Para usar um verbo que há de fazer parte do seu léxico peculiar, a candidata Marina Silva se pôs a subsumir o PSB na sua Rede Sustentabilidade, como se o movimento que ela não logrou transformar em partido no ano passado fosse maior que a histórica legenda socialista, criada em 1947, 11 anos antes do nascimento da ex-senadora e ex-ministra. Na constelação partidária brasileira, o PSB de que os marineiros procuram se apropriar decerto não é nenhuma estrela de primeira grandeza.
Ainda assim, tendo saído das urnas de 2010 com 5 governadores (entre eles o pernambucano Eduardo Campos, morto na semana passada), 4 senadores e 34 deputados federais (acentuando uma ininterrupta curva de crescimento a contar de 2002), é uma potência política média. A essa condição a Rede só poderá aspirar em futuro incerto e não sabido, mesmo se conseguir no próximo ano coletar as assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral para ser incluída no sistema partidário nacional - cerca de 500 mil, atualmente.
Parafraseando o veterano militante socialista Carlos Siqueira, coordenador-geral da operação que, por força de trágica circunstância, deixou de ser a de Eduardo Campos, Marina, depois de se fazer hospedar pelo partido, para não ficar à margem da sucessão presidencial, em poucos dias resolveu tornar-se ela a dona da casa. Argumentando que a candidata a vice, alçada pelo imponderável a titular da chapa ao Planalto, "está longe de representar o legado de Eduardo", Siqueira saiu da campanha batendo a porta com força.
Com notável sem-cerimônia, de fato, Marina não perdera tempo para colocar os seus principais aliados no controle compartilhado da empreitada - a coordenação e o setor financeiro. Para aplacar a velha guarda, a direção da legenda entregou a coordenação à deputada federal Luiza Erundina, amiga próxima da candidata. Tensões do gênero não são incomuns em comitês eleitorais mesmo quando o candidato não é um adventício na sigla que o sagrou. É provável que o personalismo de Marina - que a sua aureolada imagem pública esconde - dê origem a novos atritos, em prejuízo do engajamento dos antigos eduardistas.
Mas isso não deverá passar de marola enquanto ela continuar a ser percebida - no partido, entre os analistas eleitorais, na mídia e pelos próprios oponentes - como tendo chances efetivas não apenas de chegar ao segundo turno, mas de enfrentar de igual para igual a presidente Dilma Rousseff. Essa visão resulta da pesquisa do Datafolha que a emparelhou com o tucano Aécio Neves na segunda posição graças aos votos de parte ponderável dos eleitores até então indecisos ou propensos a invalidar o voto. Na mesma sondagem, em um tira-teima com Dilma, Marina termina à frente com 4 pontos de vantagem, no limite da margem de erro.
Tais números - que estariam sendo confirmados por levantamentos para uso interno do governo, partidos e setores empresariais - disseminaram o medo entre os adversários. No jargão da imprensa, acendeu-se no PT a "luz amarela", no PSDB, a "luz vermelha. Para não incorrer na ira dos eleitores que praticamente veneram Marina, Dilma e Aécio se guardam de criticá-la, cada qual esperando que o outro tome a iniciativa. Se esse temor reverencial perdurar nos debates televisivos marcados para a próxima terça-feira (Rede Bandeirantes) e na segunda seguinte (SBT), ficando limitadas à petista e ao tucano as cobranças recíprocas, a omissão será um ato de lesa-eleitor.
Isso porque ele não será levado a se perguntar que presidente da República poderá ser a candidata que ninguém ousa confrontar. Pelo que se vê, para começar, ela não terá a menor aptidão para constituir um equipe para tocar o dia a dia do governo, sem o que as melhores promessas e os mais avançados programas se desmancham no ar. Além disso, procedem as dúvidas sobre como se haverá no poder uma pessoa que dá motivos para crer que se julga eleita por Deus - o que esteve perto de afirmar depois da tragédia com o voo no qual também ela poderia ter viajado. Cabe indagar ainda como, avessa à "velha política", enfrentará a servidão de chefiar um governo sem maioria parlamentar. Marina presidente é prenúncio de uma crise depois da outra.
Ainda assim, tendo saído das urnas de 2010 com 5 governadores (entre eles o pernambucano Eduardo Campos, morto na semana passada), 4 senadores e 34 deputados federais (acentuando uma ininterrupta curva de crescimento a contar de 2002), é uma potência política média. A essa condição a Rede só poderá aspirar em futuro incerto e não sabido, mesmo se conseguir no próximo ano coletar as assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral para ser incluída no sistema partidário nacional - cerca de 500 mil, atualmente.
Parafraseando o veterano militante socialista Carlos Siqueira, coordenador-geral da operação que, por força de trágica circunstância, deixou de ser a de Eduardo Campos, Marina, depois de se fazer hospedar pelo partido, para não ficar à margem da sucessão presidencial, em poucos dias resolveu tornar-se ela a dona da casa. Argumentando que a candidata a vice, alçada pelo imponderável a titular da chapa ao Planalto, "está longe de representar o legado de Eduardo", Siqueira saiu da campanha batendo a porta com força.
Com notável sem-cerimônia, de fato, Marina não perdera tempo para colocar os seus principais aliados no controle compartilhado da empreitada - a coordenação e o setor financeiro. Para aplacar a velha guarda, a direção da legenda entregou a coordenação à deputada federal Luiza Erundina, amiga próxima da candidata. Tensões do gênero não são incomuns em comitês eleitorais mesmo quando o candidato não é um adventício na sigla que o sagrou. É provável que o personalismo de Marina - que a sua aureolada imagem pública esconde - dê origem a novos atritos, em prejuízo do engajamento dos antigos eduardistas.
Mas isso não deverá passar de marola enquanto ela continuar a ser percebida - no partido, entre os analistas eleitorais, na mídia e pelos próprios oponentes - como tendo chances efetivas não apenas de chegar ao segundo turno, mas de enfrentar de igual para igual a presidente Dilma Rousseff. Essa visão resulta da pesquisa do Datafolha que a emparelhou com o tucano Aécio Neves na segunda posição graças aos votos de parte ponderável dos eleitores até então indecisos ou propensos a invalidar o voto. Na mesma sondagem, em um tira-teima com Dilma, Marina termina à frente com 4 pontos de vantagem, no limite da margem de erro.
Tais números - que estariam sendo confirmados por levantamentos para uso interno do governo, partidos e setores empresariais - disseminaram o medo entre os adversários. No jargão da imprensa, acendeu-se no PT a "luz amarela", no PSDB, a "luz vermelha. Para não incorrer na ira dos eleitores que praticamente veneram Marina, Dilma e Aécio se guardam de criticá-la, cada qual esperando que o outro tome a iniciativa. Se esse temor reverencial perdurar nos debates televisivos marcados para a próxima terça-feira (Rede Bandeirantes) e na segunda seguinte (SBT), ficando limitadas à petista e ao tucano as cobranças recíprocas, a omissão será um ato de lesa-eleitor.
Isso porque ele não será levado a se perguntar que presidente da República poderá ser a candidata que ninguém ousa confrontar. Pelo que se vê, para começar, ela não terá a menor aptidão para constituir um equipe para tocar o dia a dia do governo, sem o que as melhores promessas e os mais avançados programas se desmancham no ar. Além disso, procedem as dúvidas sobre como se haverá no poder uma pessoa que dá motivos para crer que se julga eleita por Deus - o que esteve perto de afirmar depois da tragédia com o voo no qual também ela poderia ter viajado. Cabe indagar ainda como, avessa à "velha política", enfrentará a servidão de chefiar um governo sem maioria parlamentar. Marina presidente é prenúncio de uma crise depois da outra.
24 de agosto de 2014
Editorial O Estadão
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