Rolezinho na intelectualidade nacional. Um post tão careta quanto a vergonha na cara.
De todas as bobagens que já li sobre os tais "rolezinhos", acho que o artigo de Eliane Cantanhêde para a Folha de S. Paulo de hoje, intitulado, "Rolezinho na elite" é a cereja do bolo. Para Eliane, pertencem ao "movimento" jovens da periferia que "querem igualdade, ocupar espaços, gritar e ser ouvidos." Ou ainda: "botar a cara de fora, curtir as férias e dividir o ar condicionado." Logo, conclui a jornalista, tentar proibir tais aglomerações em locais públicos é piorar as coisas - "colocar lenha da fogueira", diz ela.
Comecemos pelo fim: nas grandes democracias - e no Brasil também, embora aqui muitas vezes não se cumpra - a reunião de um grande número de pessoas em um mesmo local, seja ele público ou privado, pouco importando se para rezar, dançar ou macaquear, requer organização prévia. Isto porque é preciso garantir a segurança dos participantes - o que, muitas vezes, inclui, sim, a presença da polícia e até de paramédicos e bombeiros. Não se realizam nem shows, nem jogos de futebol, nem procissões sem que tal regra seja cumprida.
Eliane Cantanhêde conhece muito bem esta regra. Assim como ela tem plena consciência de que é impossível mensurar a adesão a um encontro divulgado na internet - o que torna a aplicação da dita regra muito mais necessária. Eliane tampouco ignora que se houver corre-corre, pisoteamento e feridos dentro de um shopping center, seus proprietários serão judicialmente responsabilizados.
Mas se não ignora nada disso, porque a jornalista insiste em nos fazer crer que existe uma certa categoria social, os "jovens da periferia", que estão acima de leis e princípios que todos os demais cidadãos precisam respeitar?
Na verdade, a postura da jornalista - com quem, é bom esclarecer, tenho concordado inúmeras vezes - apenas reflete o pensamento hegemônico dominante entre boa parte da pretensa intelectualidade nacional: que o morador da periferia, por ser um injustiçado social, está autorizado a infringir a lei para buscar os direitos que lhes são diariamente negados. E o pior: que toda e qualquer reação à infração advinda destes indivíduos configura preconceito - social, racial ou ambos.
O mais interessante: este pensamento tem origem não na periferia - onde a maioria dos moradores respeita leis e costumes,apresentando às vezes, códigos de conduta bastante rígidos, que podem ser considerados conservadores, do tipo: "lei é para ser respeitada". Este pensamento hegemônico tem origem nas universidades públicas, redutos dos filhos da elite, que tendem a olhar para os outros, aqueles da periferia, com a condescendência de quem olha para um incapaz. É ali, onde se reúnem aqueles que podem se dar ao luxo de estudar sem trabalhar, que são gestadas estas besteiras pseudo sociológicas que a tudo justificam.
Besteiras pseudo sociológicas, sim senhores. Não nasci em berço de ouro - longe disso. E é por isso que sei muito bem que ninguém precisa de condescendência para ocupar espaços e conquistar seu lugar na sociedade. Também sei muito bem que inclusão se conquista, antes de tudo, respeitando as regras do ambiente no qual se quer ser incluído. E o mais óbvio: a única coisa que se pode conseguir tumultuando um shopping center é confusão com a polícia.
Se os jovens das nossas periferias são incapazes de entender algo tão simples não é apenas porque carecem de boa educação e ensino qualidade mas, também, porque há muitos porta-vozes atuando em prol besteirol sociológico - vendo "manifestação legítima" no que é simplesmente falta de noção de alteridade, grosseria e desrespeito.
Para escrever convidando esta moçada a "dividir o ar condicionado" de uma biblioteca pública não aparece ninguém.
*Atualização às 22h19min: acabo de ver que o Rodrigo Constantino havia publicado, às 21:16, um post com um final muito parecido com este meu, publicado às 21:25. Acho que quase 11 anos de blog me permitem garantir aos leitores que não foi plágio - foi, isto sim, a obviedade da situação.
Comecemos pelo fim: nas grandes democracias - e no Brasil também, embora aqui muitas vezes não se cumpra - a reunião de um grande número de pessoas em um mesmo local, seja ele público ou privado, pouco importando se para rezar, dançar ou macaquear, requer organização prévia. Isto porque é preciso garantir a segurança dos participantes - o que, muitas vezes, inclui, sim, a presença da polícia e até de paramédicos e bombeiros. Não se realizam nem shows, nem jogos de futebol, nem procissões sem que tal regra seja cumprida.
Eliane Cantanhêde conhece muito bem esta regra. Assim como ela tem plena consciência de que é impossível mensurar a adesão a um encontro divulgado na internet - o que torna a aplicação da dita regra muito mais necessária. Eliane tampouco ignora que se houver corre-corre, pisoteamento e feridos dentro de um shopping center, seus proprietários serão judicialmente responsabilizados.
Mas se não ignora nada disso, porque a jornalista insiste em nos fazer crer que existe uma certa categoria social, os "jovens da periferia", que estão acima de leis e princípios que todos os demais cidadãos precisam respeitar?
Na verdade, a postura da jornalista - com quem, é bom esclarecer, tenho concordado inúmeras vezes - apenas reflete o pensamento hegemônico dominante entre boa parte da pretensa intelectualidade nacional: que o morador da periferia, por ser um injustiçado social, está autorizado a infringir a lei para buscar os direitos que lhes são diariamente negados. E o pior: que toda e qualquer reação à infração advinda destes indivíduos configura preconceito - social, racial ou ambos.
O mais interessante: este pensamento tem origem não na periferia - onde a maioria dos moradores respeita leis e costumes,apresentando às vezes, códigos de conduta bastante rígidos, que podem ser considerados conservadores, do tipo: "lei é para ser respeitada". Este pensamento hegemônico tem origem nas universidades públicas, redutos dos filhos da elite, que tendem a olhar para os outros, aqueles da periferia, com a condescendência de quem olha para um incapaz. É ali, onde se reúnem aqueles que podem se dar ao luxo de estudar sem trabalhar, que são gestadas estas besteiras pseudo sociológicas que a tudo justificam.
Besteiras pseudo sociológicas, sim senhores. Não nasci em berço de ouro - longe disso. E é por isso que sei muito bem que ninguém precisa de condescendência para ocupar espaços e conquistar seu lugar na sociedade. Também sei muito bem que inclusão se conquista, antes de tudo, respeitando as regras do ambiente no qual se quer ser incluído. E o mais óbvio: a única coisa que se pode conseguir tumultuando um shopping center é confusão com a polícia.
Se os jovens das nossas periferias são incapazes de entender algo tão simples não é apenas porque carecem de boa educação e ensino qualidade mas, também, porque há muitos porta-vozes atuando em prol besteirol sociológico - vendo "manifestação legítima" no que é simplesmente falta de noção de alteridade, grosseria e desrespeito.
Para escrever convidando esta moçada a "dividir o ar condicionado" de uma biblioteca pública não aparece ninguém.
*Atualização às 22h19min: acabo de ver que o Rodrigo Constantino havia publicado, às 21:16, um post com um final muito parecido com este meu, publicado às 21:25. Acho que quase 11 anos de blog me permitem garantir aos leitores que não foi plágio - foi, isto sim, a obviedade da situação.
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