Nada disso, porém, motivou essa mudança ministerial: o centro da questão é mobilizar o Estado, nos limites do possível, visando a reeleição da presidente Dilma Rousseff
Houve um tempo em que a política era monopólio dos diplomatas, militares e políticos propriamente ditos. Os partidos davam as cartas nos regimes republicanos ou nas monarquias parlamentaristas de forma quase absoluta; nas ditaduras, os militares. Com a ampliação da democracia, a partir do fortalecimento dos sindicatos e demais agências da sociedade civil, e também com a importância crescente dos meios de comunicação, esse monopólio foi quebrado. Surgiu a política dos cidadãos, cada vez mais poderosa com o advento da internet e o surgimento, no seu rastro, das redes sociais. O cientista político Marco Aurélio Nogueira, que tem um livro bacana intitulado As possibilidades da política (Editora Paz e Terra), além dos políticos e dos cidadãos, destaca que hoje também é importante o papel dos técnicos na política, ou seja da burocracia pública, principalmente a comprometida com o Estado de direito democrático.
Hoje, acabam os recessos do Legislativo e do Judiciário. O governo Dilma Rousseff envia sua mensagem ao Congresso com uma cara menos feminina, mais endurecida: a ministra Gleisi Hoffmann passa o comando da Casa Civil para Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação, cuja missão é subordinar as ações do governo ao projeto da reeleição; a jornalista Helena Chagas, querida e respeitada pela maioria de seus colegas, passa o cargo para o porta-voz Thomas Traumann, que vai adotar o estilo “bateu, levou”. É uma espécie de troca do elegante scarpin pelo tamanco na mão, a luta eleitoral começou.
É a política dos políticos. Estão em jogo não apenas a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas também a eventual volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, como ele mesmo anuncia. Se a candidata naufragar entre o carnaval e o fim da Copa do Mundo, Lula vira candidato já. É que há um mar proceloso lá fora, com a crise rondando os países emergentes, a começar pela Argentina, e as turbulências provocadas nos seus mercados da periferia pela recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa e o baixo crescimento da China; há também uma inquietação social aqui dentro, com 50 milhões de jovens querendo agarrar o seu futuro com as próprias mãos, dos quais 10 milhões não trabalham nem estudam por falta de oportunidades; e há, ainda, o desconforto causado pelos péssimos serviços públicos prestados à nova e à velha classe média, muito longe do que deveria ser a contrapartida da elevada carga tributária que nós pagamos.
Técnicos e cidadãos
Nada disso, porém, motivou essa mudança ministerial: o centro da questão é mobilizar o Estado, nos limites do possível, visando a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a ampliação do poder do PT, se possível em São Paulo e Minas Gerais, isto é, uma operação de cerco e aniquilamento da oposição. É aí que entra a política dos técnicos, em especial a alta burocracia do país, responsável por zelar pela legitimidade dos meios utilizados na ação política administrativa. Uma parte considerável da alta burocracia, sobretudo a mais estratégica, é ocupada por militantes petistas, que agora pretendem mostrar a que vieram. Mas tudo tem um limite e sempre haverá o testemunho solitário e a teimosia honrada do servidor de carreira empenhado em cumprir o seu dever, que não deixa fazer o que não se deve, como aquele diplomata que foi para a geladeira porque cumpriu seu dever na Bolívia. Talvez não seja tão fácil manipular a máquina federal eleitoralmente.
A troca de comando na Comunicação Social é outro passo para a implementação dessa estratégia, considerando-se que o governo tem para gastar, nos próximos meses, o equivalente à média anual de todos os recursos da sua verba de publicidade. Vem por aí um oba-oba federal, que aliás já começou, para sufocar a oposição, principalmente nas disputas regionais, de maneira a criar um ambiente de já ganhou favorável ao governismo. O Brasil passou por situação muito semelhante na Copa do Mundo de 1970, no México, em que fomos campeões do mundo. Foi o período mais tenebroso do regime militar, mas havia o “milagre econômico” e a propaganda funcionou. O general Garrastazu Médici, presidente da época, era tão popular que ia aos estádios de radinho de pilha no ouvido e era aplaudido ao chegar.
Mas resta a política dos cidadãos, que discutem, se organizam e se mobilizam pelas redes sociais, numa espécie de guerra de movimento “ que se contrapõe à “guerra de posições” na qual se encastelam o governo e a oposição. Pode ser aí que se decida as eleições.
Houve um tempo em que a política era monopólio dos diplomatas, militares e políticos propriamente ditos. Os partidos davam as cartas nos regimes republicanos ou nas monarquias parlamentaristas de forma quase absoluta; nas ditaduras, os militares. Com a ampliação da democracia, a partir do fortalecimento dos sindicatos e demais agências da sociedade civil, e também com a importância crescente dos meios de comunicação, esse monopólio foi quebrado. Surgiu a política dos cidadãos, cada vez mais poderosa com o advento da internet e o surgimento, no seu rastro, das redes sociais. O cientista político Marco Aurélio Nogueira, que tem um livro bacana intitulado As possibilidades da política (Editora Paz e Terra), além dos políticos e dos cidadãos, destaca que hoje também é importante o papel dos técnicos na política, ou seja da burocracia pública, principalmente a comprometida com o Estado de direito democrático.
Hoje, acabam os recessos do Legislativo e do Judiciário. O governo Dilma Rousseff envia sua mensagem ao Congresso com uma cara menos feminina, mais endurecida: a ministra Gleisi Hoffmann passa o comando da Casa Civil para Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação, cuja missão é subordinar as ações do governo ao projeto da reeleição; a jornalista Helena Chagas, querida e respeitada pela maioria de seus colegas, passa o cargo para o porta-voz Thomas Traumann, que vai adotar o estilo “bateu, levou”. É uma espécie de troca do elegante scarpin pelo tamanco na mão, a luta eleitoral começou.
É a política dos políticos. Estão em jogo não apenas a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas também a eventual volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, como ele mesmo anuncia. Se a candidata naufragar entre o carnaval e o fim da Copa do Mundo, Lula vira candidato já. É que há um mar proceloso lá fora, com a crise rondando os países emergentes, a começar pela Argentina, e as turbulências provocadas nos seus mercados da periferia pela recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa e o baixo crescimento da China; há também uma inquietação social aqui dentro, com 50 milhões de jovens querendo agarrar o seu futuro com as próprias mãos, dos quais 10 milhões não trabalham nem estudam por falta de oportunidades; e há, ainda, o desconforto causado pelos péssimos serviços públicos prestados à nova e à velha classe média, muito longe do que deveria ser a contrapartida da elevada carga tributária que nós pagamos.
Técnicos e cidadãos
Nada disso, porém, motivou essa mudança ministerial: o centro da questão é mobilizar o Estado, nos limites do possível, visando a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a ampliação do poder do PT, se possível em São Paulo e Minas Gerais, isto é, uma operação de cerco e aniquilamento da oposição. É aí que entra a política dos técnicos, em especial a alta burocracia do país, responsável por zelar pela legitimidade dos meios utilizados na ação política administrativa. Uma parte considerável da alta burocracia, sobretudo a mais estratégica, é ocupada por militantes petistas, que agora pretendem mostrar a que vieram. Mas tudo tem um limite e sempre haverá o testemunho solitário e a teimosia honrada do servidor de carreira empenhado em cumprir o seu dever, que não deixa fazer o que não se deve, como aquele diplomata que foi para a geladeira porque cumpriu seu dever na Bolívia. Talvez não seja tão fácil manipular a máquina federal eleitoralmente.
A troca de comando na Comunicação Social é outro passo para a implementação dessa estratégia, considerando-se que o governo tem para gastar, nos próximos meses, o equivalente à média anual de todos os recursos da sua verba de publicidade. Vem por aí um oba-oba federal, que aliás já começou, para sufocar a oposição, principalmente nas disputas regionais, de maneira a criar um ambiente de já ganhou favorável ao governismo. O Brasil passou por situação muito semelhante na Copa do Mundo de 1970, no México, em que fomos campeões do mundo. Foi o período mais tenebroso do regime militar, mas havia o “milagre econômico” e a propaganda funcionou. O general Garrastazu Médici, presidente da época, era tão popular que ia aos estádios de radinho de pilha no ouvido e era aplaudido ao chegar.
Mas resta a política dos cidadãos, que discutem, se organizam e se mobilizam pelas redes sociais, numa espécie de guerra de movimento “ que se contrapõe à “guerra de posições” na qual se encastelam o governo e a oposição. Pode ser aí que se decida as eleições.
03 de fevereiro de 2014
Luiz Carlos Azedo, Correio Braziliense
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