Anda fazendo sucesso nas redes sociais um texto defendendo a realização da Copa do Mundo e atacando quem critica a realização do evento no Brasil. Esses últimos são acusados pelo autor de querer “azedar” o torneio e disseminar o “pânico” entre os turistas estrangeiros.
Além de doses delirantes de ufanismo, há ainda uma exaltação ao “legado” a ser deixado pelo Mundial. O autor ainda justifica o gasto de R$ 8 bilhões na construção e modernização dos estádios como sendo “apenas” 30% do total investido no país em razão do torneio. O restante, 70%, estaria sendo gasto em obras de infraestrutura, serviços e formação de mão de obra. Ou seja, a Copa serviu para transformar a obrigação básica de um governo em “legado”.
Mas, mesmo assim, faltando quatro meses para a Copa começar, onde estão as obras, onde está o legado a ser herdado? Alguém por acaso já conseguiu pegar o metrô na estação da Savassi e desembarcar na estação da Pampulha? E o aeroporto de Confins? E a geração de empregos? Belo Horizonte, segundo dados do próprio Ministério do Trabalho, foi a segunda capital com maior perda de vagas em 2013.
E o problema é generalizado. Na inauguração do estádio Arena das Dunas, em Natal, no Rio Grande do Norte, servidores públicos federais protestaram contra as péssimas condições da saúde, da educação e da segurança no Estado. Seriam esses manifestantes pessoas mal-intencionadas querendo boicotar o governo Dilma, como sugere o texto pró-Copa? Ou seriam apenas pessoas legitimamente indignadas com a priorização dos gastos públicos em estádios de futebol no país oitavo colocado no número de adultos analfabetos, em um ranking com 150 nações.
PROTESTOS LEGÍTIMOS
Querer deslegitimar os protestos contra a Copa, como se eles fossem despolitizados ou manipulados pela direita conservadora, é desrespeitar quem menos vai lucrar com o Mundial. Se há um temor – e ele há e já é discutido pelo PT e pela cúpula do governo federal – de os protestos respingarem em uma vitória quase certa da presidente Dilma Rousseff, esse discurso tem de ser assumido e não mascarado por trás de teorias conspiratórias e teses recheadas de patriotismo e dados oficiais do Palácio do Planalto.
Nas manifestações antiCopa não existem donos de construtoras, banqueiros, empreiteiros. Esses são totalmente favoráveis à realização da Copa, pois são quem vai verdadeiramente ganhar. Quem está nas ruas são professores, médicos, estudantes e também, é claro, pessoas alienadas, massas de manobra e oposicionistas do governo Dilma. Faz parte do jogo.
Ao contrário do discurso disseminado por uma turma aí, querendo ditar como se deve manifestar – como se esse direito pertencesse a um grupo –, ao protestar contra Copa e pedir um país padrão Fifa, os manifestantes estão denunciando, sim, todas as mazelas do Judiciário, do Legislativo e do Executivo também. Se isso vai afetar as eleições e em qual proporção será esse impacto, são outros quinhentos.
(transcrito de O Tempo)
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