Haddad, agora, admite que ação policial não atrapalhou seu programa na Cracolândia
Prefeito volta a elogiar "parceria" com a Polícia Militar e o governo do Estado depois de ter feito duro ataque à ação policial do Denarc para prender traficantes
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), voltou a dar sinais nesta quarta-feira de que se arrependeu dos ataques contra a ação da Polícia Civil para prender traficantes na Cracolândia, no centro da capital paulista, na semana passada. Após a ação, que terminou em confronto entre policiais e usuários de crack, Haddad adotou um discurso beligerante contra a polícia e disse que a ação sabotava seu programa recém-implantado para viciados. No dia seguinte, o tom já era outro: o petista afirmou que era preciso retomar a "grande parceria" com o Estado. E nesta quarta admitiu: "Não houve prejuízo na continuidade do programa”.
“Estamos há dez dias trabalhando em conjunto para o sucesso dessa operação. [Após o conflito] Nós não perdemos a confiança dos beneficiários. Não houve prejuízo na continuidade do programa”, disse o prefeito ao apresentar um balanço do programa "Braços Abertos" — para ser beneficiado com a hospedagem em um hotel e receber 15 reais por dia, o viciado deve trabalhar quatro horas no serviço de varrição das ruas do Centro.
Haddad também voltou a elogiar a atuação da Polícia Militar: “Trata-se de agir nas duas pontas do processo, no ponto de vista do usuário em relação à sua recuperação, e no trabalho permanente e bem sucedido que a Polícia Militar vem executando com a prefeitura, usando a inteligência para proceder nas prisões em flagrante. Isso só é possível com essa parceria inédita”.
O secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella, disse que o atrito entre a administração municipal e o governo estadual está “superado”. Segundo ele, cem pessoas foram presas na Cracolândia em janeiro – 66 detenções foram efetuadas pela Polícia Civil, e 44 restantes pela Polícia Militar.
A prefeitura informou que até agora já cadastrou 370 viciados no programa, mas apenas 53 aceitaram frequentar os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), onde os dependentes químicos recebem tratamento médico para se livrar do vício.
Relembre a nota divulgada por Haddad na semana passada:
A administração municipal foi surpreendida pela ação policial repressiva realizada hoje na região da Cracolândia pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil. A prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência e pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química. A “Operação de Braços Abertos” é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força. Agentes da Prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa. E expressou essa posição diretamente ao Governo do Estado.
03 de fevereiro de 2014
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