A ida ao Congresso da presidente da estatal, Graça Foster, e do ex-diretor Nestor Cerveró aumentou as dúvidas sobre a compra da refinaria no Texas
Cada um entenda como quiser a ordem dada por Lula, em entrevista a blogueiros simpatizantes do PT, para que o partido vá “para cima” no enfrentamento do pedido da oposição de uma CPI exclusiva da Petrobras. Fato é que governo e base aliada atuam em duas direções neste ir “para cima": a da tentativa de inviabilizar qualquer investigação, pelo entulhamento da agenda da CPI, com a inclusão de dois outros temas, destinados a atingir tucanos e Eduardo Campos — cartel de trens em São Paulo e Porto de Suape —; e no patrocínio de dois depoimentos ao Congresso, já realizados, o da presidente da estatal, Graça Foster, e o do ex-diretor Internacional da empresa, Nestor Cerveró, protagonista da no mínimo polêmica compra por US$ 1,23 bilhão de uma refinaria em Pasadena, Texas.
Se a CPI será múltipla ou exclusiva, decidirá o Supremo. Quanto aos depoimentos, realizados terça e ontem, o efeito foi contrário àquilo que petistas esperavam: em vez de abalarem a argumentação pró-CPI exclusiva, reforçou-a.
As divergências de visão daquele negócio entre Graça Foster e Cerveró são radicais. Anteontem, em elogiável passagem pelo Senado, a presidente da estatal evitou rodeios: a aquisição da refinaria “não foi bom negócio". Ontem, Cerveró, na Câmara, rebateu a interpretação de Graça Foster, com a alegação de que a operação fazia sentido na realidade de mercado de 2006.
Para reforçar sua opinião, Graça Foster informou que a estatal já formalizou o reconhecimento de uma perda, no negócio, de US$ 530 milhões — ou, meio bilhão de dólares. Muito dinheiro em qualquer lugar do mundo. Por si só, essa divergência justifica a CPI. Também nada ficou muito claro sobre a reclamação da presidente Dilma, à frente do conselho de administração da estatal na aprovação do negócio, em 2006, de que o então diretor Cerveró produziu para apreciação do conselho um sumário do negócio “técnica e juridicamente falho”, por não incluir cláusulas-chave da operação. Cerveró não tratou de maneira direta a acusação de Dilma, confirmada por Graça na véspera. Preferiu dizer que as polêmicas cláusulas contratuais — garantia de rentabilidade mínima ao sócios belgas e compromisso de compra do controle total da refinaria em caso de conflito societário — estavam no contrato. Mais um ponto obscuro a esclarecer.
Emergiu dos dois depoimentos uma divisão entre a Petrobras da diretoria de José Sérgio Gabrielli, economista, sindicalista e militante lulopetista, em cuja gestão o controvertido negócio foi fechado, e a administração “técnica” de Graça Foster, funcionária de carreira apoiada pela amiga Dilma Rousseff. Com Gabrielli, o aparelhamento à solta e seus custos ainda desconhecidos na totalidade. Com Foster, o ajuste moralizador.
O cenário fica mais instigante com o espectro do ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal por atuar em esquema de lavagem de dinheiro grosso, amealhado em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Outro reforço à CPI.
Cada um entenda como quiser a ordem dada por Lula, em entrevista a blogueiros simpatizantes do PT, para que o partido vá “para cima” no enfrentamento do pedido da oposição de uma CPI exclusiva da Petrobras. Fato é que governo e base aliada atuam em duas direções neste ir “para cima": a da tentativa de inviabilizar qualquer investigação, pelo entulhamento da agenda da CPI, com a inclusão de dois outros temas, destinados a atingir tucanos e Eduardo Campos — cartel de trens em São Paulo e Porto de Suape —; e no patrocínio de dois depoimentos ao Congresso, já realizados, o da presidente da estatal, Graça Foster, e o do ex-diretor Internacional da empresa, Nestor Cerveró, protagonista da no mínimo polêmica compra por US$ 1,23 bilhão de uma refinaria em Pasadena, Texas.
Se a CPI será múltipla ou exclusiva, decidirá o Supremo. Quanto aos depoimentos, realizados terça e ontem, o efeito foi contrário àquilo que petistas esperavam: em vez de abalarem a argumentação pró-CPI exclusiva, reforçou-a.
As divergências de visão daquele negócio entre Graça Foster e Cerveró são radicais. Anteontem, em elogiável passagem pelo Senado, a presidente da estatal evitou rodeios: a aquisição da refinaria “não foi bom negócio". Ontem, Cerveró, na Câmara, rebateu a interpretação de Graça Foster, com a alegação de que a operação fazia sentido na realidade de mercado de 2006.
Para reforçar sua opinião, Graça Foster informou que a estatal já formalizou o reconhecimento de uma perda, no negócio, de US$ 530 milhões — ou, meio bilhão de dólares. Muito dinheiro em qualquer lugar do mundo. Por si só, essa divergência justifica a CPI. Também nada ficou muito claro sobre a reclamação da presidente Dilma, à frente do conselho de administração da estatal na aprovação do negócio, em 2006, de que o então diretor Cerveró produziu para apreciação do conselho um sumário do negócio “técnica e juridicamente falho”, por não incluir cláusulas-chave da operação. Cerveró não tratou de maneira direta a acusação de Dilma, confirmada por Graça na véspera. Preferiu dizer que as polêmicas cláusulas contratuais — garantia de rentabilidade mínima ao sócios belgas e compromisso de compra do controle total da refinaria em caso de conflito societário — estavam no contrato. Mais um ponto obscuro a esclarecer.
Emergiu dos dois depoimentos uma divisão entre a Petrobras da diretoria de José Sérgio Gabrielli, economista, sindicalista e militante lulopetista, em cuja gestão o controvertido negócio foi fechado, e a administração “técnica” de Graça Foster, funcionária de carreira apoiada pela amiga Dilma Rousseff. Com Gabrielli, o aparelhamento à solta e seus custos ainda desconhecidos na totalidade. Com Foster, o ajuste moralizador.
O cenário fica mais instigante com o espectro do ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal por atuar em esquema de lavagem de dinheiro grosso, amealhado em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Outro reforço à CPI.
17 de abril de 2014
Editorial O Globo
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