"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

RISCO CAMBIAL

O Banco Central decidiu manter, sem data para terminar, o programa de oferta de garantia cambial, o que tem provocado um debate no mercado. Há quem considere que isso aumenta o risco do Banco Central e o faz, na prática, manipular a taxa de câmbio. Mas o programa é elogiado no governo porque estaria dando garantia a quem precisa, por ter compromissos assumidos.

O Banco Central passou a operar mais diretamente no mercado de câmbio quando foi anunciada a retirada dos estímulos monetários americanos. De fato, foi um momento de muita volatilidade. Um ano depois, o estresse passou, mas ele continua atuando e anunciou agora que o programa permanece. No mercado, o que se diz é que a autoridade monetária está usando o câmbio para ajudar a política anti-inflacionária e que corre riscos por estar vendido em US$ 88 bilhões no mercado futuro.

As operações já superam o auge da crise de 2008. Isso quer dizer que o Banco Central fechou contratos com instituições financeiras atrelados à oscilação do câmbio. Se o real se valorizar, o BC tem lucro. Se perder valor, o BC tem prejuízo que precisará ser coberto pelo Tesouro. O que transforma a operação de evitar a oscilação cambial em um problema fiscal também.

O interessante da operação é que o Banco Central segura o dólar sem que as reservas cambiais brasileiras caiam, dos atuais US$ 380 bilhões, isso porque não atua no mercado à vista, mas sim através do swap cambial. O BC fecha contratos no mercado futuro, com bancos e agentes financeiros, atrelados ao valor do dólar, mas todas as negociações são em reais. Por exemplo, vende contratos com vencimento em um mês. Se hoje a moeda americana vale R$ 2,30 e daqui a um mês valer R$ 2,00, há uma diferença de trinta centavos que terá que ser paga pelo agente financeiro ao Banco Central. Da mesma forma, se estiver valendo R$ 2,50, o Banco Central terá que pagar a diferença.

As operações do BC no mercado de câmbio têm risco enorme, na opinião de analistas como Nathan Blanche, da Tendências Consultoria, porque expõem o Tesouro brasileiro às oscilações do dólar. Por enquanto, o Banco Central está tendo lucro de R$ 17 bilhões de janeiro a maio, pelas contas do economista Felipe Salto, da Tendências. O problema é que o país está com um déficit em conta-corrente na casa 4% do PIB, o que normalmente levaria o real a cair e o dólar a subir. Os fundamentos da economia provocariam naturalmente uma desvalorização da nossa moeda. Isso sem falar no fato de que a expectativa é que o mundo tenha menos liquidez de moeda americana nos próximos anos.

- Com esse déficit em conta-corrente, a flutuação livre levaria à perda de valor do real. Isso não acontece porque há uma flutuação cambial suja no país. Os contratos firmados são maiores do que no auge da crise em 2009. O risco é alto, e as agências de classificação e o mercado já perceberam isso - afirmou Nathan Blanche, especialista em mercado de câmbio.

O Banco Central defende sua atuação como parte do processo de evitar que instabilidades internacionais passageiras provoquem crise no país. Seria apenas um seguro contra a incerteza e a volatilidade. Um ano depois de operações constantes de vendas de swaps, o que o mercado diz é que, por um lado, o BC acumula risco alto demais de ter prejuízos na operação se o dólar subir, e, se ele não sobe, apesar do déficit em transações correntes, é porque o câmbio está sendo usado como política anti-inflacionária. Mas a atuação tem colhido elogios de analistas internacionais por exatamente reduzir a incerteza dos momentos de transição, como o da política monetária americana.

 
19 de junho de 2014
Miriam Leitão, O Globo

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