"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

ÓDIO E BONDADES

BRASÍLIA - Divisão de tarefas na campanha do PT à Presidência da República: enquanto Lula e o lulista Gilberto Carvalho veem "ódio" por toda parte, Dilma oferece um pacote de bondades para os grandes empresários, na esperança de que façam uma meia volta e retornem para a candidatura dela.

O discurso de Lula, tão velho quanto sua luta sindical na década de 1970, teve um grande hiato com o "Lulinha paz e amor" --que o levou a subir a rampa do Planalto em 2003 e a descer dela com imensa popularidade, oito anos depois.

Jogando fora o "paz e amor", Lulinha recupera o seu velho personagem e o discurso da vitimização: perseguido pela elite branca, o conservadorismo, a direita, os que querem que o povo brasileiro morra de fome para manter seus privilégios --e com o apoio da imprensa, para ele, o amálgama de tudo isso.

Como se Lula nunca tivesse sido eleito, sustentado politicamente e paparicado pessoalmente por banqueiros, pelo grande empresariado, pelos partidos mais conservadores do país, pelos coronéis da política brasileira e vai por aí afora.

A não ser que Lula considere que o "ódio" e essa perseguição ao pobre migrante nordestino de muitas décadas atrás partem de uma "elite" muito curiosa: os cerca de 70% que clamam por mudanças.

A ponto, aliás, de os dois candidatos lulistas ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, do PMDB, e Alexandre Padilha, do PT, disputarem a tapas o slogan da mudança. Ah, sim, é um slogan dirigido ao governador Alckmin, que tem 44% no Datafolha...

Se Lula e Carvalho destilam o "ódio", Dilma distribui "bondades". Mas tem de correr. Os empresários participam, ou até lideram, o grito de mudanças e se aproximam de Aécio Neves e de Eduardo Campos.

Os dissabores e as perdas da indústria, alegam, estão por trás de um dos maiores problemas brasileiros: o baixo crescimento, ou "pibinho", que penaliza todos, não só "a elite".

19 de junho de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP

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