MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A ÁGUA DE SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO - Carlos Galhardo foi ao Café Nice pedir uma marchinha ao compositor Antonio Nássara para o Carnaval. Nássara olhou para Galhardo e disse: "Você tem cara de árabe". E sapecou ali mesmo o que, com retoques do parceiro Haroldo Lobo, se tornaria "Alá-la-ô" --ou assim eles pensavam. Mas aquilo era só o rascunho. Nássara foi à casa de Pixinguinha, no Catumbi, para que este fizesse o arranjo. O maestro o recebeu de cueca, mandou vir papel e lápis, abriu o piano, reescreveu tudo e "Alá-la-ô" ficou perfeita, irresistível, pronta para ser gravada.
O que Galhardo fez na Victor, e pronto: desde 1941 nunca mais houve um Carnaval sem "Alá-la-ô". Só no Brasil isso seria possível: um compositor de origem árabe (Nássara) invocar Alá com tal intimidade ("Alá-la-ô, ooô, ooô/Mas que calor, ooô, ooô") e pôr o nome do profeta amorosamente na boca dos profanos.
Galhardo era daquela turma de cantores --Francisco Alves, Mario Reis, Silvio Caldas, Carmen Miranda, Orlando Silva-- que surgiu nos anos 30 e construiu a música popular. A ele devemos a marchinha de Natal "Boas Festas", de Assis Valente, a toada "Maringá", de Joubert de Carvalho, o samba "Sei Que É Covardia", de Ataulpho Alves e Claudionor Cruz, e uma quantidade de valsas que o Brasil deveria insistir em preservar --porque poucos ritmos se revelaram tão brasileiros.
Mas, de toda aquela geração, Galhardo é hoje o menos lembrado. Seus cem anos de nascimento, feitos em 2013, teriam sido ainda mais ignorados se não fosse a luta de sua filha, Carla Guagliardi, para tentar produzir shows, vídeos e discos a seu respeito. A luta continua.
Galhardo merecia uma caixa de CDs com, no mínimo, cem faixas, e, mesmo assim, muitos sucessos ficariam de fora. Mas vá dizer isso à Sony, a múlti que se senta em cima de boa parte do nosso patrimônio musical.
RIO DE JANEIRO - Carlos Galhardo foi ao Café Nice pedir uma marchinha ao compositor Antonio Nássara para o Carnaval. Nássara olhou para Galhardo e disse: "Você tem cara de árabe". E sapecou ali mesmo o que, com retoques do parceiro Haroldo Lobo, se tornaria "Alá-la-ô" --ou assim eles pensavam. Mas aquilo era só o rascunho. Nássara foi à casa de Pixinguinha, no Catumbi, para que este fizesse o arranjo. O maestro o recebeu de cueca, mandou vir papel e lápis, abriu o piano, reescreveu tudo e "Alá-la-ô" ficou perfeita, irresistível, pronta para ser gravada.
O que Galhardo fez na Victor, e pronto: desde 1941 nunca mais houve um Carnaval sem "Alá-la-ô". Só no Brasil isso seria possível: um compositor de origem árabe (Nássara) invocar Alá com tal intimidade ("Alá-la-ô, ooô, ooô/Mas que calor, ooô, ooô") e pôr o nome do profeta amorosamente na boca dos profanos.
Galhardo era daquela turma de cantores --Francisco Alves, Mario Reis, Silvio Caldas, Carmen Miranda, Orlando Silva-- que surgiu nos anos 30 e construiu a música popular. A ele devemos a marchinha de Natal "Boas Festas", de Assis Valente, a toada "Maringá", de Joubert de Carvalho, o samba "Sei Que É Covardia", de Ataulpho Alves e Claudionor Cruz, e uma quantidade de valsas que o Brasil deveria insistir em preservar --porque poucos ritmos se revelaram tão brasileiros.
Mas, de toda aquela geração, Galhardo é hoje o menos lembrado. Seus cem anos de nascimento, feitos em 2013, teriam sido ainda mais ignorados se não fosse a luta de sua filha, Carla Guagliardi, para tentar produzir shows, vídeos e discos a seu respeito. A luta continua.
Galhardo merecia uma caixa de CDs com, no mínimo, cem faixas, e, mesmo assim, muitos sucessos ficariam de fora. Mas vá dizer isso à Sony, a múlti que se senta em cima de boa parte do nosso patrimônio musical.
08 de fevereiro de 2014
Fernando Reinach, O Estado de S. Paulo
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