Acusação a Woody Allen e separação de Grazi e Cauã saltaram do âmbito particular para o espaço público da mídia
De um lado, uma grave denúncia de abuso sexual de criança; de outro, uma acusação de roubo de marido de colega. São duas histórias de artistas famosos que saltaram do âmbito particular para o espaço público da mídia — uma nos EUA e outra no Brasil. No primeiro episódio, a filha adotiva de Mia Farrow e Woody Allen, hoje com 28 anos, conta em carta ao “NY Times” como foi molestada pelo cineasta na infância. A suspeita surgiu em 1993, durante a separação do casal, mas só agora, pela primeira vez em público, Dylan Farrow dá a sua versão, e com tantos detalhes, que parecia não deixar dúvida de que se tratava do retrato de um tarado. “Quando eu tinha 7 anos, ele me levou pela mão para o sótão da casa (...), me mandou deitar de bruços e brincar com o trenzinho elétrico de meu irmãozinho e me agrediu sexualmente.” Dylan alega que só resolveu falar agora porque Allen foi indicado ao Oscar por “Blue Jasmine”. A aceitação geral dele a teria silenciado por esse tempo todo. “Desta vez me recuso a desmoronar.” E desafiou alguns atores do filme: “E se fosse com sua filha, Cate Blanchett? Louis CK, Alec Baldwin? Ou você, Scarlett Johanson?”
Como era esperado, Allen revidou qualificando a acusação de “mentirosa e infame”. Outras pessoas vieram em seu apoio, mas a principal defesa foi feita por Moses Farrow, de 36 anos, que abalou certezas, desmentindo a irmã Dylan e acusando a mãe de ter incentivado os filhos a odiar Allen por meio de lavagem cerebral. “Ele não molestou minha irmã. Eu o odiei por muitos anos. Hoje vejo que foi uma vingança dela por ele ter se apaixonado por Soon Yi (filha adotiva de Mia). No dia (do alegado abuso) havia seis ou sete de nós em casa.” O caso novamente dividiu opiniões, mas como tomar posição em histórias como essa de vida em família?
No Brasil, porém, uma separação bem mais civilizada, sem acusações mútuas nem implicações incestuosas, tem produzido reações medievais na internet. A atriz Isis Valverde sofreu há uma semana um acidente de carro, fraturou uma vértebra da coluna cervical e foi internada. Pois um grande número de internautas postou mensagens comemorando o fato — “bem feito”, “mereceu a lesão sofrida por ter destruído um lar” — com base no boato não confirmado de que ela teria sido o pivô da separação de Grazi Massafera e Cauã Raymond, com quem fez par romântico na série “Amores roubados”.
Isis defendeu-se da acusação: “Não há em minha biografia quaisquer resquícios de tais procedimentos. Isso não faz parte de minha ética afetiva.” Será que adiantou? A web é escoadouro de muita coisa boa, mas também do que o gênero humano tem de pior em matéria de frustração, inveja e baixaria em geral.
De um lado, uma grave denúncia de abuso sexual de criança; de outro, uma acusação de roubo de marido de colega. São duas histórias de artistas famosos que saltaram do âmbito particular para o espaço público da mídia — uma nos EUA e outra no Brasil. No primeiro episódio, a filha adotiva de Mia Farrow e Woody Allen, hoje com 28 anos, conta em carta ao “NY Times” como foi molestada pelo cineasta na infância. A suspeita surgiu em 1993, durante a separação do casal, mas só agora, pela primeira vez em público, Dylan Farrow dá a sua versão, e com tantos detalhes, que parecia não deixar dúvida de que se tratava do retrato de um tarado. “Quando eu tinha 7 anos, ele me levou pela mão para o sótão da casa (...), me mandou deitar de bruços e brincar com o trenzinho elétrico de meu irmãozinho e me agrediu sexualmente.” Dylan alega que só resolveu falar agora porque Allen foi indicado ao Oscar por “Blue Jasmine”. A aceitação geral dele a teria silenciado por esse tempo todo. “Desta vez me recuso a desmoronar.” E desafiou alguns atores do filme: “E se fosse com sua filha, Cate Blanchett? Louis CK, Alec Baldwin? Ou você, Scarlett Johanson?”
Como era esperado, Allen revidou qualificando a acusação de “mentirosa e infame”. Outras pessoas vieram em seu apoio, mas a principal defesa foi feita por Moses Farrow, de 36 anos, que abalou certezas, desmentindo a irmã Dylan e acusando a mãe de ter incentivado os filhos a odiar Allen por meio de lavagem cerebral. “Ele não molestou minha irmã. Eu o odiei por muitos anos. Hoje vejo que foi uma vingança dela por ele ter se apaixonado por Soon Yi (filha adotiva de Mia). No dia (do alegado abuso) havia seis ou sete de nós em casa.” O caso novamente dividiu opiniões, mas como tomar posição em histórias como essa de vida em família?
No Brasil, porém, uma separação bem mais civilizada, sem acusações mútuas nem implicações incestuosas, tem produzido reações medievais na internet. A atriz Isis Valverde sofreu há uma semana um acidente de carro, fraturou uma vértebra da coluna cervical e foi internada. Pois um grande número de internautas postou mensagens comemorando o fato — “bem feito”, “mereceu a lesão sofrida por ter destruído um lar” — com base no boato não confirmado de que ela teria sido o pivô da separação de Grazi Massafera e Cauã Raymond, com quem fez par romântico na série “Amores roubados”.
Isis defendeu-se da acusação: “Não há em minha biografia quaisquer resquícios de tais procedimentos. Isso não faz parte de minha ética afetiva.” Será que adiantou? A web é escoadouro de muita coisa boa, mas também do que o gênero humano tem de pior em matéria de frustração, inveja e baixaria em geral.
08 de fevereiro de 2014
Zuenir Ventura, O Globo
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