Segundo o ex-presidente Lula, em relação à capacidade de acabar com a pobreza, somente o PT sabe como fazer, tem vontade política para fazer e é o único partido que pode fazer. Essa premissa dá uma boa discussão no campo da filosofia e da lógica formal, e lembra a polêmica travada pelo filósofo Epicuro sobre a existência de Deus.
Epicuro perguntou quem é Deus, e a resposta foi que se trata do criador e senhor do universo, um ser onisciente (sabe tudo), onipotente (pode tudo) e onibenevolente (bondade suprema e infinita). Epicuro então contestou: a existência de um Deus com essas qualidades é incoerente com a existência do mal no mundo – por mal, entenda-se a miséria, a dor e o sofrimento.
O filósofo dizia que há quatro hipóteses para a existência de Deus e do mal ao mesmo tempo. Ou Deus (1) quer eliminar o mal e não pode; ou ele (2) pode, mas não quer; ou (3) não quer nem pode; ou (4) quer e pode. Se quer, mas não pode, ele é fraco, e isso não se aplica a Deus. Se pode, mas não quer, então ele é malvado, o que também não se aplica a Deus. Se não quer nem pode, ele é ao mesmo tempo fraco e malvado, logo não é Deus. Se quer e pode (a única característica adequada a Deus) de onde vem o mal? Por que então, se quer e pode eliminar o mal, Deus não o faz, já que ele seria onibenevolente?
O filósofo alemão Leibniz publicou um trabalho, em 1710, a teodiceia (que é a possibilidade de coexistência de um Deus todo-poderoso e do mal), e procurou demonstrar que a presença do mal no mundo não entra em conflito com a bondade de Deus. A resposta estaria no fato de que Deus teria dado o livre-arbítrio ao homem para que este escolha suas atitudes. Justamente por isso, não lhe caberia garantir que o homem sempre iria escolher o bem.
Vamos substituir Deus pelo PT no raciocínio de Epicuro. Se o PT é onisciente (o único que sabe como eliminar a pobreza), onipotente (o único partido que pode fazê-lo) e onibenevolente (o único que quer), por que a pobreza continua existindo no Brasil? Ou o PT quer, mas não pode; ou pode mas não quer; ou não quer nem pode; ou pode e quer, mas não o faz.
Se Epicuro fosse debater com Lula, dir-lhe-ia que a existência simultânea da pobreza e do PT é ilógica e incoerente. Ou seja, o partido não pode ser onisciente, onipotente e onibenevolente, tudo ao mesmo tempo. Vale ressaltar que não é só Lula que pensa isso. Outros políticos também dizem o mesmo, e todos estão agredindo a lógica epicurista. Trata-se apenas de verborragia – uso de quantidade excessiva de palavras e de fluência verbal para dizer coisas de pouco conteúdo ou sem importância alguma.
Claro que não é preciso toda essa pirueta intelectual para concluir o simples: essas declarações megalomaníacas, sejam do PT ou de qualquer partido, são apenas bravatas verbais, sem nenhuma validade no mundo da lógica. O problema é que elas são ditas com postura circunspecta e ar de seriedade, o que apenas as deixa mais ridículas. Quando o horário eleitoral estiver no ar, teremos de nos conformar com um oceano de besteirol e uma lagoinha de sabedoria.
A propósito, lembrei-me do slogan de um candidato a vereador em Curitiba. “Eu não vou fazer nenhuma promessa; vou cumprir tudo o que os outros prometem”, dizia ele. Como diz José Simão, esse hilário eleitoral compete de forma desigual com os humoristas. É uma pena, por que os candidatos bons e inteligentes se perdem no meio do cipoal de demagogia e propostas sem sentindo.
Epicuro perguntou quem é Deus, e a resposta foi que se trata do criador e senhor do universo, um ser onisciente (sabe tudo), onipotente (pode tudo) e onibenevolente (bondade suprema e infinita). Epicuro então contestou: a existência de um Deus com essas qualidades é incoerente com a existência do mal no mundo – por mal, entenda-se a miséria, a dor e o sofrimento.
O filósofo dizia que há quatro hipóteses para a existência de Deus e do mal ao mesmo tempo. Ou Deus (1) quer eliminar o mal e não pode; ou ele (2) pode, mas não quer; ou (3) não quer nem pode; ou (4) quer e pode. Se quer, mas não pode, ele é fraco, e isso não se aplica a Deus. Se pode, mas não quer, então ele é malvado, o que também não se aplica a Deus. Se não quer nem pode, ele é ao mesmo tempo fraco e malvado, logo não é Deus. Se quer e pode (a única característica adequada a Deus) de onde vem o mal? Por que então, se quer e pode eliminar o mal, Deus não o faz, já que ele seria onibenevolente?
O filósofo alemão Leibniz publicou um trabalho, em 1710, a teodiceia (que é a possibilidade de coexistência de um Deus todo-poderoso e do mal), e procurou demonstrar que a presença do mal no mundo não entra em conflito com a bondade de Deus. A resposta estaria no fato de que Deus teria dado o livre-arbítrio ao homem para que este escolha suas atitudes. Justamente por isso, não lhe caberia garantir que o homem sempre iria escolher o bem.
Vamos substituir Deus pelo PT no raciocínio de Epicuro. Se o PT é onisciente (o único que sabe como eliminar a pobreza), onipotente (o único partido que pode fazê-lo) e onibenevolente (o único que quer), por que a pobreza continua existindo no Brasil? Ou o PT quer, mas não pode; ou pode mas não quer; ou não quer nem pode; ou pode e quer, mas não o faz.
Se Epicuro fosse debater com Lula, dir-lhe-ia que a existência simultânea da pobreza e do PT é ilógica e incoerente. Ou seja, o partido não pode ser onisciente, onipotente e onibenevolente, tudo ao mesmo tempo. Vale ressaltar que não é só Lula que pensa isso. Outros políticos também dizem o mesmo, e todos estão agredindo a lógica epicurista. Trata-se apenas de verborragia – uso de quantidade excessiva de palavras e de fluência verbal para dizer coisas de pouco conteúdo ou sem importância alguma.
Claro que não é preciso toda essa pirueta intelectual para concluir o simples: essas declarações megalomaníacas, sejam do PT ou de qualquer partido, são apenas bravatas verbais, sem nenhuma validade no mundo da lógica. O problema é que elas são ditas com postura circunspecta e ar de seriedade, o que apenas as deixa mais ridículas. Quando o horário eleitoral estiver no ar, teremos de nos conformar com um oceano de besteirol e uma lagoinha de sabedoria.
A propósito, lembrei-me do slogan de um candidato a vereador em Curitiba. “Eu não vou fazer nenhuma promessa; vou cumprir tudo o que os outros prometem”, dizia ele. Como diz José Simão, esse hilário eleitoral compete de forma desigual com os humoristas. É uma pena, por que os candidatos bons e inteligentes se perdem no meio do cipoal de demagogia e propostas sem sentindo.
17 de maio de 2014
José Pio Martins, Gazeta do Povo, PR
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