Em 11 de julho de 2012 O Estado de S. Paulo publicou a primeira e quase única matéria que saiu na “grande” imprensa brasileira até ontem sobre o verdadeiro assalto praticado contra a “nossa” Petrobras envolvendo uma refinaria obsoleta em Passadena, Texas, que nos foi empurrada goela abaixo daquela forma risonha e franca habitual entre os que têm a certeza da impunidade.
Naquela ocasião, já lá vão 20 meses, o destaque dado à matéria foi inteiramente desproporcional ao escândalo que ela relatava e que envolvia diretamente ninguém menos que a atual presidente da Republica, Dilma Roussef, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás quando a falcatrua foi aprovada.
Veja bem, o resumo do caso é o seguinte:
Em 2005 a família Frére, da Bélgica, compra a refinaria de Passadena por US$ 42,5 milhões. Era uma refinaria pequena que estava desativada e que não tinha condições técnicas de processar o petróleo pesado produzido no Brasil.
Em 2006, ela vende à Petrobras 50% do que comprou por US$ 360 milhões, ou seja, 8,47 vezes mais do que pagou pela refinaria inteira ou 17 vezes mais que o que pagou por 100% de suas ações. O agente direto dessa transação, Alberto Feilhaber, é um desses patriotas que pululam neste governo. Tinha 20 anos de Petrobras em seu currículo mas, àquela altura estava empregado da Astra, a empresa dos tais belgas.
Apesar de tudo isso, o contrato, informa hoje O Estado de S. Paulo com 20 meses de atraso em relação à sua primeira matéria, a Petrobras se comprometeu a comprar o restante das ações ao fim de um certo prazo acrescidas de um lucro anual de 6,9%.
Em 2012, ao fim de uma batalha judicial, a Petrobras paga aos felizardos belgas mais 820 milhões e quinhentos mil dólares pelos 50% restantes, perfazendo 1 bilhão e 180 milhões de dólares pelo “mico” inteiro, o equivalente a 277,64 vezes o que eles tinham pago pela empresa, o que obviamente não quer dizer que eles embolsaram sozinhos toda essa multiplicação.
No meio do caminho, desde 2008 quando entrou em litígio nos EUA contra seus sócios belgas, a Petrobras contrata um escritório de advocacia ligado aos próprios signatários da falcatrua para defende-los nos EUA pela bagatela 7 milhões e novecentos mil dólares...
E quem foi o arquiteto de toda essa operação transcorrida em pleno ano eleitoral?
Um certo senhor Nestor Cerveró, nomeado Diretor Internacional da Petrobrás por ninguém menos que José Dirceu, o mais VIP entre os hospedes da ala VIP da Prisão Federal da Papuda que ele divide com metade da diretoria do Partido dos Trabalhadores que ainda nos governa, depois que ele já tinha sido apeado da Casa Civil da Presidência da Republica de Lula por causa do Mensalão.
Um certo senhor Nestor Cerveró, nomeado Diretor Internacional da Petrobrás por ninguém menos que José Dirceu, o mais VIP entre os hospedes da ala VIP da Prisão Federal da Papuda que ele divide com metade da diretoria do Partido dos Trabalhadores que ainda nos governa, depois que ele já tinha sido apeado da Casa Civil da Presidência da Republica de Lula por causa do Mensalão.
Este senhor Cerveró continua até hoje na Petrobrás como Diretor Financeiro da BR-Distribuidora, imaginem vocês que festa!
As demais figuras de proa envolvidas na operação não estão mais lá.
Dilma Roussef a presidente do Conselho de Administração que assinou o negócio proposto pelo preposto de Dirceu, virou presidente da Republica e hoje publica nota oficial no Estado para dizer, candidamente, que “foi mal informada sobre a operação” que aprovou (e certamente continua sendo posto que o “mentiroso” mestre continua onde estava). Vale a pena ler aqui esta ode à cara-de-pau.
Sérgio Gabrielli, então diretor da Petrobrás, é hoje Secretário de Planejamento do governo da Bahia chefiado por Jacques Wagner, que pretende suceder no governo daquele estado, e que na época também fazia parte do Conselho da Petrobrás e também assinou o esbulho. Andam juntos desde sempre, esses dois.
Outro figurão cuja assinatura consta desse contrato-confissão é o hoje “consultor de empresas” e então ministro da Fazenda e membro do Conselho da Petrobrás, Antônio Palocci.
Apesar de todos esses elementos já estarem presentes desde primeira matéria ela saiu, como disse, perdida numa das páginas internas do jornal. Dez dias depois, a 21 de julho, o mesmo jornal publica uma matéria assinada pelos mesmos repórteres que assinavam a primeira para, sem mencionar o caso Passadena uma única vez, contar ao distinto público que dona Graça Foster, que substituiu Gabrielli na presidência da Petrobrás, estava “passando um pente fino” em todos os contratos da estatal, além de afastar quatro diretores ligados ao ex-presidente, com quem, entretanto, seguia mantendo as melhores relações: “A gente é amigo...A diferença é que você é menino e eu sou menina”. Não é um amor?
Sobre Passadena, porém, ela nada mais disse nem lhe foi perguntado.
O resto da grande imprensa brasileira, com exceção da Veja, praticamente ignorou o assunto.
Seguiu publicando, aqui e ali, os dossiês regulamentares a que figuras nunca nomeadas lhe “dão acesso”, tais como, entre outros o caso Alstom, velho de 31 anos e envolvendo, entre outras figuras menores do partido, um grande numero de membros já falecidos do PSDB, que nesse meio tempo mereceu dúzias das manchetes que todos negaram ao caso da multiplicação por 277 vezes do preço de um bem que não nos serve para nada numa transação aprovada pela atual presidente da Republica candidata à reeleição em pessoa.
Nesse meio tempo, ainda, a Petrobras, por essas razões e por outras ainda piores, teve seu valor de mercado reduzido em 43% (desde 2010), algo equivalente a R$ 165 bilhões de prejuízo para seus acionistas ao redor do mundo, os mesmos de cujo dinheiro depende a reforma da infraestrutura brasileira que, nestes 12 anos à frente do destino da Nação, o PT permitiu que se transformasse em sucata depois de dissipar na compra de votos e na contratação de “companheiros” o dinheiro que poderia tê-la resgatado e modernizado minimamente.
Na semana passada mesmo ficamos sabendo de outra. Trata-se, agora de suborno diretamente pago por alugadores de plataformas “para o pré-sal” a diretores da empresa também da época em que seu órgão máximo de direção era presidido pela atual presidente da Republica candidata à reeleição. Coisa de US$ 130 milhões até onde conseguiram saber as autoridades holandesas que investigam o caso ha anos.
É mais um fato que não move as chefias de redações brasileiras a qualquer reação proporcional à importância dos personagens envolvidos nesta véspera de uma eleição que tem tudo para ser a última como, por exemplo, mandar “enviados especiais” à Holanda para tirar essa história a limpo, o que seria uma providência nada mais que comezinha.
Nada!
A imprensa nacional envia seus atentos farejadores para chover no molhado dos conflitos mais minuciosamente cobertos do mundo, como o da Criméia e o da Venezuela, e ha até quem mande “enviados” à caça de “features” frios lá no Vale do Silício, como que para nos confirmar que não é de contenção de despesas que se trata.
Mas ninguém mostra curiosidade em saber nada do que descobriu a polícia holandesa – e a norte-americana e a inglesa também têm o que nos dizer sobre isso – a respeito das falcatruas da diretoria que a atual presidente da Republica instalou na maior empresa do pais, hoje à beira da falência, flagradas e confirmadas com vasta documentação.
Foi, ora vejam, PMDB quem denunciou o caso na abertura da sua tradicional temporada de “caça ao filé” de toda véspera de eleição. E a julgar pelas providências tomadas até agora, ele poderia “furá-los” mais uma vez chegando com seus “investigadores” à Holanda antes de qualquer jornalista. Não será o caso apenas e tão somente porque, pelos mesmos métodos que constam das denuncias investigadas na Holanda, o governo acusado já “tomou o controle” da Comissão Externa montada pela Câmara para este fim.
Sendo este o ambiente geral da Nação onde, desde o advento do PT no poder tornou-se gradativamente consensual que denunciar a corrupção alheia em campanhas eleitorais “é baixaria”, os candidatos da moribunda oposição continuam sem um discurso que possa abalar a recandidatura de dona Dilma de Passadena.
É por essas e outras que o Brasil encontra-se hoje na inédita situação do país que sofreu um golpe de estado mas ainda não se apercebeu disso.
Distraídos em catar a chuva de trocadinhos que lhes vem sendo ardilosamente atirada sobre as cabeças ao som do foguetório da imprensa contra alvos especialmente criados para desviar-lhes a atenção daquilo que interessa, os brasileiros foram sendo gentilmente despidos de suas calças, tangidos para as janelas escancaradas das suas antigas defesas institucionais e tendo os seus traseiros desnudos convenientemente pendurados dos parapeitos com o “alvo” devidamente engraxado a espera do que der e vier. E desde a posse do STF “de ocasião” que desmanchou as condenações do Mensalão, já não resta rigorosamente nenhuma instituição em pé a que um eventual violentado possa recorrer em sua defesa.
O que está faltando, por enquanto, é apenas o apetite do PT para completar o ato para o qual nos preparou a todos, saciadíssima que está a sua libido que se vem regalando à farta sem que ninguém o incomode nesse bacanal.
Esse apetite voltar-se-á para a grande “refeição” adrede preparada quando, passada a eleição, esgotarem-se os anabolizantes que ainda vêm sendo instilados nas veias da economia real e a verdade que já se pode palpar na Petrobras e na Eletrobrás aflorar inteira às ruas e às prateleiras dos supermercados.
Nesse momento, como aconteceu na Venezuela, como aconteceu na Argentina, aquilo que até hoje foi apoio popular vai se transformar na reação irada à traição em que tudo isto de fato se constitui.
Só então o Brasil saberá o que, realmente, é o PT.
20 de março de 2014
Fernão Lara Mesquita é Jornalista. Originalmente publicado no site Vespeiro, em 19 de março de 2014.
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