"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de maio de 2014

UMA GAROTA DO BARULHO



Filha de uma bela e rica dama da elite gaúcha e de um popular e carismático líder socialista, foi criada como uma princesa, e, além de uma graça de garota, era muito inteligente e meio doidinha, e divertidíssima. Neusinha Brizola entrou em cena em 1982, quando seu pai Leonel foi eleito governador do Rio de Janeiro, e se tornou uma estrela fugaz do Rock Brasil com o seu hit “Mintchura”, marqueteada por Paulo Coelho, antes de se tornar escritor de sucesso.

Como Paulo escreveria anos depois, o universo conspirava a favor de Neusinha e de sua lenda pessoal. Não que fosse uma grande cantora, mas cantava o suficiente para começar uma boa carreira de roqueira com atitude anárquica e humor debochado, que fazia enorme sucesso nos programas populares de televisão, nas suas entrevistas bombásticas e nos escândalos que protagonizava. Louca por sexo e drogas, Neusinha era puro rock and roll. Tinha tudo para ser o que quisesse.

De princesinha à exilada política, drogada desde os 13 anos, mãe aos 21, amiga de Cazuza e Andy Warhol, amante de mafiosos e traficantes, junkie de heroína em Amsterdã, Neusinha viveu uma vida vertiginosa, entre o poder e a marginalidade, prisões e fugas, escândalos e brigas com o pai, e pagou caro, com muito sofrimento e humilhação no inferno das drogas. Mas voltou das trevas como uma avó querida e careta, sem deixar de ser doidona, e sem nunca perder o humor, nos 56 anos que viveu. E como viveu!

Debilitada por seus excessos e pela hepatite C, e sentindo que o fim se aproximava, Neusinha chamou Fábio Fabricio Fabretti e Lucas Nobre para contar tudo em uma biografia onde não esconde nada e se mostra uma personagem fascinante, inteligente e hilariante, mas também trágica e patética, devassa e destrutiva, narrado na primeira pessoa sem vergonha e sem piedade, num testemunho dramático, e cômico, do poder devastador das drogas.

Com uma protagonista que supera qualquer ficção, em momentos e cenários históricos, com personagens importantes da política e da música brasileira nos anos 80, entre gargalhadas e lágrimas, “Neusinha Brizola sem mintchura” é sensacional.
 
17 de maio de 2014
Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical.

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