Reação ao desastroso resultado do Brasil no exame Pisa mostra uma mentalidade pequena
Para mim, não foi o 72º lugar na lista da Transparência Internacional. Trata-se apenas da confirmação de que 20 anos de governos dos dois partidos que se arrogavam o monopólio da virtude, PSDB e PT, não tiraram o Brasil da podridão secular.
Tampouco foi a última colocação no campeonato mundial de crescimento econômico. O retrocesso do terceiro trimestre já estava cantado e, portanto, só se espanta quem não presta atenção às coisas básicas.
Nem foi a desastrosa colocação no Pisa, o principal exame internacional de educação básica. Quem passou uma vez na calçada de qualquer escola pública e até de algumas particulares já sabia que não poderia ser muito diferente.
Pior que tudo isso foi a reação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que, na CBN, considerou o resultado "um grande triunfo".
Essa avaliação é, isto sim, um triunfo da mediocridade que caracteriza a maior parte dos homens públicos brasileiros. Preferem sempre fazer propaganda em vez de reconhecer os fatos como os fatos são.
E como são os fatos? Responde Paula Louzano, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP, em artigo para esta Folha:
"Quase 70% dos nossos jovens não sabem suficientemente matemática para continuar aprendendo na escola ou mesmo competir no mercado de trabalho, segundo padrões da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne países industrializados). Isso porque eles não são capazes, entre outras coisas, de usar a informação de uma tabela ou de um gráfico para calcular uma média ou uma tendência".
Poderia ser pior, sempre segundo Louzano: "É ainda mais grave constatar que 23% dos brasileiros de 15 anos não participaram do Pisa. Esta é a parcela de jovens que estão fora da escola ou têm mais de dois anos de atraso escolar. Ou seja, se todo esse contingente estivesse na escola como deveria, os resultados brasileiros poderiam ser ainda piores".
Até entendo que o ministro não poderia vir a público e dizer "fracassamos mais uma vez". Fingir que tudo vai bem faz parte do jogo dos governantes, mas ele poderia ao menos fingir com algum pudor, em vez de dizer que "nosso filme é muito bom". Fica ridículo.
Espero que, longe de câmeras e microfones, o pessoal do MEC avalie honestamente as causas do fracasso.
Contribuição para essa eventual avaliação, extraída de artigo para "El País" de Jaime Rivière, professor de Sociologia da Universidade de Salamanca.
Ao tentar entender os bons resultados dos países asiáticos, ele aponta como uma das possíveis causas "níveis de autoexigência e de respeito à autoridade do professor que não existem no mundo ocidental, e que supõem resultados melhores com o mesmo esforço público em educação".
Para quem, como eu, estudou em escola pública a vida toda, parece ponto essencial: devolver ao professorado o respeito reverencial que tínhamos por eles, além, como é óbvio, de salários dignos.
05 de dezembro de 2013
Clóvis Rossi, Folha de São Paulo
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