A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos significam uma coisa ao Brasil. Denotam que o país agora joga na primeira divisão. E a atenção que acompanha esse fato é inevitável e já está provando ser muito desconfortável.
O problema é agravado pela política provinciana do Brasil. Era apenas questão de tempo para que o jornal "The New York Times" publicasse uma reportagem com chamada na sua primeira página sobre o histórico de megaprojetos de infraestrutura brasileiros inacabados, incompletos e grotescamente perdulários.
A história dessas empreitadas é, com certeza, longa.
Algumas delas, como a construção de Brasília, no final funcionaram. Mesmo assim, o preço da capital federal foi salgado. Não surpreende, portanto, que um dos megaestádios para os quais há pouquíssima esperança de ver retorno sobre o investimento seja a arena de Brasília, o estádio Mané Garrincha.
O calendário eleitoral agrava as coisas. A disputa pela Presidência da República já se tornou muito mais aberta e imprevisível do que parecia provável em um passado recente. O impacto cumulativo de múltiplos escândalos, justa ou injustamente, por certo já está causando estrago à reputação de todos os principais candidatos.
A ambiguidade do papel mundial do Brasil também começa a causar complicações. Não basta simplesmente buscar ser amigo de todos. O mundo é complicado demais para isso. O Brasil se recusou a tomar posição quanto à anexação da Crimeia pela Rússia. Dilma Rousseff pretende realizar a próxima conferência de cúpula dos Brics (grupo que engloba, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Fortaleza, dois dias depois da final da Copa do Mundo. Vladimir Putin talvez até vá ao Brasil para assistir ao Mundial. Mas isso não vai alegrar nem aos Estados Unidos nem à Europa Ocidental.
A Venezuela está se tornando um vizinho cada vez mais complicado, o que acontece também com a Argentina. Mais uma vez, isso talvez seja inevitável se considerarmos a oposição brasileira à ideia de uma Alca (Área de Livre Comércio das Américas) liderada pelos Estados Unidos. Mas isso já ficou no passado.
A consequente ascensão de um grupo de nações adeptas do livre comércio na costa pacífica da América Latina relega o Brasil, no entanto, a um grupo próprio, disfuncional e protecionista. O que pode ser ideologicamente satisfatório para o PT, mas pouco faz para promover o papel do Brasil em um mundo altamente competitivo.
Talvez o Brasil vença a Copa do Mundo e tudo isso seja perdoado. Afinal, dizem que Deus é brasileiro.
17 de abril de 2014
KENNETH MAXWELL
O problema é agravado pela política provinciana do Brasil. Era apenas questão de tempo para que o jornal "The New York Times" publicasse uma reportagem com chamada na sua primeira página sobre o histórico de megaprojetos de infraestrutura brasileiros inacabados, incompletos e grotescamente perdulários.
A história dessas empreitadas é, com certeza, longa.
Algumas delas, como a construção de Brasília, no final funcionaram. Mesmo assim, o preço da capital federal foi salgado. Não surpreende, portanto, que um dos megaestádios para os quais há pouquíssima esperança de ver retorno sobre o investimento seja a arena de Brasília, o estádio Mané Garrincha.
O calendário eleitoral agrava as coisas. A disputa pela Presidência da República já se tornou muito mais aberta e imprevisível do que parecia provável em um passado recente. O impacto cumulativo de múltiplos escândalos, justa ou injustamente, por certo já está causando estrago à reputação de todos os principais candidatos.
A ambiguidade do papel mundial do Brasil também começa a causar complicações. Não basta simplesmente buscar ser amigo de todos. O mundo é complicado demais para isso. O Brasil se recusou a tomar posição quanto à anexação da Crimeia pela Rússia. Dilma Rousseff pretende realizar a próxima conferência de cúpula dos Brics (grupo que engloba, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Fortaleza, dois dias depois da final da Copa do Mundo. Vladimir Putin talvez até vá ao Brasil para assistir ao Mundial. Mas isso não vai alegrar nem aos Estados Unidos nem à Europa Ocidental.
A Venezuela está se tornando um vizinho cada vez mais complicado, o que acontece também com a Argentina. Mais uma vez, isso talvez seja inevitável se considerarmos a oposição brasileira à ideia de uma Alca (Área de Livre Comércio das Américas) liderada pelos Estados Unidos. Mas isso já ficou no passado.
A consequente ascensão de um grupo de nações adeptas do livre comércio na costa pacífica da América Latina relega o Brasil, no entanto, a um grupo próprio, disfuncional e protecionista. O que pode ser ideologicamente satisfatório para o PT, mas pouco faz para promover o papel do Brasil em um mundo altamente competitivo.
Talvez o Brasil vença a Copa do Mundo e tudo isso seja perdoado. Afinal, dizem que Deus é brasileiro.
17 de abril de 2014
KENNETH MAXWELL
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