Europa não tem direito de existir. O triunfo do liberalismo sobre Hitler determinou isso, e nós seguimos isso, pois não queremos estar do lado errado da história. Não obstante, lembro do aviso de Nietzsche, que deveria ser citado mais frequentemente:
Para toda espécie de homem que permanece vigorosa e próxima à natureza, o amor e o ódio, a gratidão e a vingança, a bondade e a cólera, o fazer e o não-fazer são inseparáveis. É-se bom com a condição de que também se saiba ser mau; é-se mau porque de outra forma não se poderia ser bom. De onde, portanto, provém esse estado doentio, essa ideologia contra a natureza, que nega esse caráter duplo, — que ensina como virtude suprema possuir somente um semivalor? [Vontade de Poder]
O liberalismo moderno definiu o que é bom, e definiu de tal maneira que tornou-se inegável essa definição às próprias coisas boas. Nossa própria história desde 1945 é a história da crescente paralisia estratégica. Primeiro devemos bombardear uma ponte. Depois temos de empreender uma guerra sem buscar a vitória. Depois não podemos dar o nome do nosso inimigo. Depois devemos dar exemplo aos outros deixando de lado nosso arsenal nuclear.
Agora descobrimos que o guerreiro, que é homem, não tem permissão para ser um varão. Apenas a uma mulher é permitido ser viril. Vimos por aí que certos princípios universais substituíram o instinto humano — mas apenas no Ocidente (e em nenhum outro lugar). Também vimos que esses princípios podem ser auto-destrutivos ou auto-aniquilantes. E assim podemos afirmar que, em um grau mais profundo, aquilo que James Burnham afirmou sobre o liberalismo ter sido a ideologia do suicídio ocidental.
O que é um homem, pergunta Nietzsche, sem suas possibilidades de defesa e ataque? Ele é uma nulidade. A despeito de a nossa civilização ter funcionado por muito tempo com um conceito unilateral de bondade, hoje temos um falso ideal acerca daquilo que é “bom” que acaba por ditar uma política unilateral de desarmamento, uma tentativa de conciliação com inimigos mortais e a anulação da fronteira dos EUA.
Os que se opõem a esse “suicídio do Ocidente” são chamados de racista e islamofóbicos. Comparam eles a Hitler. Eis um exemplo de adoção de um idealismo que faz com que “o homem ampute os instintos que possibilitam a ele ser um inimigo, a ser nocivo, a ter raiva e a insistir na vingança”, disse Nietzsche. “Esse método de atribuição de valores acredita-se ser “idealista”; nunca se duvida que no seu conceito de ‘homem bom’ encontra-se o seu mais alto desejo”.
Vemos evidentemente que a imagem de Hitler na desintegração do Ocidente não é a origem do nosso problema. Essa imagem é apenas mais uma arma psicológica forjada pelo liberalismo moderno, que se tornou vítima de um velhíssimo e falso sistema de valoração que Nietzsche criticou em 1888. Esse falso sistema de valoração foi mencionado por Carl Jung em seu livro Aion: Estudos do Simbolismo do Si-mesmo. Jung disse que a única maneira de livrarmo-nos do nosso dilema é “uma nova assimilação do mito tradicional”.
Neste caso, o homem instintivo pode ser reconciliado com o homem racional (ou liberal). Não obstante, a assimilação do mito pressupõe, segundo Jung, “a continuidade do desenvolvimento histórico”. Jung tinha suas dúvidas acerca dessa possibilidade, e escreveu que “naturalmente, a tendência atual em destruir todo tipo de tradição... poderia interromper o processo normal de desenvolvimento por centenas de anos e poderia colocar em seu lugar a barbárie”.
Logo adiante ele diz que “onde quer que prevaleça a utopia marxista, isso já aconteceu”. Por acaso não tem prevalecido na América a utopia marxista? Pois o que mais seria o estado de bem-estar social? O que seria então o Obamacare? E o sistema progressivo de impostos? E esse politicamente correto que impera em nossas universidades e escolas? Em que outro lugar essa pandemia de neuroses chegou a esse ponto? Certamente não na Rússia ou na China.
Ideias que causam confusão se espalharam como uma doença fatal por todo o meio político. O senso comum não é mais comum. A autoridade foi atenuada e as estruturas hierárquicas estão entrando em colapso. O processo avança desenfreadamente, pois a própria doença se apresenta como a cura. Sendo assim, toda cura passa a ser, por sua vez, considerada mais uma forma de doença.
Os infectados são considerados os mais nobres e mais avançados em pensamento do que os que não são. A neurose passou a ser cada vez mais aguda, de modo que passou a ser o prenúncio de um colapso ainda maior, dado que as coisas não podem continuar assim para sempre. Alguma coisa tem de ceder. O que isso implica foi sugerido por Jung na seguinte passagem:
O grande Plano segundo o qual é construída a vida inconsciente da alma é tão inacessível à nossa compreensão que nunca podemos saber que mal é necessário para que se produza um bem por enantiodromia, e qual o bem que pode levar em direção ao mal. [“A fenomenologia do espírito no conto de fadas” em Os arquétipos e ο inconsciente coletivo]
Outro quebra-cabeças, outro paradoxo. A imagem de Hitler como o santo patrono dos perversos une a ideia de força com a ideia de mal, fazendo com que assim a fraqueza possa ser o único tipo admissível de bem. Apenas os fracos não oferecem perigo e, portanto, são aceitáveis. Assim, para que possamos justificar nossa existência, precisamos agora enfraquecermo-nos. Precisamos abandonar nosso bem-estar. Devemos abdicar das armas. Devemos pedir desculpa pelo sucesso. Devemos abrir nossas fronteiras. Devemos curvarmo-nos a Alá.
Eis um celeiro de grande perversidade, pois o que de bom acaba sendo produzido no final das contas? Nietzsche alerta que “Talvez não tenha existido, até o presente, ideologia mais perigosa, maior desatino in psychologicis que essa vontade do bem: fizeram desenvolver o tipo mais repugnante, o homem que não é livre...”. Mais adiante ele se pergunta “que adianta esforçar-se em declarar que a luta é má... Apesar de tudo se guerreia! não se pode fazer de outra maneira!”
O pacifista não pode forçar o seu pacifismo e, portanto, é uma nulidade. A própria benevolência se tornou uma nulidade, pois perdeu sua energia. Pergunte a si mesmo: Por que é obsceno agir em interesse próprio? por que devemos agir apenas em prol do interesse da maior nulidade de todas — humanidade? Quem exatamente é a humanidade? Como explicou Kierkegaard, o público é um monstruoso nada; e o que é “o público” senão a humanidade? Eis o perigo que circunda todo esse negócio de ideais universais. Eles são monstruosos nadas e nós, ao acreditarmos neles, nos anulamos.
Com tudo a nossa volta se desintegrando e a imagem de Hitler sobreposta no todo, nossa culpa coletiva nos engole. Passamos a ser subitamente incapazes de defender nossa civilização. Por que votamos em Obama? Por que aceitamos a negação da América em nome do estandarte do multiculturalismo? Por que nos tornamos co-conspiradores na ascensão do islã, na supremacia econômica da China, na sovietização das nossas escolas públicas, na socialização do sistema de saúde e no descuido do nosso arsenal nuclear?
Com tudo a nossa volta se desintegrando e a imagem de Hitler sobreposta no todo, nossa culpa coletiva nos engole. Passamos a ser subitamente incapazes de defender nossa civilização. Por que votamos em Obama? Por que aceitamos a negação da América em nome do estandarte do multiculturalismo? Por que nos tornamos co-conspiradores na ascensão do islã, na supremacia econômica da China, na sovietização das nossas escolas públicas, na socialização do sistema de saúde e no descuido do nosso arsenal nuclear?
Joseph Schumpeter uma vez escreveu que o liberalismo não poderia existir sem um apoio ‘iliberal’. Pois bem, removemos todos os apoios iliberais apenas para constatar que o próprio liberalismo não se sustenta. Assaltados pelo comunismo, pelo nazismo, e agora pela Quarta Teoria Política, temos de cortar todos os recursos iliberais no curso da batalha contra o super-iliberalismo (i.e. o totalitarismo).
Será que Deus agora prepara uma enantiodromia (como diz Jung) em que o Oriente se torna Ocidente e o Ocidente se torna Oriente? Poderia haver, no meio da revolução ucraniana, uma renovação que liberte tanto o Ocidente quanto o Oriente? Ou estamos destinados a experimentar outra guerra catastrófica na própria imagem de Hitler?
24 de agosto de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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