"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

OS ETERNOS ADOLESCENTES

    
          Artigos - Cultura
Imaturidade. A palavra virou clichê. Quando se quer interromper uma discussão, lança-se logo que o outro é imaturo. Quando não se quer estabelecer os limites de uma relação, solta-se o brado triunfante: “você é imaturo! não tenho tempo para ficar trocando juízo com crianças!” O problema é que boa parte das pessoas que acusam outras de serem imaturas são, também elas, um bando de criancinhas. Quem tenha maturidade exporá ao outro, sem chiliques, sem frescuras, os problemas e as discordâncias, e isso numa conversa franca, ponto a ponto.

O que faz com que o homem cresça, porém não cresça? O mesmo verbo é aqui usado em dois sentidos: crescer em estatura e crescer como pessoa. Muitas são as causas do fenômeno da eterna adolescência: os gurizões, gente com corpo de homem feito e cabeça de bebê. Numa listagem rápida, pode-se enumerar como principais:
-  O protecionismo exagerado dos pais – na maior parte dos casos, da mãe – que impede o filho de tomar as próprias decisões naquilo que pode decidir e o cria numa bolha, sem responsabilidades, sem conseqüências, com tudo sendo jogado para os braços do papai e da mamãe;

-  A absurda proibição de que os jovens trabalhem e o estímulo generalizado a que sejam promíscuos: quem pouco se acostuma ao suor e à dor e vive como se só existisse prazer não raro tem no lugar do cérebro um monte de algodão doce cor-de-rosa (ou embalagens de camisinha);

-  Um ambiente de instabilidade familiar, que gera insegurança e medo constante na criança: ela cresce vendo os pais sempre a ponto de separar-se e, quando mais velha, sempre vê o risco de perder algo antes da chance de ganhar;

- Ausência de correção na educação dos filhos: pais que sempre passam a mão na cabeça das crianças subvertem-lhe o senso moral, do que é certo e do que é errado; estão criando monstros egoístas e inescrupulosos.


São apenas alguns poucos motivos para o problema, entre tantos.
Um sintoma claríssimo da decadência na educação dos filhos é o esquecimento dos tradicionais ritos de passagem da adolescência para a vida adulta. Todas as culturas possuíam algum tipo de ritual de passagem que marcava o fim do menino e o nascimento do homem. No Ocidente, foram célebres neste sentido as ordens de cavalaria medievais, com ritos de admissão e criação do cavaleiro que influenciaram todo o conceito de virilidade do Ocidente.

Léon Gautier, no livro “Chivalry” – o melhor livro sobre cavalaria já escrito na história – fala do código de honra dos cavaleiros e enumera os seus dez principais mandamentos – após, é claro, os Dez Mandamentos da Lei de Deus. Entre os comandos, defender a Igreja e a santa religião, respeitar os fracos e defendê-los quando em perigo, ser generoso, estar sempre de prontidão a combater o inimigo e nunca titubear diante dele, obedecer às leis (desde que não sejam contrárias à Lei de Deus), amar a pátria, ter palavra e não mentir (são o mesmo comando, estas duas).

Mediante o rito de admissão, o jovem cavaleiro assumia para si todos valores expressos no código de conduta; ajoelhava-se como criança e levantava-se como homem, ciente dos valores que assumira para si e das responsabilidades que agora tomara.

Durante gerações famílias tiveram seus próprios ritos de condução dos jovens à vida adulta: as mães com suas filhas, os pais com seus filhos. Hoje o costume perdeu-se completamente. Quem não descobre sozinho, diante das intempéries, o caminho para ser homem feito (e mulher feita), ou fica eternamente adolescente ou eternamente depressivo ou eternamente sem rumo – e as três coisas não se excluem. Não há mais quem mostre para as crianças o caminho para ser homem, o caminho da responsabilidade e da maturidade.

O resultado são eternos adolescentes, seres mesquinhos que, com 30 ou 40 anos, continuam a agir como bebezinhos chorões ao enfrentarem qualquer dificuldade. O modo de encarar a morte é sinal disso:
chegamos a um momento da história em que ninguém quer encarar a morte, todos têm medo dela, mas todos a procuram pelos atos mais irresponsáveis e desvalorosos (os cavaleiros não procuravam a morte, mas tinha hombridade para enfrentá-la quando fosse preciso morrer por algo maior; e, sim, há coisas pelas quais vale à pena morrer).

Um problema como a eterna adolescência só pode ser resolvido mediante uma educação total da personalidade e, mais ainda, de toda uma sociedade. As pessoas são imaturas e a sociedade (por conseqüência lógica, já que é o consórcio das pessoas) é cada dia mais de uma imbecilidade sem tamanho. Coisas como a “Lei da Palmada” e o “Ai, se eu te pego” que o digam.

Embora não seja uma solução em si, recuperar um código de conduta sério e formular para a própria família um rito de passagem da infância para a vida adulta, onde estes valores são tomados sobre si, é um bom modo de começar, além de possuir um excelente impacto simbólico. A propósito, para quem lê gringolês, The Art of Manliness – um de meus sites preferidos – publicou tempo atrás um artigo sobre isso, intitulado “Coming of Age: The Importance of Male Rites of Passage”. Vale à pena a leitura.

Para os homens, o seguinte vídeo pode dar uma idéia do que falo sobre os valores que o homem deve assumir para si, sob pena de ser um eterno adolescente. É um vídeo curtinho, de apenas um minuto; um comercial do Chivas Regal da campanha “Live with Chivalry”:

{youtube}TXJdXHxjWwI{youtube}


05 de dezembro de 2013
Taiguara Fernandes de Sousa é diretor de marketing e relações públicas na revista Vila Nova, em cujo site foi publicado o presente artigo.

Um comentário:

  1. Senhores do LPVE, quero avisá-los que a Constituição Brasileira das 16 Horas de 5 de Outubro de 1988 proíbe três tipos de labores para menores de 18 anos: os insalubres (Cemitérios, Corais e Orquestras Adultos, I-Eme-Eles ou quaisquer outros Necrotérios, Laboratórios de vários tipos e outros), os noturnos (das 18h às 6h do dia seguinte) e os perigosos (Carbocloros, Conduções de Transportes Motorizados, Corpos de Bombeiros, Esportes Adultos, Fiscalizações de quaisquer tipos, Forças Armadas, Petrobrases, Polícias, Usiminas e outros). Por isso, nem todo todo labor é adequado a anteoctodécimos, pois tais deles podem ser prejudiciais a eles. Por isso existe uma propaganda de televisão que fala mais ou menos assim: "Infância não é para trabalhar. Infância é para brincar ou estudar.". Agradeço-lhes de todo o meu coração! Obrigado!

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