Colombianos reelegeram o presidente que iniciou conversações com as Farc, mas ele precisa considerar que quase metade do país preferiu o candidato defensor da via militar contra a guerrilha
O segundo turno da eleição presidencial colombiana, realizado no dia 15, era mais que uma disputa pelo cargo máximo da nação: era também um referendo sobre o processo de paz entre o governo e os narcoterroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), iniciado pelo atual presidente, Juan Manuel Santos. Ele tinha ido para o segundo turno contra Óscar Ivan Zuluaga, que prometia mais força no combate às Farc, no estilo do ex-presidente Álvaro Uribe. Zuluaga teve mais votos no primeiro turno, mas, com os candidatos mais à esquerda apoiando Santos no segundo turno, o presidente conseguiu a reeleição com 51% dos votos válidos.
A guerrilha, que começou suas atividades há 50 anos, sofreu várias derrotas sérias durante a presidência de Uribe (entre 2002 e 2010), especialmente em seu segundo mandato, como o ataque a uma base das Farc no Equador, que resultou na morte de Raúl Reyes, um dos líderes do grupo; e as operações que libertaram a senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt, com outros 14 reféns, em 2008, e quatro militares que estavam sequestrados havia 12 anos, em 2010. Durante esse período, as Farc também perderam seu líder, Manuel Marulanda, que morreu de causas naturais. Em várias ocasiões, os colombianos foram às ruas contra os guerrilheiros, e foi na esteira das ações de Uribe que Juan Manuel Santos, seu ministro da Defesa, foi eleito para a Presidência, em 2010.
O início de mandato de Santos foi marcado pela continuação da ofensiva contra os narcoterroristas: o sucessor de Marulanda, Alfonso Cano, foi morto em 2011; as Farc, no entanto, também fizeram centenas de vítimas entre os militares colombianos. Mas, em 2012, Santos anunciou as negociações de paz, distanciando-se, assim, de seu predecessor e (até então) padrinho político. As Farc chegaram a anunciar, no fim de 2010, um cessar-fogo unilateral, pedindo ao governo que fizesse o mesmo. Santos negou a oferta, para evitar que as conversações de paz fossem aproveitadas pela guerrilha para se recuperar e conseguir novos adeptos e armas. Assim, as Farc logo retomaram suas ações terroristas, mesmo com as conversações em andamento.
Até o momento, o governo e as Farc já entraram em acordo sobre temas como a posse das propriedades rurais e a futura participação das Farc no cenário político colombiano. Em maio deste ano, foi anunciado um plano para o combate conjunto ao tráfico de drogas – que é uma das principais fontes de renda da guerrilha –, condicionado à assinatura de um acordo definitivo de paz. Restam, no entanto, assuntos delicadíssimos como a compensação às vítimas de cinco décadas de conflito, o desarmamento dos membros das Farc e a eventual punição por crimes como os sequestros e assassinatos.
O processo de paz divide os colombianos, como o resultado das urnas mostrou – Zuluaga teve 45% dos votos no segundo turno. Mais: o candidato que defendia o combate mais duro contra a narcoguerrilha venceu em quase todas as áreas onde as Farc atuam, sinal de que os colombianos a cujas portas o conflito bate preferem a ação enérgica do governo. Santos terá de levar isso em consideração em seu segundo mandato. É indiscutível que a paz é o melhor desfecho para um conflito que, em 50 anos, já deixou centenas de milhares de mortos e forçou o deslocamento de milhões de pessoas. Mas, para alcançar a paz, vale a pena ser leniente demais com um grupo que recorreu e recorre ao terrorismo, sequestrando e matando indiscriminadamente? É a questão que o presidente terá de responder.
O segundo turno da eleição presidencial colombiana, realizado no dia 15, era mais que uma disputa pelo cargo máximo da nação: era também um referendo sobre o processo de paz entre o governo e os narcoterroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), iniciado pelo atual presidente, Juan Manuel Santos. Ele tinha ido para o segundo turno contra Óscar Ivan Zuluaga, que prometia mais força no combate às Farc, no estilo do ex-presidente Álvaro Uribe. Zuluaga teve mais votos no primeiro turno, mas, com os candidatos mais à esquerda apoiando Santos no segundo turno, o presidente conseguiu a reeleição com 51% dos votos válidos.
A guerrilha, que começou suas atividades há 50 anos, sofreu várias derrotas sérias durante a presidência de Uribe (entre 2002 e 2010), especialmente em seu segundo mandato, como o ataque a uma base das Farc no Equador, que resultou na morte de Raúl Reyes, um dos líderes do grupo; e as operações que libertaram a senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt, com outros 14 reféns, em 2008, e quatro militares que estavam sequestrados havia 12 anos, em 2010. Durante esse período, as Farc também perderam seu líder, Manuel Marulanda, que morreu de causas naturais. Em várias ocasiões, os colombianos foram às ruas contra os guerrilheiros, e foi na esteira das ações de Uribe que Juan Manuel Santos, seu ministro da Defesa, foi eleito para a Presidência, em 2010.
O início de mandato de Santos foi marcado pela continuação da ofensiva contra os narcoterroristas: o sucessor de Marulanda, Alfonso Cano, foi morto em 2011; as Farc, no entanto, também fizeram centenas de vítimas entre os militares colombianos. Mas, em 2012, Santos anunciou as negociações de paz, distanciando-se, assim, de seu predecessor e (até então) padrinho político. As Farc chegaram a anunciar, no fim de 2010, um cessar-fogo unilateral, pedindo ao governo que fizesse o mesmo. Santos negou a oferta, para evitar que as conversações de paz fossem aproveitadas pela guerrilha para se recuperar e conseguir novos adeptos e armas. Assim, as Farc logo retomaram suas ações terroristas, mesmo com as conversações em andamento.
Até o momento, o governo e as Farc já entraram em acordo sobre temas como a posse das propriedades rurais e a futura participação das Farc no cenário político colombiano. Em maio deste ano, foi anunciado um plano para o combate conjunto ao tráfico de drogas – que é uma das principais fontes de renda da guerrilha –, condicionado à assinatura de um acordo definitivo de paz. Restam, no entanto, assuntos delicadíssimos como a compensação às vítimas de cinco décadas de conflito, o desarmamento dos membros das Farc e a eventual punição por crimes como os sequestros e assassinatos.
O processo de paz divide os colombianos, como o resultado das urnas mostrou – Zuluaga teve 45% dos votos no segundo turno. Mais: o candidato que defendia o combate mais duro contra a narcoguerrilha venceu em quase todas as áreas onde as Farc atuam, sinal de que os colombianos a cujas portas o conflito bate preferem a ação enérgica do governo. Santos terá de levar isso em consideração em seu segundo mandato. É indiscutível que a paz é o melhor desfecho para um conflito que, em 50 anos, já deixou centenas de milhares de mortos e forçou o deslocamento de milhões de pessoas. Mas, para alcançar a paz, vale a pena ser leniente demais com um grupo que recorreu e recorre ao terrorismo, sequestrando e matando indiscriminadamente? É a questão que o presidente terá de responder.
19 de junho de 2014
Editorial Gazeta do Povo - PR
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