DESDE A METADE do ano passado, mais ou menos, tem se difundido a ideia entre alguns "formadores de opinião" de que o crescimento da economia não é um indicador relevante para avaliar o sucesso socioeconômico e das políticas do governo.
Articulistas relevantes na imprensa e até economistas, além de, claro, o governo em especial, de certo modo menosprezam o crescimento. Mais relevantes seriam o desemprego baixo, o aumento da renda do trabalho e do consumo e a redistribuição de renda por meio de benefícios sociais crescentes.
Até um articulista do "New York Times" levou água para esse moinho. Na segunda-feira, o colunista Joe Nocera publicou no jornal americano um artigo intitulado "O Brasil tem a resposta?", que inadvertidamente referenda a tese de que "a economia vai mal, o povo vai bem", texto que teve certa repercussão aqui no Brasil.
Nocera na verdade usa o Brasil como "escada" para fazer uma crítica ao seu país. Os EUA voltam a crescer, mas não há empregos, a desigualdade de renda cresce, a classe média desaparece, prega-se a redução de benefícios sociais. Do que valeria então crescer?
No Brasil, é diferente. O governo esquerdista "não perde grande tempo se preocupando com o crescimento em si mesmo, mas o relaciona à redução da pobreza e ao crescimento da classe média". Para tanto, diz Nocera, o país tem um salário mínimo alto, dificulta muito as demissões, controla o preço da gasolina e tem o Bolsa Família.
Antes de mais nada, diga-se que é mesmo revoltante que um país riquíssimo como os EUA tenha, relativamente, tanta pobreza.
Isto posto, e para mencionar de modo sumário a primeira de algumas ingenuidades de Nocera, note-se que a renda per capita dos americanos equivale a 4,5 vezes à dos brasileiros. Crescer não é mesmo o maior dos problemas dos EUA. Nós somos ainda pobres, lá pelo 75° lugar no ranking mundial de renda per capita. Mesmo se fosse possível redistribuir "tudo", de pronto (e não é), nossa paisagem seria cinzenta.
Segundo, sem crescimento, como deveria parecer óbvio, as possibilidades de redistribuição de renda tendem a ficar cada vez mais limitadas. Redistribuir renda, de resto, não é uma tarefa que se pode realizar à la Robin Hood, sem maiores complicações.
Mesmo que o aumento da tributação necessário para redistribuir seja feito do modo mais racional possível (nunca é), impostos maiores podem causar ineficiências econômicas, mudam os incentivos para investir e trabalhar, refazem a estrutura econômica de um modo que não pode ser o mais eficaz (quando não causam colapso no crescimento) e, obviamente, a partir de um certo limite causam conflito político agudo e muita vez contraproducente.
Isso não é uma recomendação de conservadorismo, mas uma observação rápida sobre como o caminho mais rápido para a redução da desigualdade e, em particular, da pobreza, pode não passar pela redistribuição acelerada. Mas o assunto pede pelo menos um outro artigo.
Para terminar, cabe lembrar que, pelo menos no caso do governismo, essa conversa de que o povo vai bem apesar do Pibinho só apareceu mesmo quando foram para o brejo os delírios de crescimento de 6% ou 4%.
24 de janeiro de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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