"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

DESCASO OLÍMPICO


Não é só com a conclusão de estádios e obras de infraestrutura para a Copa do Mundo que o brasileiro tem razão de preocupar-se, uma vez que a abertura se dará em 12 de junho num estádio ainda inacabado. Há motivo também para inquietar-se com a letárgica preparação dos primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul.
O prazo dado ao Rio de Janeiro é menos premente, por certo. A competição só ocorrerá em meados de 2016. Mas para preparar a Copa havia quase sete anos disponíveis, e mesmo assim o país vai entregar tudo --em verdade, menos que o previsto-- em cima da hora.

Na semana passada, a maior parte dos 28 diretores de federações de modalidades olímpicas reunidos na Turquia criticou o andamento das obras e manifestou preocupação com os Jogos do Rio. Houve até quem pedisse um plano de sede alternativa, para o caso de as instalações cariocas não serem entregues a tempo.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou em seguida uma espécie de intervenção nos trabalhos de organização do evento. Além de contratar um gerente local para acompanhar de perto as obras, a entidade aumentará a frequência de visitas do diretor-executivo ao Rio, criará um grupo para decisões de alto nível e ampliará o envolvimento das federações internacionais nos preparativos dos brasileiros.

A manobra é algo mais sutil que o "cartão amarelo" dado em 2000 a Atenas, cidade-sede dos Jogos em 2004, pelo então presidente do COI, Juan Samaranch. Espera-se que, com maior supervisão e interferência internacionais, as construções olímpicas no Rio enfim ganhem ritmo.

Embora anunciada como anfitriã da competição em 2009, a capital fluminense nem mesmo deu a largada nos trabalhos do complexo de Deodoro, onde serão disputadas competições de oito modalidades. No Parque Olímpico da Barra da Tijuca, as obras avançam de maneira lenta e enfrentaram greves nos últimos dias.

Lamenta-se que a matriz de responsabilidades --documento que oficializa as obrigações do comitê organizador e dos governos federal, estadual e municipal-- e o orçamento final da competição continuem em aberto.

Não é preciso recorrer a exemplos estrangeiros para precaver-se contra desvios de verbas e corrupção propiciados pelos atrasos. O grande legado do Pan-Americano do Rio, em 2007, foi um sem-fim de irregularidades. Que o saldo da Olimpíada, agora sob supervisão internacional, seja outro.
17 de abril de 2014
Editorial Folha de SP

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