Em meio a uma tremenda crise cambial, o governo argentino resolveu jogar a toalha e abandonar as pesadas restrições a compra de dólares, após o peso despencar. Agora, os argentinos poderão comprar dólares como poupança de acordo com suas rendas declaradas, depois de dois anos de grande controle e retumbante fracasso.
O Chefe de Gabinete Jorge Capitanich, de maneira um tanto ridícula, afirmou que a política de câmbio administrado pelo governo chegou a um patamar aceitável de convergência com os objetivos do governo. As reservas cambiais argentinas estão no menor patamar de 7 anos.
No mercado paralelo, o peso já se desvalorizou muito, chegando a 13 pesos por dólar. No câmbio oficial, o dólar vale apenas 7,88 pesos. A queda do peso ontem foi a maior desde 2002, forçando o governo a adotar esta medida:
A balança comercial entre Argentina e Brasil é superavitária para nosso país na ordem de US$ 200 a US$ 300 milhões por mês, ou seja, cerca de US$ 3 bilhões por ano. Sem dúvida esse saldo será afetado pela desvalorização acentuada do peso. Mas o principal contágio é financeiro mesmo.
O Brasil ainda não é a Argentina, possui grande reserva cambial, um câmbio menos controlado, mas muitos investidores já se deram conta de que a trajetória é similar. O governo Dilma flerta com o modelo nacional-desenvolvimentista adotado pela Argentina, e responsável pela situação caótica atual. Por isso, nossa moeda também sofre contágio, e já passa de R$ 2,42 por dólar:
Nunca o alerta de “eu sou você amanhã” foi tão importante para os brasileiros. Se a desgraça do modelo argentino não servir para que o Brasil altere os rumos de sua política econômica, então é porque merecemos o mesmo destino.
Espero que não. Espero que aprendamos a lição da forma mais inteligente, que é por observação. Temos um caso bem perto, de nossa vizinha mais tradicional, para saber o que não fazer. O nacional-desenvolvimentismo é um grande equívoco ideológico, e precisa ser abandonado o mais rápido possível.
A Argentina de Kirchner pensou que era possível ignorar o mercado e impor tudo de cima para baixo. Deu nisso. E o Brasil? Vai insistir no erro ou vai mudar a tempo?
24 de janeiro de 2014
Rodrigo Constantino
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