Na feliz descrição de José Roberto Mendonça de Barros, a economia brasileira entrou em uma armadilha de baixo crescimento. O governo culpa o cenário externo, mas ele apenas acentuou os efeitos dos equívocos internos.
O país padece de um diagnóstico equivocado sobre as razões da aceleração do crescimento após a chegada do PT ao poder.
Para o governo, isso seria o resultado da expansão do consumo, motivada por políticas de redistribuição de renda, particularmente os aumentos reais do salário mínimo e o Bolsa Família.
Essas políticas têm sua justificava, mas aquele desempenho nasceu de duas bonanças que nada têm a ver com a gestão petista. Uma delas, a externa, veio da ascensão da China --que viabilizou o forte incremento das exportações de commodities-- e da combinação de taxas de juros baixas e liquidez abundante nos mercados internacionais.
A bonança interna veio das reformas estruturais de governos anteriores, como a abertura da economia, o Plano Real, a privatização, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a construção do tripé da gestão macroeconômica. Uma verdadeira herança benigna.
Os ganhos de produtividade, em grande parte daí derivados, explicam mais de 80% da taxa de crescimento do período Lula.
As reformas tiveram continuidade até 2006, mas foram abandonadas com a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.
A produtividade, motor do crescimento, começou a cair, mas a fé no diagnóstico se manteve. O ritmo de crescimento foi preservado via estímulos ao consumo, mas à custa da criação de futuros e graves desequilíbrios.
A bem sucedida ação anticíclica, via consumo, para enfrentar a crise de 2008 convenceu o governo de sua estratégia. Imaginou-se que turbinar o consumo, em especial na administração Dilma, despertaria o instinto animal dos empresários, animando-os a investir.
Ocorre que o excessivo intervencionismo estatal, as mudanças de regras, a hostilidade ao capital privado e a perda de credibilidade da política econômica minaram a confiança. Sem esta, o investimento arrefece. A resposta à falta de reação do empresariado foi a avalanche de crédito subsidiado do BNDES, o que expandiu a dívida pública, e piorou a transparência e a credibilidade da política fiscal. Contribuiu pouco para o investimento.
O aumento do consumo beneficiou mais o setor de serviços, que foi capaz de conceder ganhos salariais acima da produtividade, pois podia repassar os custos aos preços (não se submete à concorrência externa). Daí vieram fortes pressões inflacionárias.
A indústria, ao contrário, viu subir o custo unitário do trabalho, o que fez cair sua competitividade. Esta foi ainda mais reduzida por pioras na infraestrutura, na logística e no sistema tributário. Grande parte da expansão do consumo se transformou em importação de bens, o que diminuiu drasticamente o superavit comercial e piorou o deficit externo. A desindustrialização avançou rapidamente.
A bonança interna se esgotou. A bonança externa diminuiu diante do menor crescimento da China e, do lado financeiro, com a mudança da política monetária americana, fruto da recuperação da economia.
O Brasil ganha com a recuperação, mas no curto prazo ela pressiona a taxa de câmbio e eleva o custo do crédito externo. Dada a frouxa política fiscal, será preciso elevar a taxa de juros, o que reduz o ritmo da atividade econômica, já em si prejudicada pela baixa produtividade.
A fragilidade da economia brasileira pouco tem a ver com o cenário externo.
O país padece de um diagnóstico equivocado sobre as razões da aceleração do crescimento após a chegada do PT ao poder.
Para o governo, isso seria o resultado da expansão do consumo, motivada por políticas de redistribuição de renda, particularmente os aumentos reais do salário mínimo e o Bolsa Família.
Essas políticas têm sua justificava, mas aquele desempenho nasceu de duas bonanças que nada têm a ver com a gestão petista. Uma delas, a externa, veio da ascensão da China --que viabilizou o forte incremento das exportações de commodities-- e da combinação de taxas de juros baixas e liquidez abundante nos mercados internacionais.
A bonança interna veio das reformas estruturais de governos anteriores, como a abertura da economia, o Plano Real, a privatização, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a construção do tripé da gestão macroeconômica. Uma verdadeira herança benigna.
Os ganhos de produtividade, em grande parte daí derivados, explicam mais de 80% da taxa de crescimento do período Lula.
As reformas tiveram continuidade até 2006, mas foram abandonadas com a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.
A produtividade, motor do crescimento, começou a cair, mas a fé no diagnóstico se manteve. O ritmo de crescimento foi preservado via estímulos ao consumo, mas à custa da criação de futuros e graves desequilíbrios.
A bem sucedida ação anticíclica, via consumo, para enfrentar a crise de 2008 convenceu o governo de sua estratégia. Imaginou-se que turbinar o consumo, em especial na administração Dilma, despertaria o instinto animal dos empresários, animando-os a investir.
Ocorre que o excessivo intervencionismo estatal, as mudanças de regras, a hostilidade ao capital privado e a perda de credibilidade da política econômica minaram a confiança. Sem esta, o investimento arrefece. A resposta à falta de reação do empresariado foi a avalanche de crédito subsidiado do BNDES, o que expandiu a dívida pública, e piorou a transparência e a credibilidade da política fiscal. Contribuiu pouco para o investimento.
O aumento do consumo beneficiou mais o setor de serviços, que foi capaz de conceder ganhos salariais acima da produtividade, pois podia repassar os custos aos preços (não se submete à concorrência externa). Daí vieram fortes pressões inflacionárias.
A indústria, ao contrário, viu subir o custo unitário do trabalho, o que fez cair sua competitividade. Esta foi ainda mais reduzida por pioras na infraestrutura, na logística e no sistema tributário. Grande parte da expansão do consumo se transformou em importação de bens, o que diminuiu drasticamente o superavit comercial e piorou o deficit externo. A desindustrialização avançou rapidamente.
A bonança interna se esgotou. A bonança externa diminuiu diante do menor crescimento da China e, do lado financeiro, com a mudança da política monetária americana, fruto da recuperação da economia.
O Brasil ganha com a recuperação, mas no curto prazo ela pressiona a taxa de câmbio e eleva o custo do crédito externo. Dada a frouxa política fiscal, será preciso elevar a taxa de juros, o que reduz o ritmo da atividade econômica, já em si prejudicada pela baixa produtividade.
A fragilidade da economia brasileira pouco tem a ver com o cenário externo.
08 de fevereiro de 2014
Maílson da Nóbrega, Folha de SP
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